21 Jesus pregou aos mortos?

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Em I Pedro 3:19 é dito que Jesus "foi e pregou aos espíritos em prisão". Entre a morte e a ressurreição, Jesus foi a algum lugar a fim de pregar aos mortos? 

 

Alguns propõem que a expressão "em espírito" indica que Jesus, entre a morte e a ressurreição, pregou a espíritos, supostamente desencarnados. 


Essa conclusão não se ajusta ao contexto geral bíblico; implica na existência do purgatório; deixa uma compreensão equivocada da justiça de Deus, que teria favorecido os antediluvianos com essa pregação e não as outras gerações; e contraria o fato de que toda decisão é tomada em vida, e que o tempo de graça termina com a morte (ver Ecl. 9:10 e 1 Tess. 4:13).


O verso 18 (I Ped. 3) é indispensável à solução do problema. No Novo Testamento, é comum o uso da expressão "em carne" para falar da existência terrena de Cristo como ser humano, e "em espírito" para falar de Sua existência como ser divino (ver Rom. 1:3 , e 4 e I Tim. 3:16). Assim, "mortificado na carne", fala do sofrimento humano de Jesus.


A expressão "no qual" (v. 19) é a chave do texto. O Comentário Adventista dá a ela três interpretações:


1) "No qual" se refere ao Espírito Santo. Nesse caso, o verso 19 indica que Cristo pregou aos antediluvianos, mediante o Espírito Santo, por meio de Noé.


2) "No qual" se refere a "em espírito". Assim, Cristo teria pregado aos antediluvianos antes de vir à Terra, em Sua preexistência divina, através de Noé.


3) "No qual" se refere retrospectivamente ao conjunto do verso 18. Como morreria e seria vivificado, Cristo pregou, anteriormente por Noé, e salvou. E "pela água" os que aceitaram.


Isso é confirmado por II Pedro 2:25, que diz: “Deus não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, pregoeiro de justiça, com mais sete pessoas..." 


É comum o uso do termo "espírito" (do grego pneuma) para falar de "pessoas vivas"

(ver I Cor. 16:18, Gál. 6:18, II Tim.4:22).


Em Isaías 42:7 e Lucas 4:18, "encarcerados" é uma figura da condição de pessoas

dominadas pelo pecado. Era o caso dos antediluvianos (Gên. 6:5-13), que não foram tolerados por Deus.


Pedro utiliza o fato de oito pessoas serem "salvas pela água" como ponte para falar do batismo pelo qual se salva (v. 21)


Muitos eruditos tem defendido a idéia de que Cristo foi até o Hades enquanto estava morto, para pregar aos espíritos que ali se encontravam presos, dando assim uma nova oportunidade.  Esses defensores de tal idéia: espiritas, católicos e até protestantes baseiam suas afirmações em 1 Pedro 3:18-20.


No entanto o nosso objetivo é acompanhar mais de perto as veracidade bíblicas referente a esse assunto.  A grande problemática desse texto é a implícita idéia da imortalidade da alma, e a nossa pergunta é: Está realmente a Bíblia ensinando essa crença? Jesus realmente foi ao Hades , e selecionou os espíritos dos antediluvianos, dos dias de Noé e lhes pregou, no período entre a crucificação e a ressurreição? Pode uma pessoa estar consciente no estado da morte?


Nossa atenção se dará maiormente a investigar o tempo, os espíritos e a prisão, separados em oito passos.  Quem eram os espíritos que estavam na prisão, que espécie de espíritos eram? Vivos ou mortos? Quem lhes pregou?  


Quando lhes foi pregado? Pode a verdade ser ensinada aos mortos? Defende a Bíblia a crença numa Segunda oportunidade após a morte?  Qual é a prisão mencionada em 1Pedro 3:19? Será que ouve algum erro de tradução?.  Esses são os pontos básicos dessa investigação, que não pretende ser tão exaustiva, mas chegar a uma conclusão clara e congruente.


CONTEXTO HISTORICO


O livro de 1ª Pedro foi  escrito aos gentios da dispensação, que se encontravam em, Galáxia, Capadócia, Ásia e Bitinia, o que compõe quase toda a Ásia menor.  Pedro declara que seus leitores não constituíam o povo de Deus , e eram idolatras convertidos (1 Pedro 2:10).


A carta foi escrita provavelmente no ano 66 D.C., talvez em Roma; mas pelo contexto de perseguição que o povo vivia, podemos relacionar com a perseguição de Nero no ano 64 D.C.  Tendo em conta essas circunstancias de provas e perigos, Pedro procura fortalecer a fé de seus leitores e os exorta a ser cidadãos exemplares, a testificar lealmente por Cristo.


O tema principal do livro é a graça em seus diversos significados, sendo que o tema dessa pericope é: "Graça significa sofrimento".  Assim diante da perseguição que o povo sofria Pedro os recordava que "também Cristo sofreu"


O objetivo de Pedro era mostrar que eles eram participantes do sofrimento de Cristo, e no sofrimento devia ter comunhão com o Senhor.  


Esses recém cristãos perseguidos sofriam  por fazer o bem, sofriam pela justiça, em resposta à sua situação Pedro lhe escreve: Cristo também sendo justo, padeceu pelos injustos, para conduzir-nos a Deus (3:18).  No entanto Deus julgaria a todos segundo as suas obras (4:5; 17-18). 


Apoio literario


Os "espíritos encarcerados" aparecem em três passagens das epístolas católicas o gerais: 1 Ped. 3: 18-22; 2 Ped. 2: 4-9 e Jud. 5-7. Para entender estas passagens difíceis é necessário ter em conta o contexto do Antigo Testamento e a literatura intertestamental. 


De Acordo com o livro pseudoepigráfico Deus mandou encerrar aos ímpios em uma escura prisão onde deviam encerrados por setenta gerações, até o dia do juízo. (Enoque 10).


Depois disto. Enoque foi designado como o que devia pronunciar o castigo dos anjos encarcerados por causa de sua conduta ímpia (Enoque 12). Ao ouvir a proclamação de Enoque, os anjos caídos se arrependeram e pediram a Enoque que apresentasse a Deus o pedido de que em sua misericórdia o perdoassem (Enoque 13).  


Mas Deus não aceita a intercessão de Enoque e o manda a reiterar-lhes aos anjos caídos o castigo que lhes aguarda (Enoque 15-16).


Este relato fantasioso passou a ser a interpretação aceitada de Gén. 6 entre muitos judeus e cristãos.  Ademais, a sorte destes anjos caídos passou a servir de exemplo - junto com a sorte dos antediluvianos e os habitantes de Sodoma e Gomorra  do castigo que Deus impõe aos que desobedecem.


São evidentes os nexos entre este relato do período intertestamentário e as três passajes neotestamentários que tem que ver com os "espíritos encarcerados" o anjos caídos, guardados na prisão.


Uma analise das principais palavras


A palava "no Qual"


Alguns sustentam que "no qual" se refere a "espírito", e interpretam que o verso 19 quer dizer que entre sua crucificação e ressurreição Cristo pregou aos espíritos antediluvianos, que sustem que estavam encarcerados.  Vejamos as três linhas de pensamento, sobre essa tradução:


l. "No qual" se refere a "Espírito", e o versos. 19 significa que Cristo pregou aos antediluvianos mediante o Espírito Santo por meio do ministério de Noé.


2. "No qual" se refere a "em espírito" (versos. 18), o qual es una alusão a Cristo em seu estado de preexistência, um estado que, como sua natureza glorificada depois de sua ressurreição, poderia descrever como "em espirito" Comparar-se com a expressão "Deus é espírito" (cf. 4: 24).  


Cristo pregou aos antediluvianos "enquanto se preparava a arca", antes de vir à terra o seja durante sua preexistência.  Cf.  Heb. 9: 14.


3. "No Qual" se refere retrospectivamente ao verso 18 em seu conjunto, e o verso 19 significa que Cristo, em virtude de sua morte vicária e sua ressurreição ainda futura, "foi e pregou... em espírito" aos antediluvianos mediante o ministério de Noé.  


Como Cristo devia ser "morto na carne, mas vivificado no espírito" (verso 18), anteriormente pregou a salvação mediante Noé e salvou "por água" aos que aceitaram essa salvação.  e é também "pela ressurreição de Jesus Cristo" como "o batismo... agora nos salva" (verso 21).


A palavra pregou.


"Pregou" é uma tradução do verbo k'erússo, que é o que se usa geralmente para referir-se a  pregação de Cristo nesta terra. Enquanto o tempo quando sucedeu esta pregação, ver  verso 20.  


Uma alusão interessante sobre esse verso é feito por Gleison Archer, quando diz: "Se o autor usasse o termo euangelizomai (boas novas) poderia ser comprovado que Cristo realmente levou uma mensagem de salvação às almas perdidas no Hades; no entanto o verbo ekeryxen, derivado de kerusso (proclamar uma mensagem) foi o que Cristo fez" e de acordo com os melhores léxicos, proclamar pode se referir a proclamar em espírito.


A palavra Espírito


E uma palavra que na maioria das vezes que aparece na Bíblia, se refere a pessoas.  É proveniente do grego  pnéuma, "vento", "sopro", "espírito" (ver  Luc. 8: 55; cf.  Núm. 5: 14).  


O sopro é uma das características distintivas dos seres viventes, mas aqui, devido a una sinédoque, figura de retórica na qual uma parte de algo se toma como o todo, pnéuma podendo significar "pessoa", de acordo com 1 Cor. 16: 18, onde "meu espírito" significa "eu", e Gál. 6: 18; 2 Tim. 4: 22; etc., donde "vosso espírito" o "tu espírito" significam "vos" ou tu" (cf.  Fil. 4: 23).  Ver  Heb. 12: 9, 23; cf. Núm. 16: 22; 27: 16. 


Portanto estes "espíritos" podem ser  considerados como seres humanos vivos.  A primeira parte do verso 20 sem duvida os identifica como pessoas que viveram na terra imediatamente antes do diluvio.  Eram seres humanos vivos tão certamente como o foram as "oito almas" (BC), que é uma tradução da palavra psujé do verso 20.


Há muitos que defendem o estado do homem consciente na morte, mas não aceitam a idéia do purgatório.  "O que Não é menos anti-bíblico do que uma segunda oportunidade para salvar-se".  


Os que sustem que Pedro está apoiando a crença na chamado a imortalidade natural da alma, devem também explicar por quê Cristo favoreceu aos espíritos dos pecadores mortos no tempo de Noé e não deu a mesma oportunidade a outras gerações.  


As Escrituras ensinam claramente que os seres humanos devem aceitar a salvação nesta vida presente porque seu tempo de graça pessoal termina com a morte (ver Mat. 16: 27; Luc. 16: 26-31; Rom.2: 6; Heb. 9: 27; cf Eze. 18: 24; Apoc. 22: 12).  Também ensina claramente que os mortos estão inconscientes (ver com.  Sal. 146; 4; Ecl. 9: 5-6; Mat. 10: 28; João 11: 11; 1 Tes. 4: 13; Cf com. Gén. 2: 7; Ecl. 12: 7).  


Por tais razões, crer que esses "espíritos" são seres conscientes desencarnados capazes de ouvir e aceitar o Evangelho, contradiz muitos evidente ensinos das Escrituras.  


Argumentar que o povo dos dias de Noé não teve uma oportunidade razoável para salvar-se, é ignorar o fato de que Noé foi um "pregador de justiça" nessa geração (2 Ped. 2: 5), e que os antediluvianos recusaram a  mensagem que Deus lhes enviou por meio de Noé (ver com. 1 Ped. 3: 20).  


"A paciência de Deus" não haveria esperado "nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca " (verso 20), "a menos que aqueles a quem Deus esperava tão pacientemente não haveria tido a oportunidade de crer e obedecer".


Além desses fatos, o termo "espírito" somente é usado na Bíblia , para quem está com vida (Hb. 12:22 e 23; Nm. 27:15-16), e nunca para os mortos.  Diante dessas evidências, clareiam o nosso caminho para uma conclusão mais segura


A palavra prisão


Proveniente do grego:  en fulako, "na prisão", portanto, um lugar onde as pessoas estão detidas e vigiadas, uma "prisão".  O contexto deve determinar se Pedro fala literal ou em sentido figurado.  


Si se entende literalmente, esta "prisão" seria um lugar onde as almas dos que hão morto - como alguns dizem que são os "espíritos" do verso 19 estão detidas até que se haja decidido sua sorte.  Si se entende figuradamente, essa "prisão" se referiria à condição espiritual dos "espíritos" que "desobedeceram".  


O uso da palavra "prisão" geralmente se refere a liberdade da alma da prisão do pecado, no Salmo 142:7 Davi suplicou que Deus tirasse a sua alma da prisão.  Em Proverbios 5:22 nos afirma que a prisão que traz a alma prisioneira é a prisão da alma.  Ver também Isa. 42: 6 e 7; cf.  Isa. 61: 1; Luc. 4:18.  


A segura prisão dos antediluvianos no cárcere do pecado é evidente por Gén. 6:5-13 e pelo fato de que somente oito pessoas escaparam dela (1 Ped. 3: 20).  Somente Cristo pode liberar aos homens de seus maus hábitos e desejos com os quais os encadeia Satanás.


Conclusão


Pelas evidências bíblicas, e o contexto que envolve essa passagem, e o seu significado, somos levados a chegar a conclusão de que Jesus mesmo antes de sua encarnação humana já estava preocupado com a salvação das almas. 


Por esse motivo, usou o Espírito Santo, que esteve advertindo os contemporâneos de Noé, por meio do próprio Noé, que foi chamado o pregador de Justiça.  


Os espíritos dos antidiluvianos, que estavam presos pela contaminação do pecado, necessitavam de uma oportunidade de liberdade antes de sua sentença, por isso, Cristo por meio do Espírito Santo, capacitou a Noé, a levar uma solida mensagem de oportunidade.                                                                                 


A Bíblia não deve ser estudada isoladamente, e nesse caso nenhum texto bíblico pode ser usado para comprovar o estado consciente dos mortos, ou uma Segunda oportunidade dada por Cristo, aos que em sã consciência já O rejeitaram.