4 O "EU SOU"

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Consideremos outro claro texto neotestamentário que proclama, sem sombra de dúvida, a preexistência do Filho de Deus, a que os russelitas dão uma interpretação "sui generis" com o objetivo de elidir a conclusão da Divindade de Jesus. Encontra-se em S. João 8:58, e diz: "Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Antes que Abraão existisse, Eu sou". 


O texto é de clareza meridiana para os cristãos, mas não para os jeovistas que, para expungirem o sentido irreversível da preexistência e Divindade do Mestre, claramente explícita na expressão "EU SOU", recorrem a um expediente extremamente reprovável. 


Simplesmente inventaram um tempo de verbo inexistente no grego, a que denominam "tempo perfeito indefinido", e fazem a texto dizer: "Antes que Abraão existisse, Eu tenho sido". Sem a menor cerimônia, eliminam a forma presente do verbo "ser", isto é, "Eu sou". 


Isto pode ser visto na famigerada Tradução Novo Mundo (New World Translation), editada por eles, na qual, à página 312, há um rodapé, e na parte c declara-se de maneira dogmática, que a expressão grega "EGO EIMI" (EU SOU), no caso vertente deve ser "traduzida com propriedade no 'tempo do perfeito indefinido' (eu tenho sido) e não 'eu sou'." 

O mesmo ocorre na traduçãozinha brasileira "Novo Mudo". 

Isto, antes de mais nada, constitui uma afirmação atrevida, sem o menor fundamento nos fatos. 

Reproduzamos o texto original de S. João 8:58: 

Eipen aytois   Iesus     Amén              Amén            lego ymin, 

Falou-lhes      Jesus:  Em verdade,   em verdade   digo-vos: 

    prin             Abraam         genesthai               Ego  eimi. 

Antes que        Abraão        tivesse nascido        Eu    sou.

Notemos, de passagem, o emprego de "genesthai", que indica nascimento, geração, atribuído a Abraão, em comparação com "eimi" que significa "ser existente" atribuído a Jesus. 

O grande gramático Dr. Robertson declara que "EIMI" é absoluto, o que simplesmente quer dizer que não há predicado algum expresso com ele. E este mesmo emprego de "EIMI" ocorre mais três vezes no mesmo Evangelho de S João: 

8:24 – "... se não crerdes que Eu sou [Ego eimi] morrereis nos vossos pecados". 

13:19 – "Desde já vos digo, antes que aconteça, para que quando acontecer, creiais que Eu sou [Ego eimi]". 

18:5 – "Então Jesus lhes disse: Sou Eu [Ego eimi]". 

Experimente o leitor sincero alterar a expressão dos textos acima pela "Eu tenho sido". Não, em todos estes passos, a expressão é a mesma empregada pela Septuaginta, ou Versão dos LXX (em grego) nos textos Deut. 32:29, Isaías 43:10; 46:4, e outros. Indica um tempo presente, e mais ainda, um presente perdurável, infindável, especialmente em S. João 13:19, onde Jesus diz aos discípulos coisas "antes que aconteçam" para que "quando acontecessem", eles deveriam crer que "EU SOU" (EGO EIMI]. Ora, Jeová é o único que conhece "o fim desde o princípio" (Isa.. 41:10), donde se conclui, em que pese a esdrúxula tese russelita, que, ao dizer Jesus "Ego eimi", estava Se identificando com Jeová. 

O grego jamais admitiria esta violência "Eu tenho sido", e a única tradução possível é "Eu sou", e uma vez que Jeová é o único "Eu sou" (Êxo. 3:14; Isa. 44:6), segue-se que Ele e Cristo são "Um" em substância, poder e eternidade. É o que a Bíblia revela, e preferimos crer nela. 

As chamadas "testemunhas de Jeová" argumentam ainda que, em S. João 8:58, a frase "Eu sou" pode estar empregada no chamado "presente histórico", tendo um duplo sentido. Isto é uma cavilação, porquanto, embora exista o tempo de verbo denominado "presente histórico", de modo algum pode aplicar-se na texto em lide. Simplesmente porque Jesus não estava narrando. Estava falando, discutindo, advertindo os discípulos. O presente histórico, de acordo com comezinha regra gramatical, é empregado nas narrativas somente e não no discurso comum. E assim rui por terra mais uma grotesca pretensão russelita. 


Ainda a Septuaginta


Insistimos em comparar à expressão "Eu sou" [Ego eimi] referindo-se à Jeová, na Septuaginta, ou Versão dos LXX, em grego. Em vários textos, como Gên., 17:1; Sal. 35:3; Isa. 16:1; 43:10-13; Jer. 3:12; 23:23, e outros, consta "Ego eimi", sendo que na maior parte das vezes é simples tradução tio pronome hebraico pessoal, caso reto, primeira pessoa, singular "ANI" (Eu). Por quê? Porque o hebraico tem duas formas para este pronome pessoal, a forma simples "Ani", e a chamada forma reforçada ou enfática "Anoki". Na gramática hebraica (em francês) de J. Touzard, página 158, há a seguinte observação a respeito: 

"As formas verbais hebraicas incluem o sujeito e, por esta razão, os pronomes pessoais separáveis [ani, anoki] não são empregados a não ser quando se queira dar ênfase ou relevo ao autor da ação expressa pelo verbo." 

Segue-se; pois, que, nas passagens atrás referidas, aparece separado o pronome pessoal "Ani" (Eu) com o objetivo de dar ênfase à Pessoa que, no caso em tela, é Jeová. Necessariamente a tradução "Ego Eimi" é corretíssima e significa "Eu sou". Daqui não há fugir. 


O Sentido Exato de "EU SOU"


Comentando S. João 8:58, diz J. H. Bernard, em A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel of St. John (Comentário Crítico e Exegético do Evangelho de S. João), volume II, p. 118: 

"É evidente que o EGO EIMI (Eu sou) usado por Jesus reflete a maneira apropriada e peculiar de Deus falar de Si mesmo no Velho Testamento e, na boca de Jesus referindo-se à Sua própria Pessoa, esta expressão implica na sua Divindade, sendo exatamente isto o que Jesus quer significar". 

Que Jesus, ao dizer EU SOU, quis expressar aos judeus: "EU SOU JEOVÁ", não padece dúvida, pois assim eles entenderam. E tanto entenderam que, por isso, quiseram apedrejá-Lo. Sim, porque Jesus abertamente Se proclamara Deus, em igualdade com Jeová, e isto eles consideraram uma blasfêmia, pecado punível com a morte, consoante a lei civil judaica (Lev. 24:16). 

Diante deste fato irretorquível, as chamadas "testemunhas de Jeová" procuram uma escapatória dizendo que os judeus queriam apedrejar a Jesus porque, no verso 44, Ele os chamou de filhos do diabo. Ora, se isto fosse exato, então porque não O apedrejaram em outras ocasiões em que Ele os chamou diretamente de "raça de víboras"? (S. Mat. 23:33, por exemplo). É simples a resposta. É que, nessas ocasiões, não havia uma base legal para o apedrejamento, pais não configurava o crime de blasfêmia, por mais dura que fosse a reprovação. 

A questão fica inapelavelmente liquidada com as próprias palavras dos judeus, registradas em S. João 10:35: "Responderam-Lhe os judeus: Não é por obra boa que te apedrejamos, e, sim, por causa da blasfêmia, pois, sendo tu homem, TE FAZES DEUS A TI MESMO." (Grifos e versais nossos). Diante disso, não há o que argumentar!  

Mas os jeovistas não se dão por vencidos e vêm com nugas que nada provam. Analisemos as principais: 

a) Dizem que Uma Tradução Americana assim verte o texto em lide: "Eu existia antes que Abraão nascesse". Ora, isso não favorece, de modo algum, as unitarianos, porque o passado imperfeito denota aí uma continuidade indefinida ANTERIOR ao nascimento de Abraão. Sobre quanto tempo antes de surgir Abraão, não se tem medida! 

b) Citam a versão de Stage, que reza: "Antes que Abraão viesse a existir, Eu era". Também não vemos como isso abona a tese ariana. Apenas confirma a preexistência de Cristo de modo ilimitado. 

c) Citam também Lamsa: "Antes de Abraão nascer, Eu era". Isso não estabelece uma época em que Jesus teria sido criado; apenas afirma a preexistência do Filho de Deus, em tempo imensurável. Nada mais. 

Essas versões dizem, em suma, que Cristo EXISTIU num tempo remoto, imensurável, que foge a um ponto de fixação. Abraão tornou-se um ponto de referência, unicamente porque os judeus perguntaram a Jesus: "Ainda não tens 50 anos, e viste a Abraão?" Se o assunto fosse, por exemplo Satanás, Jesus teria dito: "Antes que Satanás existisse, Eu sou, ou Eu já existia, ou Eu era" – o que, afinal, dá no mesmo. 

Alegam as "testemunhas" que dois tradutores hebraicos admitiram a tradução "tenho sido". Isso nada prova. O fato de dois tradutores terem, por iniciativa própria e com seu risco, vertido "tenho sido" onde essa tradução é inviável, somado ao fato de também os jeovistas inventarem um tempo de verbo INEXISTENTE NO GREGO, e por eles denominado "perfeito indefinido" apenas para justificar esse disparate ("eu tenho sido") que desborda de todos os cânones lingüísticos, não destrói o fato de ser a tradução correta, única, irreversível: "Eu sou". 

Chamamos a atenção dos sinceros para este interessante paralelo. Em S. João 8:58 lemos: "Antes que Abraão existisse (gr. ginomoi, tornar-se, vir a ser, produzir-se), Eu sou (gr. ego eimi). Pois bem, no Salmo 90:2, a Septuaginta assim verte: "Antes que os montes viessem à existência [gr. ginomoi], desde a eternidade até a eternidade Tu és (gr. eimi) Deus". Os mesmos verbos, em emprego semelhante. Por que as "testemunhas" não afirmam que também aqui se deveria traduzir "Eu tenho sido"? Por aí se vê a inconsistência do "argumento". 

Mas em Êxodo 3:14 no hebraico está ehêiêh, palavra composta de pronome e verbo "ser", significando "Eu sou". Não tem cabimento a tradução "Eu tenho sido". Os mais autorizados léxicos hebraicos aplicam a expressão a Deus, como o "Eu sou", ou "O que existe por Si".  

Mas os jeovistas inventam nova arenga: de que a Septuaginta verte Êxodo 3:14 por "ho on", ou "o Ser". Na verdade, "ho on", em grego, significa "o que é", "o que está", "o que existe". Há algumas ocorrências no NT, e entre elas: 

1. S. João 1:18: "O Deus unigênito que está no seio do Pai" (Gr. monogenes Theos ho on eis ton kolpon tou Patros). Refere-se a Cristo como O que existe, o que é, o que está no seio do Pai, COMO DEUS UNIGÊNITO. Isso sinceramente não favorece o unitarismo. Ao contrário, reforça a Deidade de Cristo. Porque se a expressão "ho on" (aquele que existe) se torna um título da Deidade, como em Êxodo 3:14, pode perfeitamente aplicar-se a Cristo. O "ego eimi" (Eu sou) como forma intransitiva pode igualmente tornar-se um título da Deidade. Portanto, ainda que a Septuaginta haja vertido "ho on" isso não destrói o fato de Cristo poder reclamar para Si título idêntico. 

2. S. João 3:13: "A não ser o que desceu do Céu" (gr. "ei me HO EK tou ouranou"). Aí há a forma "ho ek", o que procede, o que vem do Céu. Ora, se os unitarianos apresentam isso como argumento, verão que lhes é contrário porque o texto reafirma a origem divina de Jesus: o que procede do Céu. 

3. S. João 3:31: "Quem vem da terra, é terreno e fala da terra" (Gr. "ho on ek te ges, ek te ges estin kai ek tes ges lalei".) A expressão "ho on" (Aquele que é) aplica-se perfeitamente a Cristo. "Aquele que é, que era, e que há de vir" também se pode aplicar a Cristo, porque de fato Ele é o mesmo "ontem, hoje e para sempre". 

Antes de concluirmos este capítulo, convém relembrar que no grego não existe tempo verbal denominado "perfeito indefinido" que os jeovistas inventaram para tapar o Sol com a peneira. E no texto de S. João 8:58, o aoristo infinitivo, como tal, não forma uma cláusula. Aqui no texto é o advérbio PRIN (antes que) altamente significativo e dominante, de modo que a construção deve denominar-se Cláusula Prin ("Antes que"). O Dr. Robertson declara que o verbo eimi "é absoluto". Isto quer dizer que não pode haver predicado algum expresso com ele. Isto liqüida a questão.