A reforma Gregoriana do calendário Juliano

Calendario gregoriano e juliano

Um irmão de Angola enviou-me algumas questões sobre os calendários. O seu objetivo era claro: contradizer o argumento, por vezes esgrimido por alguns, de que é bem possível que não estejamos a guardar o dia de Sábado correto.

A resposta a esse FALSO argumento é muito mais simples do que se possa pensar. Senão vejamos:

- desde a Criação até ao tempo da primeira vinda de Cristo a esta terra, que ocorreu há cerca de 2000 anos, o ciclo semanal NUNCA se alterou! Como podemos estar tão certos disso?

MUDANÇA


A resposta é "brutalmente" SIMPLES: no Novo Testamento encontramos várias referências que afirmam, sem qualquer margem para dúvidas, que Jesus GUARDOU o Sábado (não segundo as normas, de origem humana, que escribas e fariseus inventaram, mas segundo as Suas próprias normas). Até o "Catecismo da Igreja Católica" reconhece esse facto:

"O Evangelho relata numerosos incidentes em que Jesus é acusado de violar a lei do sábado. MAS JESUS NUNCA VIOLA A SANTIDADE DESSE DIA. É COM AUTORIDADE QUE ELE DÁ A SUA INTERPRETAÇÃO AUTÊNTICA DESTA LEI: «O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado» (Mc 2, 27). 

Cheio de compaixão, Cristo autoriza-Se, em dia de sábado, a fazer o bem em vez do mal, a salvar uma vida antes que perdê-la. O sábado é o dia do Senhor das misericórdias e da honra de Deus. «O Filho do homem é Senhor do próprio sábado» (Mc 2, 28)." (Artigo 2173 do Catecismo da Igreja Católica, Gráfica de Coimbra, Lda. - Libreria Editrice Vaticana, para a edição portuguesa, 1997, pág. 535; minha ênfase em maiúsculas)

Pergunto: dar-se-ia o caso que Jesus GUARDOU o Sábado errado, isto é, o dia semanal que já não correspondia mais ao Sábado da Criação, o qual Ele próprio "abençoou" e "santificou" (Génesis 2:3)? O que é que acham? Se tivesse havido, ao longo dos primeiros 4000 anos (números "redondos") de História da humanidade, alguma alteração no ciclo semanal, não acham que Jesus teria corrigido esse erro, assim como corrigiu muitos outros erros? Para bom entendedor...

- e que dizer dos 2000 anos que entretanto se passaram desde a ascensão de Cristo ao céu até aos nossos dias? Bom, neste período os registos são bem mais numerosos. Mas nem preciso de ir "por aí". Pergunto: alegam os católico-romanos observar o domingo em honra da ressurreição de Jesus Cristo, sim ou não?

"Jesus ressuscitou de entre os mortos «no primeiro dia da semana» (Mc 16, 2). Enquanto «primeiro dia», o dia da ressurreição de Cristo lembra a primeira criação. 

Enquanto «oitavo dia», a seguir ao sábado, significa a nova criação, inaugurada com a ressurreição de Cristo. Este dia tornou-se para os cristãos o primeiro de todos os dias, a primeira de todas as festas, o dia do Senhor (Hê kuriakê hêméra, dies dominica), o «Domingo»:

Reunimo-nos todos no dia do Sol, , porque foi o primeiro dia [após o Sábado judaico, mas também o primeiro dia] em que Deus tirando das trevas a matéria, criou o mundo, mas também porque Jesus Cristo, nosso Salvador, nesse mesmo dia ressuscitou dos mortos». (Artigo 2174 do Catecismo da Igreja Católica, Gráfica de Coimbra, Lda. - Libreria Editrice Vaticana, para a edição portuguesa, 1997, pág. 535; minha observação: repararam que o "sábado" é escrito com inicial minúscula, à exceção do "Sábado judaico", ao passo que "Domingo" e "Sol" são escritos com inicial maiúscula?)

Até agora, nunca ouvi ninguém a afirmar que eles estão a guardar um falso domingo! E se o domingo de hoje é o mesmo dia da semana que foi no ano 31 d.C., ano da ressurreição de Cristo, porque razão o Sábado de hoje não corresponde ao Sábado do primeiro século da nossa Era? 

E, tanto quanto sabemos, o Sábado continua a ser o dia que antecede o domingo e o domingo continua a ser o dia que se segue ao Sábado, tal como era no primeiro século!

E quanto à Reforma do Calendário Juliano que foi promulgada pelo papa Gregório XIII, em 1582? Não houve aí uma alteração significativa do Calendário?

Num livro que adquiri no Brasil no início deste ano, que é uma autêntica "pérola" na abordagem de assuntos ligados à astronomia, calendários e profecias bíblicas cronológicas - o título desse livro diz tudo: "A Astronomia e a Glória do Adventismo - Um Estudo sobre a Precisão do Cálculo Profético de Daniel 8:14 e 9:24-27", dos autores Henderson Velten e Juarez Rodrigues de Oliveira - é dada, nas páginas 55 a 58, uma síntese muito compreensiva do porquê dessa Reforma do Calendário:

"Desde a época do Concílio de Niceia (325 d.C.), a festa da Páscoa vinha sendo celebrada no primeiro domingo depois da lua cheia que ocorresse no (ou logo após o) equinócio da primavera, fixado pela Igreja como o dia 21 de março. Por meio de carta dirigida aos bispos não presentes no Concílio, o imperador Constantino determinou que todos celebrassem a Páscoa Católica na mesma data.

Ocorre que, no decurso dos séculos subsequentes, em razão da diferença entre o calendário juliano e o ano trópico, o equinócio eclesiástico de 21 de março foi-se distanciando do equinócio real e se aproximando do verão [no hemisfério norte]. 

Essa diferença existe porque, no calendário juliano (introduzido pelo [imperador romano pagão] Júlio César a partir de 1 de janeiro de 45 a.C.), em cada grupo de quatro anos, três são compostos de 365 dias e um, de 366, resultando num ano médio de 365,25 dias (365 x 3 + 366 = 1461 : 4 = 365,25), o que é 0,0078 dia maior que o ano trópico (365,2422 dias).

Já em 1414 d. C., no Concílio de Constança [cidade do sul da Alemanha], algumas sugestões tinham sido propostas para se corrigir essa de[s]fasagem, visto que ela possuía implicações religiosas. 

É que, no período compreendido entre a Quarta-feira de Cinzas e a Páscoa, exigia-se dos cristãos católicos que praticasse a abstinência de carne, e, visto que a Páscoa era definida em função do equinócio eclesiástico, o qual variava em função do equinócio real, estava-se comendo carne num período em que isso era definitivamente proibido.

Em 1582 d.C., quando a diferença já era praticamente de 10 dias (1582 - 325 = 1257 x 0.0078 = 9,8046), o Papa Gregório XIII resolveu empreender uma ampla reforma no calendário, a fim de solucionar o problema. 

O documento pelo qual se decretou a reforma foi a Bula Inter Gravissimas. De maneira simplificada, as principais medidas adotadas podem ser resumidas assim:

1) Para corrigir o excesso de dias sobre o ano trópico, suprimiram-se 10 dias em 1582 d.C., passando-se do dia 4 de outubro (quinta-feira) para o dia 15 (sexta-feira). () ESSA ALTERAÇÃO EM NADA AFETOU O CICLO SEMANAL, JÁ QUE A QUINTA-FEIRA FOI NORMALMENTE SEGUIDA POR UMA SEXTA-FEIRA (minha ênfase em maiúsculas).

2) Para impedir que a diferença novamente se acumulasse, adotou-se o procedimento de suprimir três dias a cada 400 anos, abolindo-se os anos bissextos seculares (isto é, aqueles que marcam os finais de séculos), cujas centenas não fossem divisíveis por 400. 

Assim, deixaram de ser bissextos os anos de 1700, 1800 e 1900, que o teriam sido de acordo com o calendário juliano. Ainda assim, o calendário gregoriano possui um excesso de 0,0003 dias em relação ao ano trópico.

Em virtude dessas alterações, o ano civil passou a conter, em média, um total de 365,2425 dias (365,25 x 400 = 146100 - 3 = 146097 : 400 = 365,2425)."

Concluindo: NÃO HOUVE, POR CONSEGUINTE, QUALQUER ALTERAÇÃO DO CICLO SEMANAL quando se passou do calendário juliano (em vigor na época em que Jesus esteve entre nós) para o calendário gregoriano (em vigor nos nossos dias). E, pelo exemplo deixado por Jesus, TAMBÉM PODEMOS CONCLUIR QUE NÃO HOUVE QUALQUER ALTERAÇÃO DO CICLO SEMANAL desde a Criação até à primeira vinda de Cristo.

FONTE: Paulo Cordeiro é Pastor Adventista em Portugal.