62 Pensamentos a Respeito da Escravidão (John Wesley)

SERMOES DE WESLEY PDF


Publicado em 1774


I – 1. Por escravidão, eu quero dizer a escravidão doméstica, ou aquela de um servo para seu mestre. Um recente escritor engenhoso observa bem: "A variedade de formas, nas quais a escravidão aparece, faz quase impossível ter uma noção justa sobre ela, pelo caminho da definição. Há, entretanto, certas propriedades, as quais têm acompanhado a escravidão, na maioria das partes, por meio das quais, é igualmente distinguido do serviço doméstico moderado, que se obtém em nosso país".


2. Escravidão implica na obrigação de serviço perpétuo; uma obrigação que só o consentimento do mestre pode dissolver. E, em algumas regiões, nem mesmo o mestre pode fazê-lo, sem o consentimento dos Juízes apontados pela lei. Ela, geralmente, dá ao mestre o poder arbitrário de qualquer correção, não afetando vida ou membro. 


Algumas vezes, mesmos esses são expostos à sua vontade, ou protegido apenas por uma multa, ou alguma punição desprezível, muito insignificante para restringir um mestre de um temperamento severo. Isso cria a incapacidade de adquirir qualquer coisa, exceto para o benefício de seu mestre. Isso permite ao mestre alienar o mesmo, da mesma maneira como suas vacas e cavalos. Ultimamente, isso descende, em sua extensão completa, dos pais para a criança, mesmo para a última geração. 


3. O começo disso pode ser datado do período mais remoto, do qual nós temos um relato na História. Isso principiou, no estado bárbaro de nossa sociedade, e no decorrer do tempo, espalhou-se por todas as nações. Ela prevaleceu, particularmente, entre os judeus, os gregos, os romanos, os antigos germanos; e foi transmitida por eles aos vários reinos e estados, os quais se ergueram fora do Império Romano. 


Mas depois o Cristianismo predominou; e ela, gradualmente, caiu em declínio, em quase todas as partes da Europa. Essa grande mudança começou na Espanha, por volta do final do século oito; e foi se tornando geral, na maioria dos reinos da Europa, antes da metade do século quatorze.  


4. Desde esse tempo, escravidão esteve perto de ser extinta; até o início do século dezesseis, quando a América foi descoberta, e a costa oeste e leste africana deu a oportunidade de reavive-la. Ela se ergueu através dos portugueses, que, para suprir os espanhóis com homens, para cultivarem suas possessões na América, procuraram os negros da África, quem eles vendiam para escravos aos espanhóis americanos. Isso começou no ano de 1508, quando eles importaram os primeiros negros dentro da Hispaniola. Em 1540, Charles V, então, Rei da Espanha, determinou colocar um fim na escravidão negra, dando ordens expressas para que todos os escravos negros nos domínios espanhóis pudessem ser livres. E isso foi feito, concordantemente, por Lagasca, quem ele enviou e deu poderes para libertá-los todos, na condição de continuarem a trabalhar para seus mestres. Mas, logo depois Lagasca retornou para a Espanha, a escravidão retornou e floresceu como antes. Depois disso, outras nações, conforme eles adquiriam possessões na América, seguiram os exemplos dos espanhóis; e escravidão tem criado raízes profundas em nossas colônias americanas.   


II.  Tal é a natureza da escravidão; tal o começo da escravidão negra na América. Mas alguns podem desejar saber que espécie de país é esse do qual os negros são trazidos; que tipo de homens, qual o temperamento e comportamento deles, em sua própria região; e de que maneira eles são geralmente procurados, carregados e oferecidos na América. 


Um navio escravo (do livro de história Metodista do século dezenove).


1. E, Primeiro, que tipo de país é aquele de onde eles são trazidos? É ele, tão notavelmente, horrível, lúgubre, e estéril, que é uma amabilidade libertá-los dele? Eu acredito que muitos têm pensado que sim; mas isso é um inteiro equívoco, se nós formos dar crédito a que tem vivido muitos anos lá, e não tem motivo para dar uma impressão distorcida dele. 


2. Essa parte da África - de onde os negros são trazidos – comumente, conhecida pelo nome de Guiné, estende-se ao longo da costa, no todo, entre três ou quatro mil milhas. Do rio Senegal, dezessete graus norte da linha, para o Cabo Serra-Leoa, ela contém setecentas milhas. De lá, ela se estende, em direção leste, por aproximadamente, cento e cinco milhas, incluindo a Costa Grain, a Costa Marfim, a Costa Dourada, e a Costa Escrava, com o reino largo de Benin. De onde ela se estende, em direção ao sul, por volta de cento e doze milhas, e contém os reinos do Congo e Angola.     


3. Com respeito ao primeiro, a Costa Senegal, Monsieur Brue, que viveu lá dezesseis anos, depois de descrever a sua fertilidade, perto do mar, diz "quanto mais você se afasta do mar, mais fértil e melhor é a região, abundando em grãos de leguminosas, milho indígena, e variedade de frutas. Aqui existem pradarias vastas, as quais abastecem cabeças de gado, grandes e pequenas; e as vilas, as quais se deitam no centro, mostra que o país é bem populoso". E novamente: "Eu fiquei surpreso de ver a terra tão bem cultivada: Escassamente é visto um local não cultivado; as terras baixas, divididas por pequenos canais, foram todas semeadas com arroz; as terras altas foram plantadas com milho indígena, e toda sorte de ervilhas. Sua carne de boi é excelente; grande quantidade de aves domésticas, e muito baratas, como são todas as necessidades da vida".


4. Como para a Costa Grain e Marfim, nós aprendemos de testemunhas oculares que o solo é, em geral, fértil, produzindo abundância de arroz e grãos de leguminosas. Corante azul e algodão florescem, sem cultivo; existe peixe, em grande quantidade; rebanho e cabeças de gado são numerosos, e as árvores carregam-se com frutas.

 

5. A Costa Dourada e a Costa Escrava, todos os que as viram concordam que são excessivamente férteis e prazerosas, produzindo vastas quantidades de arroz e outros grãos, abundância de frutas e grãos de leguminosas, vinho de palmeira e óleo, e peixe, em grande abundância, com muito rebanho doméstico e selvagem. O mesmo relato nos é dado do solo e produtos dos reinos de Benin, Congo e Angola. Desses todos, os quais aparecem, como a Guiné, em geral, está muito longe da região horrível, lúgubre e estéril — é uma das mais férteis, tanto quanto mais agradáveis regiões no mundo conhecido. Realmente, tem-se dito que são insalubres; e assim é para os estranhos, mas perfeitamente saudáveis para os habitantes nativos. 


6. Tal é a região de onde os negros são trazidos.

Nós chegamos à próxima pergunta: que tido de homens eles são, de qual temperamento e comportamento; não em nossas plantações; mas em sua região nativa. E aqui, igualmente, o caminho mais correto é tomar em consideração o relato de testemunhas oculares e auditivas. Agora, aqueles que têm vivido na região do Senegal observam que ele é habitado por três nações: os Jalofs, Fulis, e Mandingos. O Rei de Jalofs tem sob seu comando muitos ministros que o assistem nos exercícios de justiça. O chefe de Justiça vai, em circuito, através de todos seus domínios, para ouvir queixas, e determinar controvérsias; e o vice-rei vai com ele, para inspecionar o comportamento do Alcaide, ou Governador de cada vila. Os Fulis são governados pelos seus homens chefes, que comandam com muita moderação. Poucos deles bebem qualquer coisa mais forte do que água, sendo estritos Maometanos. O governo é fácil, porque o povo é quieto e tem boa disposição, e tão bem instruído, no que é direito, que é abominação em tudo, o homem que prejudica outro. Eles não desejam mais terras do que eles usam, as quais eles cultivam com grande cuidado e diligência: Se algum deles é sabido ter sido feito escravo por um homem branco, eles todos se juntam para libertá-lo.  Eles não apenas dão suporte a todos que são velhos, cegos, ou aleijados, entre eles, mas têm freqüentemente suprimido as necessidades dos Mandingos, quando eles são afligidos pela penúria. 


7. "Os Mandingos", diz Monsieur Brue, "são rígidos Maometanos, bebendo nem vinho ou brandy. São industriosos e laboriosos, mantendo seu solo bem cultivado, e criando um grande sortimento de rebanho. Cada cidade tem um Governador, e ele determina o trabalho das pessoas. Os homens trabalham o solo designado para o milho; as mulheres e meninas, os solos para o plantio de arroz. Ele mais tarde, divide o milho e o arroz entre eles, e decide todas as disputas, se alguma surge". "Todos os negros maometanos, constantemente, vão para os lugares públicos de adoração, três vezes ao dia; havendo um sacerdote, em todas as vilas, que, regularmente, os reúne; e é surpreendente se ver a modesta, atenção e reverência a qual eles observam durante a adoração deles. Essas três nações praticam diversos comércios; eles têm ferreiros, seleiros, oleiros e tecelões; e eles são muito engenhosos em suas diversas ocupações. Seus ferreiros não apenas fazem todos os instrumentos de ferro, os quais eles têm oportunidade de uso, mas, igualmente, trabalham em muitas coisas, nitidamente, em ouro e prata. São principalmente as mulheres e crianças que tecem finas roupas de algodão, os quais eles tingem de azul e preto".


8. Foi dessas partes da Guine que o Monsieur Allanson, correspondente da Academia Real de Ciência de Paris, de 1749 a 1753, deu o seguinte relato, da região e de seu povo: — "Para onde quer que eu virasse meus olhos, eu observava a imagem perfeita da natureza pura: Uma solidão, limitada em cada lado por paisagens atrativas; a situação rural das cabanas no meio das árvores; a amabilidade e quietude dos negros, repousaram debaixo da sombra das extensas folhagens, com a simplicidade em suas vestimentas e maneiras: Aquilo tudo reviveu em minha mente a idéia de nossos primeiros ancestrais, e pareceu-me contemplar o mundo em seu estado primitivo. Eles são, falando, de um modo geral, muito afáveis, sociáveis, e serviçais. Eu estava nenhum pouco feliz com minha primeira recepção; e convenci-me, completamente, de que deveria ser um abatimento considerável, feito por conta dos relatos que nós tínhamos do caráter selvagem dos africanos". Ele acrescentou: "É interessante que um povo analfabeto possa raciocinar, tão pertinentemente, no que concerne aos corpos celestes. Não há dúvidas que, com instrumentos apropriados, eles se tornassem astrônomos excelentes". 


9. Os habitantes de Grain e Costa Marfim são representados por aqueles que fazem comércio com eles, como sensíveis, corteses, e comerciantes honestos, nas Costas da Guiné. Eles, raramente, bebem em excesso; se alguém o faz, é severamente punido por ordem do Rei. Eles dificilmente se preocupam com guerra: Se acontecer diferença entre duas nações, eles, comumente, terminam a disputa amigavelmente. Os habitantes da Costa Dourada e Costa Escrava, igualmente, quando eles não estão ardilosamente enfurecidos uns contra os outros, vivem em grande camaradagem, sendo, geralmente, amistosos, civilizados, tratáveis, e prontos a ajudar alguém que precisa. Em particular, os nativos do reino de Whidah são polidos, amáveis, e prestativos com os estranhos; e são os mais bem educados de todos os negros, abundando em boas maneiras uns com os outros. Os subalternos prestam respeito extremo para com seus superiores; assim como as esposas aos seus maridos, e as crianças aos seus pais. E são, notavelmente, engenhosos; todos, constantemente, ocupados — homens na agricultura, as mulheres fiando e tecendo algodão.    


10. A Costa Dourada e a Costa Escrava são divididas em diversos distritos; alguns governados por Reis; outros, por chefes, que cuidam de sua própria cidade ou vila, e previne ou apazigua tumultos. Eles punem assassinatos e adultério, severamente; muito freqüentemente, com a morte. Furtos e roubos são punidos, proporcionalmente, aos bem que foram tomados. Todos os nativos dessa Costa, afora os pagãos, acreditam em um Deus, o Criador deles e de todas as coisas. Eles aparecem, igualmente, ter uma compreensão confusa do estado futuro. E, de acordo, cada cidade e vila têm um lugar para a adoração pública. É notável que eles não têm mendigos entre eles; tal é o cuidado dos chefes, em cada cidade e vila, em fornecer alguns trabalhos fáceis, mesmo aos velhos e fracos. Alguns são empregados em soprar os foles dos ferreiros; outros, em tirar o óleo das palmeiras; outros em preparar as tinturas. Se eles estão muitos fracos mesmo para essas coisas, eles vendem provisões na feira. 


11. Os nativos dos reinos de Benin são pessoas razoáveis e aprazíveis. Eles são sinceros e inofensivos, e não praticam injustiça, uns com os outros, assim como com estranhos. Eles são, eminentemente, civilizados e corteses: Se você lhes dá um presente, eles se esforçam para recompensarem-no, em dobro; e se a eles é dado crédito, até que o navio retorne, no próximo ano, eles estão seguros de, honestamente, pagarem o débito total. Roubo é punido entre eles, embora não com a mesma severidade como os assassinatos. Se um homem ou mulher, de qualquer condição, é pego em adultério, será, certamente, encaminhado para a morte, e seu corpo atirado, num monturo, e deixado como presa para as bestas selvagens. Eles são, prontamente, justos e honestos, em suas relações comerciais; e são também muito caritativos; o Rei e os grandes Lordes cuidando para empregar todos os que são capazes de algum trabalho. E esses que estão, extremamente, desamparados são mantidos pelo amor a Deus; de modo que aqui também não existem mendigos. 

Os habitantes do Congo e Angola são geralmente pessoas quietas. Manifestam um bom entendimento, e se comportam, de maneira amigável, com estranhos, sendo de um temperamento moderado, e de um comportamento benévolo. Por conseguinte, no geral, os negros que habitam a Costa da África, do rio Senegal até as fronteiras da Angola, estão muito longe de serem estúpidos, insensíveis, brutos, bárbaros preguiçosos, ameaçadores, cruéis, selvagens traiçoeiros, como eles têm sido descritos, e que, ao contrário, eles são representados, por aqueles que não têm motivos para lisonjeá-los, como notavelmente sensíveis, considerando as poucas vantagens que eles têm para melhorar o entendimento deles; como laboriosos, no mais alto grau; talvez, mais do que qualquer outro nativo de clima quente; como justos, e honestos no comércio deles, a não ser onde os homens brancos os ensinaram a serem de outra forma; e ainda mais moderados, amistosos, e gentis, para com os estrangeiros, do que qualquer um de nossos antepassados foi. Nossos antepassados! Onde podemos encontrar, até hoje, entre os nativos brancos da Europa, uma nação praticando justiça, misericórdia, e verdade, como é encontrado, entre os pobres africanos? Supondo-se que os relatos precedentes são verdadeiros (o que eu não vejo razão ou pretensão para duvidar), e nós podemos deixar a Inglaterra e França, para buscar a honestidade genuína em Benin, Congo ou Angola.   


III. Nós temos agora visto que espécie de região é essa de onde os negros são trazidos; e que tipo de homens (mesmo os brancos sendo juízes) eles foram, em suas próprias nações. Perguntamos nós, em Terceiro Lugar, de que maneira eles são geralmente procurados, carregados e tratados, na América. 


1. De que maneira eles são procurados? Parte deles por fraude. Capitães dos navios, de tempos em tempos, têm convidado os negros para virem a bordo, e então, os levam embora. Mas a grande maioria tem sido procurada pela força. Os cristãos aportando, nas costas africanas, prendem o quanto eles encontram: homens, mulheres e crianças, e os transportam para a América. Foi, por volta de 1551, que o inglês começou a negociar com a Guiné; a princípio, por causa do ouro e dentes dos elefantes (marfim); mas, logo depois, por causa dos homens. Em 1556, Sir John Hawkins embarcou com dois navios para Cabo Verde, onde enviou oitenta homens, na orla, para capturar negros. Mas os nativos fugindo, eles foram mais além, e colocaram seus homens na orla para "queimar suas cidades e pegar seus habitantes". Porém, eles encontraram com tal resistência, que eles tiveram sete homens mortos, e capturaram, a não ser, dez negros. Então, eles continuaram indo mais além, até que tendo aprisionado, o suficiente, eles prosseguiram para a parte Oeste das Índias, e os venderam.   


2. Isso foi algum tempo, antes dos europeus encontrarem uma maneira mais compendiosa de procurar escravos africanos, incentivando-os a fazerem guerra uns com os outros, e a venderem seus prisioneiros. Até então, eles, raramente, tinham qualquer guerra; sendo, em geral, quietos e pacíficos. Mas os homens brancos, primeiro, os ensinaram a embriagarem-se e a serem avarentos, e, então, os contrataram para vender uns aos outros. Além do que, por esse meio, até mesmo os seus Reis foram induzidos a vender seus próprios súditos. Então, o Sr. Moore, o administrador da Companhia Africana, em 1730, nos informou: "Quando o Rei de Barsalli queria ouro e brandy, ele solicitava ao governador inglês, no Forte James, que, imediatamente, enviava uma chalupa. Assim que ela chegava, ele saqueava algumas de suas cidades vizinhas, vendendo as pessoas em troca dos bens que ele necessitava. Em outros tempos, ele se lançava sobre suas próprias cidades, e tomava a liberdade de vender seus próprios súditos". Então, Monsieur Brue diz: "Eu escrevi ao Rei (não o mesmo), se ele tinha número suficiente de escravos, que poderia tratar com ele. Ele capturou trezentos de sua própria gente, e mandou recado de que ele estava pronto para entregá-los, por mercadorias. Ele acrescentou: "Alguns dos nativos estão sempre prontos" (quando bem pagos) "para surpreender e levar seus próprios compatriotas. Eles chegam à noite, sem barulho, e se eles encontram alguma cabana solitária, cercava e arrebatava todas as pessoas".  Barbot, um outro administrador francês diz: "Muitos dos escravos vendidos pelos negros são prisioneiros de guerra, ou tomados em incursões que eles fazem nos territórios de seus inimigos. Outros são roubados. Abundância de crianças negras, de ambos os sexos, são roubadas, por seus vizinhos, quando encontradas nos arredores, na estrada, nas florestas, ou mesmo nos campos de milho, na hora em que seus pais os mantém lá para espantar os pássaros devoradores". Que seus próprios pais os vendem é, extremamente, falso: Brancos, não negros, não têm afeição natural!


3. Para estabelecer a maneira na qual os negros são procurados, mesmo à luz do dia, será suficiente dar um extrato das "Duas viagens para a Guiné", nesse relato. O primeiro é tomado, literalmente, do manuscrito original do Diário do médico chefe:

"Sestro, 29 de Dezembro de 1724 — nenhum comércio hoje, embora muitos comerciantes viessem a bordo. Eles nos informaram que as pessoas foram para a guerra, dentro da região, e irá trazer prisioneiros suficientes em dois ou três dias; na esperança disso, nós permanecemos".

  "30.12 — Nenhum comércio ainda; mas nossos comerciantes vieram a bordo hoje, e nos informaram de pessoas que queimaram quatro cidades; de modo que amanhã nós esperamos escravos". 

"31.12 — Tempo a favor; mas nenhum comércio ainda. Nós vimos, todas as noites, as cidades queimando. Mas nós ouvimos que muitos homens de Sestro foram mortos, pelos negros do interior; de forma que nós tememos que essa guerra seja infrutífera".  

"02.01 — Na última noite, nós vimos um fogo prodigioso irrompendo, por volta das onze horas, e essa manhã, vimos a cidade de Sestro sendo colocada abaixo pelo fogo". (Ela contém algumas centenas de casas). "Assim, nos certificamos que os inimigos deles são muito difíceis para eles, no momento, e, conseqüentemente, nosso comércio deteriorou-se aqui. Entretanto, por volta das sete horas, nós erguemos a âncora e prosseguimos um pouco abaixo". 


4. O segundo extrato, tomado do Diário do médico chefe, que foi de Nova York, no mesmo comércio, é como segue: "O comandante do navio enviou um comunicado ao Rei de que ele queria uma carga de escravos. O Rei prometeu supri-lo; e, com esse propósito, partiu, com o objetivo de surpreender algumas cidades, e fazer todas as pessoas prisioneiras. Algum tempo depois, o Rei enviou recado de que ele ainda não tinha encontrado com o sucesso desejado; tendo empreendido invadir duas cidades, mas tendo sido, duas vezes, repelido; ainda assim, ele esperava procurar o número de escravos. Nesse objetivo, ele persistiu, até que encontrou seus inimigos no campo. A batalha aconteceu, o que durou três dias. O confronto foi tão sangrento, que quatro a cinco mil homens foram assassinados no local". Essa é a maneira como os negros são procurados! Assim os cristãos pregam o evangelho aos pagãos!  


5. Assim eles são procurados. Mas em que números e de que maneira eles são levados para a América? Sr. Anderson, em sua História do Intercâmbio de Mercadorias e Comércio, observa: "A Inglaterra supre suas colônias americanas com escravos negros, perfazendo um número de, aproximadamente, centenas de milhares todos os anos"; ou seja, muitos são levados a bordo de nossos navios; mas, pelo menos, dez mil deles morrem na viagem; e, uma quarta parte mais morre, em ilhas diferentes, no que é chamado de mudança climática. De modo que, em média, no trajeto, e mudança climática, juntos, trinta mil morrem; isto é, necessariamente, são mortos. Ó Terra! Ó Mar! Não te cobras com o sangue deles! 


6. Quando eles são trazidos ao cais, com o objetivo de serem vendidos, nosso médico chefe examina esses homens e mulheres, completamente nus, sem qualquer distinção, por completo; aqueles que são aprovados são colocados de um lado. Nesse meio tempo, um ferro ardente, com as armas ou nome da companhia, é deitado no fogo e, com ele, os negros são marcados em seu peito. Antes de serem colocados no navio, seus donos os despem de tudo que eles trazem às suas costas, de modo que eles entram, a bordo, nus, tanto as mulheres, quanto os homens. Para diversas centenas deles, é comum serem alojados em pequenos cômodos, todos espremidos; e, nessas condições, entre calor, sede, e mau cheiro de vários tipos, não é de se surpreender que muitos possam morrer no trajeto; ou melhor, que alguém sobreviva a isso.


7. Quando os navios chegam ao seu porto de destino, os negros são novamente expostos nus aos olhos de todos que se aglomeram, e para o exame de seus compradores. Então, eles são separados, para as plantações de seus diversos mestres, para nunca mais se verem. Aqui você pode ver mães dependurando-se em suas filhas, cobrindo seus peitos nus com lágrimas; e as filhas agarrando-se aos seus pais, até que o açoitador logo as obriga a partir. E o que pode ser mais desprezível do que a condição em que eles estão? Banidos de seus países, de seus amigos e relações, para sempre, de todo conforto da vida, eles são reduzidos a um estado escasso; qualquer coisa é preferível a este de burros de carga. Em geral, algumas raízes, não da melhor espécie, usualmente, inhame ou batatas é a refeição deles; e são cobertos com dois trapos, os quais, nem os protege do calor do dia, nem do frio da noite. Seu sono é muito curto; seu trabalho contínuo, e, freqüentemente, acima de suas forças; de modo que a morte os livra, antes de viverem fora metade de seus dias. O tempo em que eles trabalham no oeste índio, é do romper da aurora, até o meio dia; e das duas horas, até a noite; durante esse tempo, eles são atendidos por inspetores que, se os acham lentos, ou pensam que alguma coisa não foi bem feita, como poderia ter sido, os açoita, impiedosamente, de modo que é possível se ver, depois, ao longo de seus corpos, vergões e cicatrizes, usualmente, dos ombros aos quadris. E, antes de ser permitido que eles possam ir para seus alojamentos, eles têm que, comumente, fazer alguma coisa, como coletar ervagem para os cavalos, ou juntar combustível para as caldeiras; de forma que, freqüentemente, passa das onze horas, até que eles possam estar em casa. De lá, se seu alimento não está preparado, eles são, algumas vezes, chamados a trabalhar, novamente, antes que possam satisfazer sua fome. E nenhuma recusa é permitida. Se eles não estão nos campos, imediatamente, eles podem esperar sentir o chicote. Será que o Criador pretendeu que essas criaturas nobres, no mundo visível, pudessem viver tal vida como essa?  


São esses trabalhos gloriosos, originários de Deus?


8. Quanto à punição imposta a eles, diz Sir Hans Sloane: "eles freqüentemente os castram, ou cortam fora metade de seus pés: depois, eles são chicoteados, até que tenham feridas, por todo o corpo; alguns colocam pimenta e sal sobre elas; alguns derramam cera derretida, sobre seus corpos; outros cortam fora suas orelhas, e os obrigam a assá-las e comê-las. Por causa da rebelião" (ou seja, declarando a liberdade nativa deles, a qual têm direito, tanto quanto o ar que respiram), "eles são presos ao chão com varas curvas sobre seus membros, e, então, é aplicado fogo, por escalas, dos pés às mãos, e vai queimando, gradualmente, até a cabeça".  


9. Mas não irão as leis praticadas nessas plantações prevenir ou reparar tal crueldade e opressão? Nós iremos tomar algumas dessas leis, como uma mostra, e, então, que qualquer um julgue: Com o objetivo de fixar as correntes da escravidão, a lei da Virgínia ordena: "Que nenhum escravo possa ser colocado livre, sob qualquer pretexto que seja, exceto, por algum serviço meritório, a ser julgado e permitido pelo Governador e Conselho; e que, onde qualquer escravo possa ser liberto, por seu dono, de maneira diferente disso, o curador da paróquia, onde tal negro irá residir, por um espaço de um mês, está, por meio diste, autorizado e mandado a pegar e vender o dito escravo, através de clamor público".


10. Não irão esses que fazem as leis ter um cuidado efetivo para prevenir crueldade e opressão? 

A lei da Jamaica ordena: "Cada escravo que possa fugir, e continuar ausente de seu dono, por doze meses, deverá ser considerado rebelde". E, por outra lei, é dada uma recompensa de cinqüenta libras, para aqueles que trouxerem o escravo rebelde, vivo ou morto. Então, essas leis tratam esses pobres homens com um pouco de cerimônia e consideração, como se eles fossem meramente animais brutos! Mas o sangue inocente que verte, em conseqüência de tal lei detestável, pede vingança, nos instigadores assassinos, e atores de tal maldade deliberada.


11. Mas a lei de Barbados excede até mesmo essa: "Se algum negro, debaixo de punição, por seu mestre, ou por sua ordem, por ter fugido, ou algum outro crime ou má-conduta, sofrer na vida, ou membro, nenhuma pessoa deverá ser responsável por qualquer multa, por esta razão. Mas, se algum homem, de libertinagem, não apenas sanguinário, ou intenção cruel, obstinadamente, matar um negro de sua propriedade" (agora, observem a punição severa!) "ele deverá pagar ao tesouro público, quinze libras esterlinas! E não será responsável por qualquer outra punição, ou confisco para o mesmo!" Quase aliada a isso é a lei da Virgínia: "Posterior proclamação é despachada contra os escravos que fogem, sendo legal para qualquer pessoa matar ou destruir tais escravos, por quaisquer meios e maneiras que ele achar adequados".  Nós temos visto, até aqui, alguns dos caminhos e maneiras, que têm sido consideradas adequadas a tais situações; e muito mais poderia ser mencionado. Um cavalheiro, quando eu estava no exterior, pensou ser adequado queimar seu escravo vivo! Mas, se o mais natural ato de "fugir" de tirania intolerável merece tal severidade inexorável, que punição esses legisladores esperam ter, daqui para frente, quando tiverem que prestar contas de suas ofensas enormes? 


IV. 1. Essa é uma clara, não agravada prática. Tal é a maneira, onde nossos escravos africanos são procurados; tal é a maneira, como eles são removidos de suas terras nativas, e como eles são tratados em nossas plantações. Eu poderia agora inquirir, se essas coisas podem ser defendidas, nos princípios da mesma honestidade pagã; se elas podem ser reconciliadas (colocando a Bíblia fora da questão) com qualquer grau, tanto de justiça como misericórdia.  


2. A grande justificativa é que 'eles são autorizados por lei'. Mas pode a lei, a lei humana, mudar a natureza das coisas? Ela pode transformar a escuridão em luz, ou o mal em bem? De modo algum! Não obstante, dez mil leis — certo é certo, e errado é errado — permanecem. Deveria ainda permanecer uma diferença essencial, entre justiça e injustiça; crueldade e misericórdia; de modo que, eu ainda pergunto: quem pode ajustar esse tratamento dos negros, primeiro e último, com misericórdia ou justiça? Onde está a justiça, em infringir o mais severo mal àqueles que fizeram a nós nada de errado? De privar de todo conforto da vida aqueles que nunca nos prejudicaram com palavra ou ação? De os removerem de seus países nativos, e privá-los da liberdade, para a qual um angolano tem o mesmo direito natural que um inglês, e na qual ele coloca o mais alto valor? Onde está a justiça, em se tirar a vida de inocentes, homens inofensivos; matando milhares deles, em suas próprias terras, pelas mãos de seus próprios compatriotas; muitos milhares, ano após ano, em embarcações, e, então, arremessando-os como esterco no mar; e dezenas de milhares, nessa escravidão cruel, para a qual eles são injustamente reduzidos?


3. Mas, acenando para o presente, todas as outras considerações, eu golpeio na raiz dessa vilania complicada; eu nego, absolutamente, todo dono de escravos ser compatível com qualquer grau de justiça natural.Eu não posso colocar isso, em uma luz mais clara, do que o grande adorno de sua profissão, Juiz Blackstone, já tem feito. Parte de suas palavras são como seguem:

"As três origens do direito da escravidão, afirmadas por Justiniano, são todas construídas em fundamentações falsas: (1) Escravidão é dita se levantar do aprisionamento na guerra. O conquistador tendo o direito sobre a vida de seus capturados, se ele toma em consideração isso, ele tem, então, o direito de negociar com eles como lhe agradar. Mas isso é uma inverdade; se tomado, geralmente, de que, pelas leis das nações, um homem tem o direito de matar seu inimigo. Ele tem o direito de matá-lo, em casos particulares; em casos de absoluta necessidade; em defesa própria. E é evidente que essa absoluta necessidade não subsiste, desde que ele não o mata, mas o faz prisioneiro. A guerra é justificável, em si mesma, apenas, em princípios de autopreservação: Entretanto, isso não nos dá direito, sobre os prisioneiros, a não ser impedi-los de nos fazer mal, confinando-os. Muito menos, pode isso dar direito de torturar, matar ou mesmo escravizar um inimigo, quando a guerra está terminada". 

"Desde que, conseqüentemente, fazer nossos prisioneiros escravos está subordinado ao suposto direito de matança, essa fundamentação falha, e, em conseqüência, o que é esboçada dela, deve falhar igualmente. (2) É dito que a escravidão pode começar, por um homem vendendo a si mesmo a outro. E isso é verdade. Um homem pode vender a si mesmo para trabalhar para outro; mas ele não pode vender a si mesmo, para ser um escravo, como é acima definido. Cada venda implica em um equivalente dado para o vendedor, em troca do que ele transfere para o comprador. Mas que equivalente pode ser dado por vida ou liberdade? Sua propriedade, igualmente, com o mesmo preço, que ele parece receber, transfere ipso facto a seu mestre, no instante em que ele se torna seu escravo: Nesse caso, entretanto, o comprador dá nada, e o vendedor recebe nada. De que validade, então, pode ser uma venda que destrói o princípio no qual todas as vendas são fundamentadas?".

"(3) Foi-nos dito que os homens podem nascer escravos, sendo filhos de escravos. Mas isso, sendo construído sobre as duas formas de direitos, deve cair junto com elas. Se nenhum aprisionamento, nem contrato podem, pela lei evidente da natureza e razão, reduzir os pais ao estado de escravidão, muito menos, eles podem reduzir a descendência. Segue-se, claramente, que toda a escravidão é tão irreconciliável para a justiça, como para a misericórdia".       


4. Que o comprador de escravos está, extremamente, incompatível com misericórdia, é quase tão evidente, para necessitar de prova. De fato, ele diz: "que esses negros sendo prisioneiros de guerra, nossos capitães e feitores os compram, meramente, para salvá-los de serem colocados à morte. E isso não é misericórdia?" Eu respondo: (1) O Sr. John Hawkins, e muitos outros aprisionam esses homens, mulheres e crianças, que estavam em paz, em seus campos, ou casas, meramente, para salvá-los da morte? (2) O que significa salvá-los da morte, quando eles estouram os miolos daqueles que eles não podem levar embora? (3) Quem ocasiona e fomenta essas guerras, onde essas pobres criaturas são feitas prisioneiras? Quem os instigou por dinheiro, por bebida, por todas as razões possíveis, para caírem uns sobre os outros? Não foram esses mesmos homens? Eles sabem, em suas próprias consciências, que foram; se é que eles têm alguma consciência restante! Mas (4) para trazer o assunto para um pequeno resumo, eles podem responder, diante de Deus, se, alguma vez, fizeram uma única viagem, ou trouxeram um único negro, por esse motivo? Eles não podem; eles bem sabem que a origem única e total do movimento deles foi para conseguir dinheiro; não para salvar vidas! 


5. Mas se essa maneira de procurar e tratar os negros não é consistente, tanto com a misericórdia, como justiça, ainda assim há uma justificativa para isso, a qual todo homem de negócios irá reconhecer como completamente suficiente. Cinqüenta anos atrás, alguém, encontrando-se com um eminente político, no lobby da Câmara dos Comuns, disse: "você tem falado há muito tempo sobre justiça e igualdade. Diga-me, por favor, qual é essa relação: igualdade ou justiça?" Ele respondeu de maneira resumida e clara: "Não é justiça; é necessidade". Aqui também o comprador de escravos fixa seu pé; aqui ele repousa a força de sua causa. "Se não é completamente direito, deveria ser; há uma absoluta necessidade para isso. É necessário que nós procuremos escravos; e, quando nós os procuramos, é necessário usá-los com severidade, considerando a estupidez, teimosia e perversidade deles". Eu respondo: Você tropeça no princípio; eu nego que essa vilania seja, alguma vez, necessária. É impossível que possa ter sido, alguma vez, necessário, para qualquer criatura razoável, violar todas as leis de justiça, misericórdia e verdade. Nenhuma circunstância pode fazer necessário para um homem arrebentar, ao meio, todos os vínculos da humanidade. Nunca poderá ser necessário para um racional, colocar-se abaixo de um irracional. Um homem não pode estar sob necessidade de se degradar em um lobo. O absurdo da suposição é tão claro, que alguém poderia surpreender-se de que alguém possa ajudar a ver isso.     

  6. Isso, em geral. Mas, para ser mais particular, eu perguntei, Primeiro: O que é necessário? E, Segundo: Para qual finalidade? Pode-se responder que: "Todo o método, agora, usado, pelos compradores dos negros é necessário para o suprimento de nossas colônias, anualmente, com centenas de milhares de escravos". Eu admito que isso seja necessário para essa finalidade. Mas, como você provará que é necessário que cem, ou que um, desses escravos deva ser procurado? "Porque é necessário para eu ganhar cem mil libras". Talvez, sim. Mas como é isso necessário? É muito provável que você fosse um homem melhor e mais feliz, se você não tivesse um quarto disso. Eu nego que seu ganho de mil libras seja necessário, tanto para a sua felicidade presente, como para sua felicidade eterna. "Entretanto, você deve argumentar... Esses escravos são necessários para o cultivo de nossas ilhas; visto que como os homens não são capazes de trabalhar em climas quentes". Eu respondo, Primeiro: seria melhor que todas essas ilhas pudessem permanecer não cultivadas para sempre; sim, seria mais desejável que eles afundassem nas profundezas do mar, do que serem cultivadas, pelo preço tão alto como a violação da justiça, misericórdia, e verdade. Segundo: a suposição na qual você alicerça seu argumento é falsa. Porque os homens brancos, mesmos os ingleses, são muito bem capazes de trabalhar em clima tropical; contanto que, eles sejam temperados com carne e bebida, e que eles se habituem a isso por etapas. Eu falo não mais do aquilo que eu sei por experiência. Tudo indica pelos termômetros que o verão quente na Geórgia é, freqüentemente, igual ao de Barbados; sim, a aquele abaixo da linha do equador. E, sim, eu e minha família (oito ao todo) empregamos nosso tempo livre lá, em derrubar árvores, limpar o solo; trabalho tão duro, como esse para o qual o negro precisa ser empregado. A família germânica, igualmente, quarenta em número, foi empregada, nessa mesma forma de trabalho.  E isso está muito longe de prejudicar nossa saúde; nós todos continuamos perfeitamente bem, enquanto os preguiçosos à nossa volta foram varridos fora como peste. Não é verdade, entretanto, que os homens brancos não sejam capazes de trabalhar, mesmo em clima quente; eles podem trabalhar, tão bem, quanto o negro. Mas, se eles não podem, seria melhor que ninguém trabalhasse lá; que o trabalho fosse deixado sem ser feito, do que miríade de homens inocente pudesse ser morta, e miríades mais arrastadas na mais básica escravidão. 


7. "Mas o fornecimento de escravos é necessário a nós, por causa do comércio, fartura e glória de nossa nação". Aqui estão diversos equívocos. Porque, Primeiro: Fartura não é necessária para a glória de qualquer nação; mas sabedoria, virtude, justiça, misericórdia, generosidade, espírito público, amor ao nosso país. Essas são necessárias à glória real de uma nação; mas abundância de fatura não é. Homens de discernimento concordam que a glória da Inglaterra era tão cheia e alta, nos tempos da Rainha Elizabeth, como é agora; embora nossas riquezas e comércio fossem, então, menores, tanto quanto nossa virtude era maior. Mas, Segundo: Não é evidente que nós podemos ter menos dinheiro ou comércio (apenas, menos desse comércio detestável de roubo humano), se houver menos negro, em todas as nossas ilhas, ou em toda nossa América inglesa. Isso é demonstrável: já que homens brancos, habituados, gradualmente, podem trabalhar, tão bem, quanto eles; e eles fariam isso, estivessem os negros fora do caminho, e se o encorajamento apropriado fosse dado a eles. De qualquer modo, em Terceiro Lugar: Eu volto para o mesmo ponto: Melhor não ter comércio, do que comércio conseguido pela vilania. É muito melhor não ter fartura, do que ganhar fartura às expensas da virtude. Melhor é a pobreza honesta, do que toda a riqueza trazida pelas lágrimas, e suor, e sangue de nosso próximo.


8. "Como quer que isso seja, é necessário, quando nós temos escravos, usá-los com severidade". O que, para chicoteá-los, por toda ofensa insignificante, até que eles estejam com o sangue coagulado? Para não perder a oportunidade de jogar pimenta e sal em suas feridas na carne? Para pingar cera fervente sobre a pele deles? Para que sejam castrados? Para cortar fora metade de seus pés, com um machado? Para dependurá-los em uma forca, e, assim, possam morrer, aos poucos, de calor, fome e sede? Para prendê-los ao chão, e, então, queimá-los, gradualmente, dos pés à cabeça? Para assá-los vivos? Quando, então, um turco ou um pagão, acharia necessário usar o próximo dessa maneira? Eu imploro que me diga, para qual finalidade é esse uso necessário? "Para prevenir que eles fujam; para mantê-los, constantemente, em seus trabalhos, e assim, não fique à-toa, no seu tempo: essa raça de homens é tão miseravelmente estúpida; sim, tão teimosa, e tão perversa". Concordando que eles sejam assim, tão estúpidos, como você diz, a quem essa estupidez é devida? Sem dúvida, é culpa, inteiramente, do inumano proprietário; que deu a eles nenhum meio, nenhuma oportunidade de melhorar seu entendimento; e, realmente, não lhes deixou motivo, ou de esperança ou de temor, de experimentar qualquer outra coisa. De maneira alguma eles eram notáveis estúpidos, enquanto permaneceram em seus próprios países: Os habitantes da África, onde eles têm motivos e meios iguais de melhoria, não são nada inferiores aos habitantes da Europa; alguns deles são, grandemente, superiores. Em um levantamento imparcial, em seu próprio país, os nativos de Benin, e os nativos da Lapônia; em comparação (colocando o preconceito de lado) com os Samoanos e os Angolanos; de qual lado existe vantagem, sob o ponto de vista do entendimento? Certamente os africanos são, de nenhum modo, inferiores aos europeus. Então, a estupidez deles, em nossas plantações, não é natural; ao contrário, é um natural efeito da condição, em que se encontram. Conseqüentemente, não é culpa deles, mas de vocês! Vocês deverão responder por isso, diante de Deus e dos homens!  


9. "Mas a estupidez deles não é a única razão para que os tratemos com severidade. Porque é difícil dizer, o que é maior, isso, ou a teimosia e a maldade". Pode ser, então. Mas tanto esses, quanto o outro, não são sua culpa? Não é a teimosia, manha, roubo, furto e outros vícios, os frutos naturais e necessários da escravidão? Essa não é uma observação a qual tem sido feita, em todas as épocas e nações? E quais os meios que você usou para remover essa teimosia? Você tentou o que a mansidão e a gentileza fariam? Eu sei de alguém que fez; que teve prudência e paciência para fazer o experimento; Sr. Hugh Bryan, que viveu nos arredores da Carolina do Sul. E qual foi o resultado? Todos os negros (e eles não tinha um número pequeno) o amaram e reverenciaram como pai, e, alegremente, foram obedientes a ele, por amor! Sim, eles tinham mais medo da desaprovação dele, do que das muitas pancadas de um capataz. E quais cuidados vocês têm tomado; qual o método que vocês têm usado? Tem você, cuidadosamente, ensinado a eles que existe um Deus, um Ser sábio, poderoso e misericordioso, Criador e Governador dos céus e da terra?  E que Ele designou um dia, na qual Ele irá julgar o mundo, e fará um relato de todos os nossos pensamentos, palavras e ações? Que, nesse dia, ele irá recompensar cada criança do homem de acordo com suas obras? Que, então, os justos herdarão o reino preparado para eles, desde a fundação do mundo; e a maldade será lançada, no fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos? Se vocês não têm feito isso; se não têm tomado cuidado ou pensado a respeito do assunto, como vocês podem se surpreender com a maldade? Qual a surpresa de que eles possam cortar a garganta de vocês? E se eles o fizerem, quem vocês poderiam agradecer por isso, a não ser vocês mesmos? Vocês, primeiro, agiram como vilões, fazendo a eles de escravos; tanto faz, se vocês os roubaram ou compraram. Vocês os mantiveram estúpidos e maus, tirando deles todas as oportunidades de melhorarem tanto o conhecimento, quanto a virtude: E agora vocês atribuem a necessidade deles de sabedoria e santidade como a razão para usá-los de maneira pior do que animais selvagens!


V. 1. Resta apenas fazer uma pequeno requerimento das observações precedentes. Mas para quem esse requerimento deve ser feito? Isso também nos leva a um questionamento. Nós podemos nos endereçar ao público livremente? Que resultado isso pode ter? Isso pode inflamar o mundo contra o culpado, mas não pode remover a culpa. Nós podemos apelar para a Nação Inglesa, em geral? Isso também pode chamar a atenção amplamente; mas nunca é como conseguir alguma retificação pelas maldades intoleráveis das quais lamentamos. Como pouca coisa seria, com toda probabilidade, eficaz para recorrer ao Parlamento; desta forma, muitas coisas, que parecem de grande importância, colocadas diante deles, eles não iriam prestar atenção, igualmente. Eu, entretanto, acrescento algumas poucas palavras para aqueles que são mais imediatamente afligidos, sejam capitães, mercadores ou plantadores. 


2. E, em Primeiro Lugar, para os capitães empregados nesse comércio. Muitos de vocês conhecem o país Guiné; diversas partes deles, pelo menos, entre o rio Senegal e o reino de Angola. Talvez, agora, através de seus métodos, transformou-se numa selva estéril, não cultivada; com os habitantes sendo todos mortos ou carregados embora, de modo que não há alguém restante para cultivar a terra. Mas vocês bem conhecem o quão populoso, quão fértil, quão agradável ele era alguns poucos anos atrás. Vocês sabem que as pessoas não eram estúpidas. Nem vocês os achavam selvagens, ameaçadores, cruéis, traiçoeiros, ou indelicados com estrangeiros. Muito pelo contrário, eles eram, na maioria dos lugares, pessoas sensíveis e ingênuas. Eles eram gentis e amistosos, corteses e serviçais, e, notavelmente, sinceros e justos nos negócios deles. Tais são os homens, que vocês contratam dos próprios compatriotas deles, arrancando-os fora, dessa região amorosa; parte por roubo; parte pela força; parte, capturando-os naquelas guerras que vocês erguem e fomentam com esse propósito. Vocês o têm visto serem removidos — filhos de seus pais; pais de seus filhos; maridos de suas esposas; esposas de seus amados maridos; irmãos e irmãs, uns dos outros. Vocês têm arrastados aqueles que nunca fizeram a vocês coisa alguma de errado; talvez, nas correntes de sua Costa nativa. Vocês têm forçado que eles entrem nos navios, como rebanho de suínos — aqueles que têm a alma imortal como a de vocês; apenas alguns deles saltam para dentro do mar, e resolutamente, permanecem debaixo da água, até que não possam sofrer coisa a mais de vocês. Vocês os têm acondicionado juntos, tão apertados, como eles nunca estiveram, sem qualquer cuidado com a decência ou conveniência. E, quando muitos deles se envenenaram com o ar poluído, ou sucumbiram, debaixo de muitos sofrimentos, vocês viram seus corpos entregues às profundezas do mar, até que o mar desistisse de seus mortos. Vocês carregaram os sobreviventes para a escravidão vil, que nunca termina a não ser com a vida; tal escravidão, como não é encontrada entre os turcos, em Algiers; não, nem mesmo entre os pagãos, na América. 


3. Eu posso falar francamente com vocês? Eu devo. Amor me constrange a isso; amor por você, tanto quanto por aqueles com quem vocês fazem negócios. Há um Deus? Vocês sabem que há. Ele é um Deus justo? Então, deve existir uma condição de retribuição; uma condição onde o justo Deus irá recompensar todo homem de acordo com suas obras. Então, que tipo de recompensa ele atribuirá a vocês? Oh! Pensem, a tempo, antes que vocês caiam na eternidade! Pensem agora, "Ele deverá julgar, sem misericórdia, aqueles que não mostraram misericórdia!". Vocês são homens? Então vocês devem ter um coração humano. Mas vocês têm, realmente? De que é feito o coração de vocês? Existe algum princípio, lá, como compaixão? Vocês nunca se importam com a dor do outro? Vocês não têm simpatia, nenhum sentimento de aflição, nenhuma piedade pelos que sofrem? Quando vocês viram os olhos, o peito pesado, ou os lados ensangüentados e os membros torturados de seu próximo, vocês eram pedra, ou brutos? Vocês os olharam com os olhos de um tigre? Quando vocês colocaram essas criaturas agonizantes dentro do navio, ou quando vocês atiraram seus pobres restos destroçados no mar, vocês não tiveram compaixão? Nenhuma lágrima caiu dos olhos de vocês, um sinal escapou de seus peitos? Vocês não sentem alguma compaixão agora? Se vocês não têm, vocês devem seguir em frente, até que a medida de suas iniqüidades seja saciada. Então, o grande Deus irá fazer um acordo com vocês, assim como vocês fizeram com eles, e solicitar o sangue deles nas suas mãos. E, "nesse dia, haverá mais tolerância para Sodoma e Gomorra do que para vocês!" Mas, se seu coração apiedou-se, embora em pequena escala, saiba que esse é um chamado do Deus do amor. E, "hoje, se você ouvir a voz Dele, não endureça seu coração". Hoje decidam, Deus sendo o ajudador de vocês, a libertarem-se por suas vidas. Não esperem recompensa! Tudo o que um homem tiver ele dará por sua vida! O que quer que vocês percam, não percam a alma de vocês: nada poderá recompensar essa perda. Abandonem, imediatamente, esse horrível comércio. Em todos os eventos sejam homens honestos.   


4. Isso, igualmente, diz respeito a todos os mercadores que estão engajados nesse comércio escravo. São vocês que induzem os africanos a venderem seus compatriotas; e, com o objetivo disso, a roubar, furtar, assassinar, um sem número, de homens, mulheres e crianças, habilitando o vilão inglês a pagar a quem faz isso, e a quem vocês sobrepagam por seu trabalho execrável. É o dinheiro de vocês que é a mola de tudo, afinal; que dá poderes a ele para seguir em frente: de modo que o que quer que ele ou os africanos façam, nesse assunto, é tudo ação e proeza de vocês. E as suas consciências estão, completamente, reconciliadas com isso? Elas nunca os reprovam, afinal? O ouro cegou vocês, inteiramente, e tornou seus corações estúpidos? Vocês podem ver, ou sentir nenhum dano, nisso? Está sendo feito como você gostaria que fosse feito? Faça, do caso, o seu próprio. "Amo", disse o escravo, em Liverpool, para o mercador que o possuía, "e se alguns de meus compatriotas viessem até aqui e levassem embora a sua mulher amada, o Amo Tommy, e o Amo Billy, e os carregassem, para nosso país, e os fizessem escravos, como você poderia gostar disso?". E ele deu uma resposta merecedora de um homem: "Eu nunca mais comprarei um escravo mais, enquanto eu viver!". Oh! Permita que a resolução dele seja a sua! Não faça mais parte nesse trabalho detestável. Deixe, imediatamente, isso para aqueles desprezíveis insensíveis que riem da natureza e compaixão humana! Seja você um homem, não um lobo, um devorador da espécie humana! Seja misericordioso, para que você possa obter misericórdia!


5. E isso, igualmente, diz respeito a todos os cavalheiros que têm uma propriedade rural em nossas plantações americanas; sim, a todos os donos de escravos, em qualquer categoria ou escala; vendo que os compradores de escravos estão no mesmo nível que os ladrões. Realmente, vocês dizem: "Nós pagamos, honestamente, pelas minhas mercadorias; e não estamos preocupados em saber como elas são conseguidas". Mais ainda, vocês estão; vocês estão, profundamente, preocupados em saber, se elas são conseguidas honestamente. Do contrário, vocês são cúmplices de um ladrão, e não são, em nada, mais honestos do que ele. Mas vocês sabem que elas não são conseguidas honestamente; vocês sabem que elas são procuradas, por meios nada perto de serem inocentes, do que os "batedores" de carteira, arrombadores de casa, ou ladrões nas estradas. Vocês sabem que elas são procuradas, por meio de uma série deliberada da mais complexa vilania (de fraude, roubo, e assassinato), do que aquela que foi sempre praticada, tanto por maometanos, quanto por pagãos; em particular, por assassinos, de todas as espécies; e pelo sangue do inocente, despejado sobre o solo, como água. Agora, é o dinheiro de vocês que paga os mercadores, e através dele, o capitão e os carniceiros africanos. Vocês, entretanto, são culpados, sim, principalmente, culpados de todas essas fraudes, roubos, e assassinatos. Vocês são a fonte que coloca todos os demais em movimento; eles não dariam um passo, sem vocês; por esta razão, o sangue de todos esses infelizes que morrem, antes do tempo deles; em seus países, ou em qualquer outro lugar, derrama-se sobre as cabeças de vocês. "O sangue de Teu irmão" (porque, quer acredites, ou não, ele está às vistas Dele que o fez) "queixa-se contra ti da terra", do navio, e das águas. Oh! O que quer que isso custe, coloca um ponto final nesses gritos, antes que seja tarde: Instantaneamente, a qualquer preço, fosse isso metade de teus bens, livra-te do sangue da culpa! Tuas mãos, tua cama, teus móveis, tua casa, tuas terras estão, no momento, manchados com sangue. Certamente, já é demais; não acumula mais culpa; não derrama mais o sangue de inocentes! Não contrata outra pessoa para verter o sangue; não paga a ela para fazer isso! Sejas tu um cristão ou não, mostra a ti mesmo como um homem! Não sejas mais selvagem que um leão ou um urso!


6. Talvez vocês digam: "Eu não compro negro algum; eu apenas uso os que foram deixados por meu pai". Até aí, tudo bem; mas isso é suficiente para satisfazer a própria consciência de vocês? Tinha o pai de vocês, têm vocês, ou qualquer homem vivente, o direito de usar outro como um escravo? Não pode ser, mesmo colocando a Revelação de lado. Não pode ser, que mesmo a guerra ou contrato, podem dar a algum homem tal propriedade em outro, como ele tem com suas ovelhas e gado. Muito menos é possível que algum filho de Deus, ou do homem, possa nascer, alguma vez, como um escravo. Liberdade é o direito de toda criatura humana, tão logo, ele respire o ar vital; e nenhuma lei humana pode privá-lo desse direito que ele obtém da lei da natureza. Se, entretanto, vocês têm alguma consideração à justiça (para não dizer nada de misericórdia, nem da lei revelada de Deus), devolvam tudo o que lhes é devido. Dêem liberdade a quem a liberdade é devida, ou seja, para cada filho do homem, para cada participante da natureza humana. Não permitam que alguém os sirva, a não ser por seu próprio ato ou ação, por sua escolha voluntária. Joguem fora todos os chicotes, todas as correntes, toda a coação! Sejam gentis, para com todos os homens; e vejam que vocês, invariavelmente, fazem a cada um deles, como vocês gostariam que eles fizessem a vocês.   


7. Oh! Tu, Deus do amor, tu que amas a todo o homem, e cuja misericórdia está sobre todas as tuas obras; tu que és o Pai de todos os espíritos de todas as carnes, e que és rico em misericórdia a todos; tu que tens misturado, com um só sangue, todas as nações sobre a terra; tem compaixão desses homens proscritos que são pisoteados como esterco sobre a terra! Levanta, e ajuda esses que não têm quem os ajude, cujo sangue é espalhado sobre a terra como água! Esses também não são trabalho de tuas próprias mãos, a aquisição do sangue de teu filho? Encoraja-os a clamar junto a ti, na terra de seu cativeiro; e permite que a queixa deles chegue, até diante de ti; permite que ela entre pelos teus ouvidos! Faze mesmo aqueles que os aprisiona apiedarem-se deles, e transforma o cativeiro deles como os rios, no sul. Oh! Estoura todos os grilhões, em duas partes; mais especialmente, as correntes de seus pecados! Tu, Salvador de todos, faze com que eles sejam livres, que eles possam ser livres, realmente! 


O descendente de escravo do mau feitor

Confisca como a compra do teu sangue!

Permite que todos os ateus conheçam o teu nome

Dos ídolos ao Deus vivo

Que os sombrios americanos, tu convertas!

E brilha em cada coração pagão!

"Thoughts Upon Slavery", de John Wesley, é originário de "The Works of John Wesley", editado por Thomas Jackson, 1872, Volume XI, pp. 59-79. 


Nota do Editor: John Wesley distribuiu, largamente, esse tratado na Inglaterra e América, com seu próprio nome. Atualmente, ele é uma sinopse dos "Relatos Históricos da Guiné", publicado em 1771, por Antony Benezet, um Americano Quaker. De acordo com Albert Outler, esse tipo de literatura "emprestada" foi vista por Wesley e seus pregadores do século XVIII, como uma forma de endosso, não de plágio. 


[Outler, Albert C. John Wesley (New York: Oxford University Press, 1964), pp. 85-86n.]


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