7 “Uum espírito maligno da parte de Deus”?

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Que espírito era aquele “enviado do Senhor” para ser espírito mentiroso na boca do profeta de acordo com I Reis 22:19-28? Como entender I Samuel 18:10 que fala de

“um espírito maligno da parte de Deus”?


Inegavelmente nos encontramos diante de declarações que causam dificuldades aos leitores da Palavra de Deus.


Para boa compreensão destas passagens é necessário ter em mente os seguintes fatos:

1. Tanto anjos bons quanto maus estão sujeitos ao poder de Deus. O próprio poder de que Satanás dispõe lhe é permitido por Deus.

2. Veracidade destaca-se como atributo divino (Núm. 23:19), enquanto Satanás é o originador da mentira (João 8:44).

3. É difícil, por vezes, transmitir em português o que os escritores bíblicos expressaram em hebraico e grego, por serem línguas com peculiaridades distintas.


Partindo do princípio que a divindade não está imbuída de nenhum espírito maléfico, a lógica determina que nenhum ente espiritual malfazejo integra a Essência Divina, logo nenhuma personalidade angelical maligna pode emanar de “elohim”, precisamente o termo hebraico ocorrente em I Samuel 18:10.


O que se deve ter em conta nesta investigação teológica é que a expressão, em português, “da parte de” não aparece no original hebraico. 


O famoso interlinear de Green traz, cautelosamente, a proposição inglesa “from” entre parênteses, querendo com isso denotar que não pertence ao Texto Massorético.


A melhor explicação para I Samuel 18:10 é a que fornece o teólogo A. Neves de Mesquita em sua obra “Estudo nos Livros de Samuel”, quando comenta 1O Samuel 16:14-23. Ele diz: “Deus manda tanto nos espíritos bons como nos maus. Nada escapa do governo divino, e os demônios são usados para perseguir os que estão desviados. O mundo invisível é muito misterioso para nós que só entendemos as coisas de acordo com a vista. 


Pode-se entender pelo texto que Deus tanto mandou um espírito mau para Saul, como o permitiu. Tanto vale uma coisa com outra”, diz o teólogo. 

E ele continua: “Em Jó 1:7, Deus dialoga com Satanás a respeito das atividades deste na Terra. Parece estranho, mas não é. Deus tem sob Seu domínio anjos e demônios, como tem homens, e usa-os no Seu governo providencial, do modo que quer”, finaliza A. Neves de Mesquita.


Há uma particularidade no sistema verbal hebraico que deve ser lembrada. 

O chamado “hifil” é causativo, mas também é permissivo. 

É tarefa árdua distinguir nos escritores do Antigo Testamento o que é executado por Deus e por Ele permitido. Essa informação lança luz sobre o endurecimento do coração de Faraó.


Um outro abalizado comentário bíblico afirma: “Na linguagem bíblica, muitos atos são atribuídos a Deus, não com a idéia de que Deus os executa, mas de que em Sua onipotência e onisciência, não os impede.” (Com. Adventista, vol. 4, pág. 647).


A expressão, “o Senhor pôs o espírito mentiroso na boca de todos os profetas”, de 1O  Reis 22:23, é uma adaptação antropomórfica, que traz indestrinçável incógnita. O tal espírito pertencia às hostes do Bem ou do Mal?


Na exegese precedente (I Sam. 18:10) “um espírito mau” pode ser entendido: um anjo bom autorizado ou ordenado à prática de um ato mau. O anjo que sai para ferir mortalmente os primogênitos dos egípcios pertencia às potestades benéficas, comissionado a ceifar vidas humanas, para o cumprimento da justiça de Deus, foi em certo sentido um “anjo mau” da parte de Deus. 


Preliminar e sumariamente, é útil salientar que Deus não necessita de anjos maus para executar seus juízos, para infringir punição aos iníquos. Assim como Satanás se transforma em anjo de luz para o exercício de ações criminosas, e seus ministros se transfiguram em agentes justiceiros, para a consecução de resultados nefastos e nefandos, que embargo se impõe no fato de conjeturarmos e em tese sustentarmos que as falanges celestiais divinas sejam figuradamente denominadas maléficas, se por determinação de Jeová desempenham em dado momento uma missão catastrófica como a morte fulminante dos 185 mil inimigos de Israel acarretada por um só anjo, da parte de Deus (II Reis 19:35).


É útil também mencionarmos aqui o comentário de Adão Clark sobre I Reis 22:23: “Ele permitiu ou tolerou que um espírito mentiroso influenciasse Seus profetas. É indispensável novamente lembrar que as Escrituras reiteradamente representam a Deus como o autor daquilo que Ele, no desenrolar de Sua providência, apenas permite ou tolera que ocorra. Nada pode ser feito no Céu, na Terra ou no Inferno, que não seja por Sua atividade imediata ou por Sua permissão.”


Muitas vezes anjos bons são solicitados a fazer o mal para a obtenção do bem. Similarmente anjos maus operam o bem para a aquisição do mal, em inumeráveis circunstâncias.