21 QUAL O EXATO SENTIDO DE FILIPENSES 2:6?

PRETENCIOSAS TESTEMUNHA JEOVA TEMAS



Como bem demonstrou Arnaldo Christianini em Radiografia do Jeovismo, página 58: 

"As fraudes tradutórias das chamadas "testemunhas de Jeová" não se limitam ao abuso de verterem erroneamente ou truncarem os textos sagrados. Vão além e, quando não encontram na Bíblia um cabide em que dependurar suas idéias heréticas, recorrem então ao processo da subtileza, da especiosidade no sentido da frase sacra, forçando-a a amoldar-se ao esquema ariano, que nega a Divindade de Jesus." 

Um exemplo frisante, que comprova as assertivas feitas no parágrafo anterior pelo Pastor Christianini, encontra-se na tradução tendenciosa que fizeram da declaração paulina de Filipenses 2:5 a 11. 


O livro Seja Deus Verdadeiro, página 32 declara o seguinte: 


"Na carta aos crentes filipenses este escritor hebreu diz alguma coisa sobre o passado pré-humano de Jesus, declarando: 'Mantenham esta atitude mental, que também era de Jesus Cristo, o qual ainda que existisse em forma divina, não deu lugar à usurpação, isto é, não se considerou igual a Deus. Não, mas ele se esvaziou e tomou a forma de escravo e fez-se à semelhança do homem. Mais do que isso, quando o encontramos na forma de homem, ele se humilhou e foi obediente até a morte, sim, morte no poste dos suplícios. Por causa disso exatamente, Deus o exaltou a uma posição superior e deu-lhe bondosamente o nome que está acima de qualquer outro nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho daqueles que estão no céu e na terra e debaixo da terra, e que toda língua confesse abertamente que Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai'. (Filip. 2:5-11 - Tradução Novo Mundo). 

"Esse alguém não era Jeová Deus, mas existia na forma de Deus. Como assim? Era um espírito, exatamente como Deus é um Espírito; era poderoso, ainda que não Todo-Poderoso como Jeová Deus." 

Duas páginas na frente (p. 34) o mesmo livro afirma: 

"Antes de vir à terra, esse Filho unigênito de Deus não se julgava igual a Jeová Deus; ele não se considerava 'igual em Glória e poder' com o Deus Todo-Poderoso; ele não seguiu o caminho do Diabo e não conspirou nem planejou fazer-se igual ou semelhante ao Deus Altíssimo, nem usurpar o lugar de Deus. Pelo contrário, provou a sua sujeição a Deus como seu Superior, humilhando-se sob a mão toda poderosa de Deus, até o mais ínfimo grau, que significa uma morte infamante sobre um poste de suplícios. Citando a tradução Diaglótica Enfática de Filip. 2:5-8, temos: 'Cristo Jesus, o qual, ainda que tendo a forma de Deus, não pensou em usurpação para ser igual a Deus, mas despojou-se, tomando a forma de escravo, tendo sido feito à semelhança dos homens; e estando na condição de homem, ele se humilhou, tornando-se obediente até a morte, até mesmo morte de cruz'." 

Nestas duas citações encontramos uma das maiores aberrações no traduzir a Bíblia e uma tremenda distorção da exegese das Escrituras Sagradas. 

As traduções Diaglótica Enfática e Novo Mundo não são reconhecidas pelas autoridades da língua grega. 

Lendo apressadamente Filip. 2:6 na tradução Novo Mundo: "O qual embora existisse em forma de Deus, não deu consideração a uma usurpação, a saber, que devesse ser igual a Deus" poucos notariam a propositado distorção do pensamento do apóstolo, que é mostrar, que Cristo embora fosse igual a Deus, não se agarrou a esse privilégio, mas dele abriu mão, para tomar a forma humana. 

Em grego Paulo escreveu: ov en morfh yeou uparcwn ouc arpagmon hghsato to einai isa yew, cuja tradução literal na ordem helenística seria: O qual na forma de Deus subsistindo não usurpação julgou o ser igual com Deus. 

Em bom vernáculo o sentido seria: O qual subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação ser igual a Deus. 

Parece-me que não foi muito feliz a tradução que se encontra em A Bíblia na Linguagem de Hoje na segunda parte do versículo: "Ele sempre teve a mesma natureza de Deus, mas não tentou ser, pela força, igual a Deus". Ele não se apegou pela força a este privilégio – ser igual a Deus. 

A explicação dada por Roberto G. Bratcher, um dos tradutores do Novo Testamento na Linguagem de Hoje, não nos convence por não ter atendido à Analogia da Fé, ao contexto e à teologia paulina. Eis suas palavras: 

"Desde os tempos antigos os comentadores e expositores se têm dividido em dois grupos: para uns a palavra harpagmos significa (1) algo a ser mantido pela força, e outros (2) algo a ser conseguido pela força. A idéia de força está presente na palavra harpagmos, bem como em suas formas verbais e nominais; mas é impossível determinar com perfeita segurança se nesta passagem quer dizer algo a ser mantido ou a ser conseguido. Que é que Paulo quis dizer quando escreveu estas palavras? Que Cristo não pensava que igualdade com Deus era algo a ser conseguido? Ou que era algo a ser mantido? O tradutor precisa decidir-se, ele precisa tornar claro o sentido. 

"O N. T. L. H, dá a idéia de conseguir; este é o sentido do texto consignado na American Standard Version, Revised Standard Version,  nas traduções de Weymouth, Knox, Goodspeed e na New English Bible.  Outras traduções têm a idéia de reter a igualdade com Deus, como a Twentieth Century, Moffatt, Phillips e a Bíblia de Jerusalém." 

Revista - A Bíblia no Brasil, Janeiro-Junho, 1974, pág. 14. 


O professor de grego William Carey Taylor em seu livro Introdução ao Estudo do Novo Testamento Grego, capítulo 86, n.º 790, assim traduz: "O qual, existindo essencialmente em natureza de Deus, não considerou o estar em pê de igualdade com Deus presa (o ser cobiçado e retido como a leoa segura a presa ou o salteador o seu espólio)." 

As traduções dos Rutherfordistas têm uma única e fundamental finalidade, negar a Divindade de Jesus, por isso traduzem a aludida passagem dando a impressão de que Cristo não se interessava pela Divindade, chegando mesmo a menosprezá-la. 

Há neste versículo, três palavras que merecem um estudo mais detido para que compreendamos bem o sentido que Paulo nos quis  transmitir: 

a) υπαϖρχων – nom. sing. masc. do part. presente do verbo 

υπαϖρχω – existir, ser, subsistir, indicando uma condição essencial ou original que perdura, em contraste com o fugaz e acidental. 

ειμιϖ – ser, existir, o verbo geral de existência. 

γιϖνομαι – tornar-se, nascer, acontecer, ser feito, especificando o que uma pessoa se torna quanto à qualidade, condição, categoria ou caráter. Filip. 2:6- 8 ilustra os três verbos". 

Tanto Blass § 414, quanto Robertson página 1121, em suas respectivas gramáticas, nos afirmam que o verbo guinomai é amplamente usado como um substituto para "eimi".

b) αρπαγνοϖν – que apenas foi usada nesta passagem, é o acus. singular de arpagmós = roubo. Segundo The Analytical Greek Lexicon, na Bíblia significa: uma coisa retida com ávido desejo ou avidamente reivindicada e conspicuamente exercida. 

c) μορφηϖ – Taylor, no livro já citado, na página 393, explica-nos o seguinte: 

ειδοv – forma, com ênfase sobre o aspecto exterior. Luc. 3:22; João 5:37; II Cor. 5:7. 

μορφηϖ – forma, implicando essencial caráter e natureza. Está em contraste com σχη∼∼μα – figura, semelhança exterior e efêmera. Morfê salienta a essencial natureza divina e a real humanidade de Jesus, em Fil. 2:6-7; squêma salientando a fase passageira da sua humilhação.

Vincent, abalizado comentarista, em Word Studies in The New Testament, vol. III, páginas 430 e 431 comentando a palavra morfê afirma: "Precisamos banir de nossa mente a idéia de forma. A palavra é usada em seu sentido filosófico para denotar aquela expressão do ser que teria em si mesmo a distinta natureza e caráter do ser a quem pertence e é assim permanentemente identificada com aquela natureza e caráter. Assim é distinta de squêma, porque compreende aquilo que apela aos sentidos e que é mutável. Morfê é identificada com a essência de uma pessoa ou coisa. Squêma é um acidente que pode mudar sem afetar a forma. Para o termo morfê aplicado a Deus não temos nenhuma palavra que possa transmitir sua exata significação... 

Dizer de Cristo, que sendo na forma de Deus, é dizer que ele existia tão essencialmente como Deus existe". 


O Comentário Adventista, Vol. 7, página 154 afirma sobre esta palavra: 

" 'Morfê' aqui denota todas as características e atributos essenciais de Deus. Neste sentido, morfê representa a maneira em que as qualidades e características eternas de Deus se têm manifestado. Seja qual for a forma que essa manifestação tenha tomado, foi ela possuída por Cristo, que por isso existiu como Um com Deus". 

Sabatini Lalli em O Logos Eterno pondera: 

"A expressão, 'que sendo ou subsistindo na forma de Deus', revela que, na mente lúcida de Paulo, como também no texto grego – pois o apóstolo se expressa com clareza e segurança – está contida a afirmação da preexistência eterna do Logos Divino. Em sua segunda Carta aos Coríntios 8:9, Paulo afirma: 'Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela Sua pobreza enriquecêsseis'. A mesma força verbal que se encerra na frase 'sendo ou subsistindo na forma de Deus', de Fil. 2:6, é evidente e irredutível na expressão 'sendo rico', de II Cor. 8:9. Cotejando estas duas passagens, concluímos que, além de o Logos, como Pessoa, ter existência eterna, conforme João 1:1, possuía também as riquezas próprias do Seu estado de Divindade. 

"Para o Apóstolo, o Logos não 'era' pobre, mas 'tornou-se' pobre. 'fez-se' pobre. O verbo grego 'ptochéno' – que significa 'tornar-se pobre', 'fazer-se pobre' ou 'empobrecer' – é empregado por Paulo na terceira pessoa singular do Indicativo Aoristo (éptócheusen) e indica uma ação passada que se realizou em certo tempo. Este tempo é referido por Paulo em Gál. 4:4 e na Carta aos Hebreus 1:1. A riqueza que o Logos Divino renunciou, quando assumiu a forma ou a natureza humana, foi a Sua glória, o Seu Domínio e a Sua Bem-aventurança, na Sua Pobreza. O Logos identificou-se com a raça humana na sua miséria, e, por meio desta identificação, enriqueceu-a com a suprema dádiva da Justificação, da Iluminação, da Santificação, da Paz, da Alegria, da Certeza da Vida Eterna, presentes de valor infinito que a raça recebeu em virtude da encarnação do Logos'." Páginas 38-39. 

Morfê significa poder, glória, majestade, natureza, essência. Essa palavra traduziria bem o sentido de glória que se encontra em S. João 17:5. 

O oráculo Russelita, na página 22, comentando Fil. 2:1-11 afirma: "Paulo faz claro que Cristo Jesus em sua forma pré-humana não era igual a seu Pai. Ele aconselha os cristãos a não serem motivados pelo egoísmo, mas a terem humildade de mente, assim como teve Jesus Cristo, que, embora existindo na forma de Deus, antes de sua vinda à Terra, não foi ambicioso para tornar-se igual seu Pai". 

Eles sustentam ainda, que Paulo nesta passagem ensina que Jesus era inferior ao Pai, em natureza, quando na realidade a teologia paulina é totalmente oposta a esta afirmação. Basta citar: 

1º) Col. 2: 9 – "Porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade." 

2º) Tito 2:13 – "Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo." 

3º) Heb. 1:8 – "Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos." 

Segue-se uma página bastante oportuna, relacionada com este tema, citada por Homero Duncar, no livro Testemunhas de Jeová?! 

Com permissão da Oxford University Press citamos o rodapé desse texto na New Scofield Reference Bible (Fil. 2:6): "Esta é uma das afirmativas mais incisivas do Novo Testamento sobre a Divindade de Jesus Cristo. A forma (no grego morfê) é a aparência externa pela qual uma pessoa ou coisa dá na vista; é entretanto, uma forma externa verdadeiramente indicativa da natureza interior da qual brota. Nada nesta passagem ensina que a Palavra eterna (João 1:1) se esvaziasse de Sua natureza divina ou de seus atributos, mas apenas da manifestação externa e visível da Divindade. Deus pode mudar de forma, mas Ele não pode deixar de ser Deus. Em todas as ocasiões Seus atributos divinos puderam ser exercidos de acordo com a Sua vontade". 

Os editores da Scofield Reference Bible, que fizeram tal declaração, são mundialmente reconhecidos como sendo competentes mestres da Bíblia . 

Sabatini Lalli, em O Logos Eterno, página 38, enfatiza mais uma vez: "No texto de Fil. 2:6-11 ocorrem duas palavras cujo sentido deve ser notado, porque revelam o propósito definido que Paulo tinha em mente: "morfê" e "schema". A palavra "morfê" significa "forma" e envolve também a idéia de "substância" ou "essência". A palavra "schema", por outro lado, tem, entre outros o sentido de "forma", "aparência", "semelhança" e "figura". Sófocles, por exemplo, empregando a palavra "schema", escreveu: 'Tyrannon schema échein' (tem ares ou aparência de rei). Isto significa que qualquer pessoa pode ter "ares" ou "aparência" de rei, sem ser, necessariamente, rei. A palavra "morfê" portanto, em contraste com "schema", denota a forma que é a expressão externa de determinada substância e essa forma é concebida como intimamente relacionada com a natureza dessa substância". 

Em Fil. 2:6 Paulo afirma que Cristo não teve o desejo de lutar por aquilo que era seu por natureza e herança. 

Para não nos alongarmos cansativamente em comentários sobre esta passagem, apresentamos ainda uma tradução e uma paráfrase, já tornadas conhecidas, entre nós, pelo Pastor Christianini, ao tratar deste mesmo assunto. 

"Arthur S. Way, hábil tradutor de clássicos gregos, em "The Epistles of St. Paul" (edição 1921), página 55, assim traduz o passo: 'Ele mesmo, quando subsistia na forma de Deus, não se agarrou egoisticamente à Sua prerrogativa de igualdade com Deus...' 

"E o erudito G. B. Phillips, em Epistles to New Churches, 1948, página 113, em tradução perifrástica, assim verte o texto: 'Porque Ele, que sempre fora Deus por natureza, não se ateve às Suas prerrogativas de igualdade com Deus, mas despiu-se de todo o privilégio, consentindo tornar-Se escravo por natureza e nascendo como homem mortal'. 

O autor de Radiografia do Jeovismo, após seu comentário desta passagem pergunta: 

"Diante dessa nuvem de testemunhas, as mais autorizadas, verdadeiras sumidades na língua original do Novo Testamento, em que fica o arremedo de tradução, o mistifório jeovista?" 


Sendo que não há resposta a sua pergunta, eis aqui a minha: 

Estudando-lhes as doutrinas, comparando-as com os ensinamentos bíblicos, contra os quais assestam as suas armas negativistas e demolidoras à Divindade de Cristo e a Trindade, concluo que muito apropriadamente se lhes aplica o provérbio: O pior cego é aquele que não quer ver. 


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