5 UM LIVRO SELADO COM SETE SELOS (Araceli)

Profecias do apocalipse Araceli Melo


Este novo capítulo encerra a continuação da visão precedente, no lugar santíssimo do santuário celestial. O tema que ele apresenta é um livro selado com sete selos. Uma só pessoa, em todo o universo de Deus, foi achada digna de abrir o livro e remover os seus sete selos.


Ao ter sido encontrada a pessoa digna, denominada de “Leão da Tribo de Judá”, a divindade e toda a criatura, na vastidão universal sem fim, prorrompeu uníssona num coro inigualável e numa gloriosa tributação de louvor e honra ao Todo-poderoso e a Seu Filho, o cordeiro que ia abrir o livro e desatar os seus sete selos.


UM LIVRO NA DESTRA DE DEUS


VERSO 1 — “E vi na destra do que estava assentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos”.


O livro que estava na mão de Deus não tinha a forma dos livros como hoje conhecemos. Toda vez que as Escrituras Sagradas se referem a livros, sempre aludem a rolos escritos em papiro ou pergaminho. O livro visto na mão de Deus estava escrito “por dentro e por fora”. 


Alguns comentadores opinam que a vírgula devia, por razão, ser colocada depois da palavra “dentro”, lendo-se então a frase: “Um livro escrito por dentro, e por fora selado”. Entretanto, “algumas vezes os rolos eram escritos de ambos os lados, e a maneira em que isto era feito é também explanada por um moderno viajante, que viu dois antigos rolos deste gênero na Síria, que narraremos em suas próprias palavras: ‘No mosteiro’, diz Mr. Hartley, ‘observei dois belos rolos originais, contendo a liturgia de S. 


Crisóstomo e que os gregos atribuíam a S. Tiago. Para ler você começa por desenrolar, e continua a ler e desenrolar, até enfim chegar à vareta em que o rolo está prezo; então você vira o pergaminho, e continua a ler do outro lado, rolando-o gradualmente até completar a liturgia’”.1)


Diante do exposto, não vemos razão para não aceitar que o livro que estava na mão de Deus era um rolo “escrito por dentro e por fora” ou de ambos os lados. O livro continha uma nova sequência profética completa em sete partes, como no caso das sete igrejas. 


Os selos não eram dispostos de modo que precisassem ser removidos para que o livro pudesse ser desenrolado a fim de ser revelado cada conteúdo a ele referente. Porém, o conteúdo de cada parte do livro estava totalmente coberto com o seu selo, podendo mesmo ser desenrolado todo o livro e ainda estar ele perfeitamente selado. Pois, como veremos no sexto capítulo, cada uma das sete partes do livro surgia in totum e imediatamente ao serem abertos os selos correspondentes.


UM DESAFIO AO UNIVERSO


VERSOS 2-4 — “E vi um anjo forte, bradando com grande voz: Quem é digno de abrir o livro, e de desatar os seus selos? E ninguém no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, podia abrir o livro, nem olhar para ele. E eu chorava muito, porque ninguém fora achado digno de abrir o livro, nem de o ler, nem de olhar para ele”.


Um preeminente e poderoso anjo lança ao universo inteiro um solene repto: “Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus selos?”. Note-se que o anjo não pergunta “quem é capaz” de abrir o livro e de desatar os seus selos”, mas — quem é digno — de o fazer. Mas o universo inteiro quedou mudo diante do solene desafio. Ninguém se reconhecera digno nem mesmo de olhar para o maravilhoso livro.


O amado apóstolo, diante do silêncio do universo para ele incrível, chora copiosamente. Temeu que a igreja do Senhor ficasse privada de conhecer o conteúdo do livro selado. Seu coração se comoveu e abateu-se profundamente seu espírito. Seu zelo por ser a igreja provida de maiores conhecimentos dos mistérios da redenção foi manifesto em pranto. 


Com suas lágrimas copiosas parece querer interferir junto de Deus para que não deixasse Seu povo na falta da revelação contida naquele livro. E o pranto do profeta diz-nos eloquentemente que o Apocalipse foi regado com lágrimas em sua receção. O livro continha uma revelação especial de Deus a Seu povo, e a ele não se dirige Deus por intermédio de qualquer ser, razão por que o universo se julgou indigno de o abrir.


Há um único Ser que é o Mediador entre Deus e o pecador, e somente Ele seria capaz de abrir o livro e desvendar seus segredos à igreja. As lágrimas do amado discípulo, porém, constituem um veemente apelo a todos aqueles que foram investidos com as dignidades do santo ministério, para que não permitam faltar à igreja um conhecimento abundante das sublimes verdades a ela indispensáveis.


A PESSOA DIGNA DE ABRIR O LIVRO SELADO


VERSOS 5-7 — “E disse-me um dos anciãos: Não  chores:  eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos. E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete pontas e sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados a toda a terra. E veio e tomou o livro da destra do que estava assentado no trono”.


O CONSÔLO DE UM DOS ANCIÃOS


O profeta estava banhado em lágrimas. Pois ele mesmo diz que “chorava muito”, porque ninguém se apresentava para abrir o livro. Mas o seu pranto era o pranto dos “bem-aventurados” que são “consolados” com indizível consolo.1)


Um dos vinte e quatro anciãos, que havia sido remido da terra e que tinha em seu coração a causa e a igreja de Deus no mundo, teve a alegria de enxugar as lágrimas do amado do Senhor. “Não chores”, foi a frase inicial consoladora do ancião, expressiva de profunda ternura de quem compartilhava da aflição de um ente querido da família da terra à qual também pertencia.


“Não chores”, dir-te-ei quem abrirá o livro e removerá os seus selos. Foi a providência de Deus que designou aquele ancião, dentre os circunstantes, para cientificar o profeta Quem e porque só Ele abriria o livro e removeria seus selos revelando seus mistérios.


O LEÃO DE JUDÁ E A RAIZ DE DAVI


Aqui temos um dos títulos do Salvador: “Leão da tribo de Judá”. Por que Jesus é chamado Leão? Não ignoramos que o leão é o rei dos animais, o mais poderoso deles e de todos o único invencível. Eis uma perfeita figura de Cristo. Posto que também tenha a natureza humana, ninguém O igualou em força e poder. Ele triunfou e triunfará sobre todas as forças do mal numa vitória total e esmagadora. Ele é, pois, o Leão invencível em Quem podemos confiar seguros de que a Seu lado triunfaremos infalivelmente.


Jesus é o “Leão da tribo de Judá” porque Ele procedeu desta tribo judia que se tornou afinal a tribo líder do povo de Deus, aliás, a primeira na ordem do Israel de Deus como vemos no Apocalipse. Mas Ele é também denominado: “Raiz de Davi”. Ora a raiz é quem sustenta a planta, sabemos. E aqui vemos em Cristo o sustentáculo de Davi em sua posição como monarca de Israel. E é notável que o reino de Davi era o reino de Cristo mesmo sobre Israel,2) um emblema do futuro reino de Cristo.3) E, ainda, o próprio Davi era uma figura profética de Cristo.4)


"QUE VENCEU"


Estas palavras lembram uma espetacular vitória ganha num tremendo conflito. E quem ignora que Cristo triunfou heroicamente na batalha contra Satanás, seus anjos e seus oponentes humanos? Sim, como Leão de Judá e Raiz poderosa de Davi, Ele venceu todos os Seus inimigos, e foi então capacitado “para abrir o livro e desatar os seus sete selos”. Assim foi o profeta consolado em seu pranto, e alegrou-se em ver o seu Senhor amado revelar à Sua igreja as maravilhas daquele extraordinário livro.


"UM CORDEIRO, COMO HAVENDO SIDO MORTO"


Não necessitamos pensar muito para sabermos que Cordeiro é este da visão. “O Salvador é apresentado perante João sob os símbolos do ‘Leão da tribo de Judá’, e de um ‘Cordeiro como havendo sido morto’. Estes símbolos representam a união do onipotente poder e do sacrifício de amor. O Leão de Judá, tão terrível para com os desprezadores de Sua graça, será o Cordeiro de Deus ao obediente e fiel”.1)


Mas, o Cordeiro, como reza outra versão, estava “em pé”. Não estava abatido pela morte, mas triunfante sobre ela. A frase: “Como havendo sido morto”, refere-se ao passado. A cena tão somente lembrava o Seu sacrifício de amor pelo homem, na cruz. Os símbolos que seguem, testemunham do poder com que foi investido o Cordeiro, como uma nova evidência do Seu triunfo sobre a morte e os potentados do mal.


"E TINHA SETE PONTAS E SETE OLHOS"


Novamente temos diante de nós o número sete que, como já vimos, representa um todo e uma unidade em sua plenitude. Com clareza que não deixa dúvida, é dito que o Cordeiro tinha “sete pontas e sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados a toda a terra”. No capítulo anterior notamos a representação do Espírito Santo em forma de sete lâmpadas de fogo, emblemas de poder e sabedoria. 


Agora o mesmo Espírito é representado em “sete pontas e sete olhos”. As sete pontas, são simbólicas da plenitude do Seu poder sobre todos os poderes, que Cristo exerce nos céus e na ferra, por Seu Espírito Santo. Os sete olhos são figuras da vigilância completa que o Senhor exerce “por toda a terra” através também de Seu Santo Espírito.2) Vemos assim que todo o poder do Onipotente Deus emana através de Cristo, Seu Filho. Cristo mesmo, ao ressuscitar, disse: “É-me dado todo o poder no céu e na terra”.3)


Deste modo os homens são advertidos de que o poder pertence a Cristo e não a eles, e de que estão sob a Sua mais acurada vigilância em suas ações.


O CORDEIRO TOMA O LIVRO


Alguns têm ficado perplexos quanto a um Cordeiro  poder tomar o livro da mão de Deus. As Sagradas Escrituras, no entanto, estão repletas de símbolos designando poderes e personagens em ação ou indicando o que tais poderes e personagens iriam realizar. Assim, não eram os símbolos que iriam realizar o que eles representavam, mas sim as personagens que eles figuravam.


O próprio Senhor Jesus é apresentado no Velho e no Novo Testamentos através de muitos símbolos, incluso o de Cordeiro. Quando lemos que Ele, como Cordeiro, tomou o livro, não imaginamos a ação executada propriamente por um Cordeiro, senão por Ele de quem o Cordeiro era símbolo. Só o Salvador era digno, nos céus e na terra, de tomar o livro selado e revelar o seu conteúdo a Seu povo amado.


O OFÍCIO DOS VINTE E QUATRO ANCIÃOS


VERSOS 8-10 — “E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o Teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação: e para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra".


ASSISTENTES NO SACERDÓCIO DE CRISTO


Já consideramos estes vinte e quatro anciãos como remidos da terra e assuntos ao céu com Cristo. Agora é nos dito que tinham “salvas de ouro cheias de incenso que são as orações dos santos”. Nisto eles se nos apresentam como assistentes no sacerdócio de Cristo no santuário celestial.


Quando estava em função o santuário terrestre, o sacerdócio compunha-se de um “sumo-sacerdote” e de muitos “sacerdotes” assistentes, cujo ministério era figura do de Cristo. 


Embora os sacerdotes assistentes tivessem várias responsabilidades no ritual — como oferecer incenso, dispor as ofertas sacrificais e de manjares, etc. — a intercessão era feita unicamente pelo sumo-sacerdote, no lugar santíssimo. Enquanto esta intercessão, porém, era realizada pelo sumo-sacerdote, no lugar santíssimo e no dia anual da expiação os sacerdotes comuns, seus auxiliares, nada realizavam no santuário. O ofício deles era diário e não anual. 


O mesmo verificamos no ministério do santuário celestial tipificado pelo terrenal. Cristo, o Sumo-sacerdote, é ali o único intercessor no grande dia da expiação que tomou início no ano de 1844. Disto é evidente que os vinte e quatro anciãos, seus auxiliares, não têm nenhum trabalho a realizar. 


A razão por que compreendem o número de vinte e quatro, encontramos na distribuição do sacerdócio elaborada por Davi em vinte e quatro turmas sacerdotais.1) Davi era, como já foi dito, uma figura de Cristo, e o sacerdócio de Cristo está em harmonia com a organização sacerdotal por ele elaborada. E’ notável o fato de a profecia mencionar que os vinte e quatro anciãos tinham salvas com incenso e não que tinham incensários com incenso. 


O incenso só é oferecido, no lugar santíssimo, que é o teatro da visão de 1844 até ao fim, pelo Sumo-sacerdote. Eles, porém, tinham provisões de incenso para o ofício do Sumo-sacerdote em favor dos santos. Parece termos aqui que eles proviam o incenso para uso do Sumo- sacerdote no santíssimo, como o faziam os sacerdotes comuns do santuário terrestre.


O NOVO CÂNTICO DOS VINTE E QUATRO ANCIÃOS


O novo cântico acompanhado do toque de suas harpas é uma expressão da experiência da salvação que em Cristo auferiram. E’ isto o que diz outra versão: “Porque foste morto, e nos resgataste para Deus com o Teu sangue, de toda a tribo, e língua, e nação”.1) De que tribo ou povos eram eles, não sabemos. Apenas somos informados de que eram santos cooperadores com Cristo, de cada século desde o princípio do mundo. 


No novo cântico expressam também que foram feitos reis e sacerdotes. O sacerdócio de Cristo, no qual tomam parte, é em face do reino da graça, um sacerdócio real.2) São, portanto, reis, do reino da graça, aliás, tanto mais que estão assentados em tronos onde só reis podem assentar-se. E o cântico deles finda com esta declaração: “E reinaremos sobre a terra”. Tornar a esta terra com Cristo e com Ele e a família de Deus remida reinarem eternamente num reino de paz e amor é a esperança dos vinte e quatro anciãos.


Cada cristão que na terra vive não deveria ter menor esperança do que reinar com seu Salvador na terra, eternamente. Mas, quantos cristãos estão pensando nos preparativos para o reino de Cristo


A VOZ DE MILHÕES DE MILHÕES DE ANJOS


VERSOS 11-12 — “E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o número deles milhões de milhões, e milhares de milhares, que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças”.


UM MARAVILHOSO CANTO


Em torno da corte universal milhões de milhões fazem ouvir as suas vozes, conjuntamente com os vinte e quatro anciãos, ao tomar O Cordeiro o rolo do livro. Imaginemos o que significa milhões de milhões de vozes soando uníssonas! Quão retumbante não fora este angélico canto no santuário de Deus! 


Enquanto os anciãos entoam uma sublime melodia expressiva da remissão em Cristo, os anjos santos, embora não experimentem o gozo de serem remidos, por não terem caído de seu estado santo, contudo expressam a dignidade do Cordeiro em receber as mais altas honras dos céus e da terra.


O MINISTÉRIO DOS ANJOS


Os santos Anjos, têm um santo ministério a cumprir. Segundo as Escrituras Sagradas, são os anjos seres reais, corpóreos, os primeiros da criação universal de Deus. Certamente para o nosso bem, não nos tem Deus permitido vê-los. Eles foram criados com glória e poder acima do homem.1) Se necessário, movem-se numa velocidade acima da luz.2) Magníficos em poder, são fiéis em cumprir as ordens do Criador.3)


Inúmera prova bíblica há de que os anjos são seres morais, corpóreos. Somos informados de que têm asas, e estas servem, é claro, para conduzir seus corpos no espaço. Eles comem, e isto é uma forte evidência de que possuem corpos.4) Isaías, por inspiração, fala nos seus rostos, nos seus pés e nas suas asas.5)


Há entre os anjos categorias. Existem os chamados “querubins”,6) “serafins”.7) Outros são denominados “anjos da guarda”.8) Um anjo bem conhecido por nome na terra é Gabriel, o anjo assistente de Deus.9) Há entre os anjos uma organização perfeita cujos textos citados ajudam-nos a entendê-la.10)


Os anjos estão ligados com todo o interesse ao plano da salvação do homem.11) Alegram-se indizivelmente quando um pecador se converte, aceitando a Jesus como Salvador.12)


Numerosa referência bíblica há de que os anjos servem a favor dos que hão de herdar a salvação.13) Ló e sua família foram por eles salvos da destruição de Sodoma;14) guardaram a Jacó e sua família ao regressarem do Oriente;15) muitas vezes, anjos manifestaram-se a Israel no deserto. 


Elias foi socorrido por anjos em sua aflição;16) Eliseu foi guardado de perecer, pelos anjos;17) Jerusalém foi protegida por um poderoso anjo;18) Daniel foi guardado uma noite inteira, por um anjo, na cova dos leões, em Babilônia;19) anjos libertaram os apóstolos da prisão;20) um anjo apareceu a Paulo quando em perigo de naufrágio.21) Os anjos estiveram ligados ao ministérios pessoal de Cristo na terra e muitas vezes socorreram o Salvador.22) A inúmeras outras pessoas bíblicas foram os anjos enviados com mensagens especiais. Estão ainda hoje em franca atividade, protegendo os servos de Deus que hão de herdar a salvação. Dois fatos recentes, a seguir, ilustrarão suas atividades em nosso tempo.


Em primeiro lugar temos um notável incidente com o missionário Von Asselt, na ilha de Sumatra, no século passado, contado por ele mesmo como segue:


“Depois de me achar neste novo lugar por alguns meses, chegou a mim, vindo do distrito onde estivéramos anteriormente, certo homem que eu ali conhecera. Encontrava-me sentado na frente da casa, e ele sentou- se ao meu lado, e durante algum tempo esteve falando disto e daquilo. Afinal, saiu-se assim:


Ora, Tuan (Mestre), tenho ainda um pedido.


Qual é?


Eu desejava ver de perto os seus guardas.


De que guardas fala o senhor? Eu não tenho nenhum guarda.


Refiro-me aos guardas que o senhor põe ao redor de sua casa durante a noite, para protegê-la.


Mas eu não tenho guardas, disse eu novamente; possuo apenas um pastorzinho, e um cozinheirinho, e fracos guardas haviam de eles ser.


“O homem olhou-me então com incredulidade, como se quisesse dizer: ‘Oh! não me queira fazer crer o contrário, pois eu sei bem’. Depois perguntou:


Dá-me licença de olhar por toda a sua casa, a ver se não estão escondidos aí?


Sim, por certo, disse eu, rindo; pode procurar, não há de encontrar ninguém.


“Procurou por todos os cantos, mesmo pelas camas, mas voltou para mim muito desapontado. Então comecei eu próprio a fazer-lhe uma espécie de inquérito, perguntando-lhe o que sabia acerca desses guardas, de quem falava, e eis o que me relatou:


Quando o senhor veio para o meio de nós, a princípio, Tuan, ficamos muito zangados contra o senhor. Não queríamos que viesse morar em nosso meio; não tínhamos confiança no senhor, e julgávamos que tivesse qualquer mau desígnio contra nós. Então nos reunimos e resolvemos matar o senhor e sua esposa. Assim, fomos noite após noite à sua casa; mas quando nos aproximávamos, ali estavam unidos em torno da casa, uma dupla fila de guardas com armas brilhantes, e não nos atrevíamos a atacá-los, para entrar na casa. 


Mas não queríamos abandonar nosso plano, de modo que fomos procurar um assassino de profissão (havia ainda entre os selvagens battakios, naquele tempo, uma especial corporação de assassinos, que matavam por salário, qualquer pessoa que se desejasse afastar do caminho), e perguntámos-lhe se queria matar o senhor e sua esposa. Ele riu de nós, por causa de nossa covardia, e disse: ‘Não temo nenhum deus e nenhum demônio. 


Hei de passar com facilidade pelo meio daqueles guardas’. Então nos reunimos todos naquela tarde, e o assassino, brandindo sua arma em torno da cabeça, ia adiante de nós. Ao aproximar-nos de sua casa, deixámo-nos ficar para trás, e que ele fosse sozinho. Dentro de pouco tempo, porém, ele voltou correndo, e disse: ‘Não, eu não me atrevo a atravessar sozinho; duas filas de homens, grandes e fortes lá estão, bem unidos, ombro a ombro, e suas armas brilham como fogo’. Então desistimos de matá-lo. Mas, agora, diga-me, Tuan, quem são aqueles guardas? O senhor nunca os viu?


Não, nunca os vi.


E sua mulher, nunca os viu?


Não, minha mulher nunca os viu.


Todavia todos nós os vimos; como é isso?


“Entrei, então, e trouxe uma Bíblia, e abrindo-a diante dele, disse: Veja aqui; este livro é a palavra de nosso grande Deus, onde Ele promete guardar-nos e defender-nos, e nós cremos firmemente nessa palavra; portanto, não precisamos ver os guardas. Mas os senhores não creem, e assim o grande Deus tem de mostrar-lhes os guardas, para que aprendam a crer”.1)


Durante a Segunda Guerra Mundial deu-se talvez o caso mais surpreendente da proteção de um anjo de Deus. Um pastor nativo da Igreja Adventista do Sétimo Dia, do Arquipélago da Melanésia, das Ilhas Salomão, recebe, da direção da denominação, a alta incumbência da direção de todo o trabalho naquelas ilhas do Oceano Pacífico, ao terem de se retirarem os missionários estrangeiros.


Entretanto, Kata Ragoso, o pastor nativo que agora encarava com seriedade “seus deveres materiais e espirituais”, que sobre seus ombros pesavam, foi levado, em virtude dos mesmos deveres, a entrar “logo em conflito com certo oficial” japonês “que lhe ordenara fazer algo contrário à consciência. 


Não sendo atendida a intimação, foi o chefe nativo recolhido ao cárcere. Agravou-se a situação. O inimigo avançava. O oficial ficara furioso porque Ragoso persistia em se recusar a assumir certa atitude que supunha conseguir facilmente de um humilde nativo. Afinal foi o prezo amarrado e impiedosamente açoitado. O militar pretendia, agora que o prisioneiro se esvaía em sangue, uma absoluta submissão. Ao ouvir mais uma intimação, olhando ao militar bem nos olhos, Kata Ragoso respondeu calma e resolutamente que sentia muito, porém a consciência cristã não lhe permitia obedecer.


“Irado, o oficial saca do revólver e fere o prezo na cabeça, espanca- o cruelmente e prostra-o inconsciente. Só mesmo a intervenção de outro oficial evitou que a violência prosseguisse até a morte do inocente. Recobrados os sentidos foi novamente a vítima intimada a cumprir as ordens. Como a resposta continuasse em negativa inflexível, o oficial, ardendo em cólera, decidiu que Ragoso fosse finalmente fuzilado.


“Formou-se o pelotão que executaria a sentença. Calmo e despreocupado lá estava um homem de porte cortês, olhar claro e suave, espírito abnegado e caráter nobre. Foi a vítima amarrada ao poste de execução. Era notável em Kata Ragoso um semblante que irradiava serenidade. Seus lábios se moviam ligeiramente. Ali estava a oração, única arma que o cristão de hoje trocara pelas outras do canibal de ontem.


“De fuzis apontados para o coração do condenado, os soldados aguardavam apenas a clássica contagem — um, dois, três — para darem aos gatilhos. Houve silêncio e a ordem começou: Um! Dois Tr ...


“Entretanto, a palavra fatal — o três — não pôde ser pronunciada. Engastalhou misteriosamente na garganta do oficial. Sua confusão era visível e os comandados, desviando agora a vista da mira, voltaram a olhar para a boca do superior, buscando ouvir o complemento da ordem. E embaraçado começou nervosamente: Um! Dois! Tr...


“A língua tornara a trair-lhe a vontade, recusando pronunciar a curta palavra suficiente para eliminar uma vida. Algo misterioso estava ocorrendo. Kata Ragoso, firme como uma estátua, aguardava a morte. Ela não chegava porque os tiros não eram disparados; estes não eram disparados porque faltava uma palavra; esta não era articulada porque o comandante era incapaz de pronunciá-la! Um mistério que não podiam explicar.


“Então atônito, quase em desespero, fazendo um esforço ingente para gritar, o oficial recomeçou: Um! Dois!...


“Agora havia ocorrido algo diferente: perdeu completamente a fala. O espanto apossou-se das testemunhas do fuzilamento e dos comandados. As armas foram baixadas e todos ficaram perplexos. O superior perdera a fala e deixou o local. Ficou mudo um dia e meio. Ragoso foi levado de novo para a prisão”.


Os nativos cristãos, das Ilhas Salomão, convocaram uma reunião em que tratariam do caso de Ragoso. “Decidiram que certa noite, quando a lua começasse a iluminar as montanhas, todos — homens, mulheres e crianças — na mesma hora, deveriam orar pedindo a interferência do céu em favor do amado chefe, injustamente condenado à morte, injustamente prezo. 


E no tempo aprazado, quando a lua lançava seus poéticos raios de luz sobre os elevados montes daquela região, um vulto desconhecido começou a se mover no cenário da noite, levando um molho de chaves. Ninguém o conhecia. Era alto e imponente. Caminhou calmamente para o presídio sem ser impedido. Abriu a porta da prisão e depois chamou em voz alta: RAGOSO!


“O prisioneiro atende e vai ao encontro do desconhecido. Saíram juntos. O cárcere foi fechado e o misterioso personagem pega de Kata Ragoso pelo braço e o conduz a salvo a uma praia distante. Ao chegarem perto da água, parou e disse haver uma canoa não longe dali, que o chefe nativo poderia usar para regressar em paz ao lar.


“Com efeito, lá estava um excelente barco e seus remos. Entretanto, voltando-se Ragoso para apertar a mão e dizer algumas palavras de profunda gratidão ao seu providencial libertador, notou que ele desaparecera. Ninguém jamais tornou a vê-lo”.1)


Este incidente é altamente comprobatório, conjuntamente com o anterior referido, que ainda, mesmo em pleno século XX, Deus tem ordenado a Seus anjos que salvem seus escolhidos fiéis de perigos que ameaçam as suas próprias vidas. Vemos nestes dois casos citados a repetição de tantos salvamentos efetuados pelos anjos de Deus em todo o passado.


O UNIVERSO EM DELÍRIO


VERSOS 13-14 — “E ouvi a toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre. E os quatro animais diziam: Amém. E os vinte e quatro anciãos prostraram-se, e adoraram ao que vive para todo o sempre”.


Em seguida à manifestação dos anjos, o universo prorrompe numa delirante ovação a Deus e ao Cordeiro, no que foi aplaudido pelas quatro criaturas viventes e pelos vinte e quatro anciãos com Amém e adoração. 


Em outras palavras, todo o universo pôs-se em delírio de louvor ao tomar o Cordeiro o livro para abri-lo e revelar o seu conteúdo. E nós, que aqui na terra vivemos, exatamente na época em que foi aberto o sexto selo e que se cumprem os símbolos nele revelados, devemos associar-nos àqueles santos tributos de honra, louvor e ações de graças dirigidos ao Todo-poderoso e ao Cordeiro divino morto e redivivo por nós.


Esse é o conteúdo do livro A Verdade Sobre as Profecias do Apocalipse, de Araceli Melo - Confira aqui o índice Completo.