1 A DATA CRUCIAL DE 1975

Radiografia Jeovismo temas



As chamadas Testemunhas de Jeová, nos últimos anos, em seus escritos e especialmente em suas palestras e estudos orais, têm dado muita ênfase à data de 1975, como ano decisivo "nos planos de Jeová". 


Nos seus contatos missionários diziam abertamente que surgiria o Armagedom e até outubro desse ano tudo estaria consumado na Terra, seria o início do milênio sabático, coincidindo com seis mil anos da existência do homem. Em sua literatura proselitista, essas afirmações, embora não categóricas, são insinuadas de forma bem persuasiva. Transcrevemos algumas dessas declarações, extraídas do livro Vida Eterna – na Liberdade dos Filhos de Deus, editado em 1966. 


Página 29: 


"Os seis mil anos desde a criação do homem terminarão em 1975 e o sétimo período de mil anos da história da vida humana começará no outono (segundo o hemisfério setentrional) do ano de 1975 E.C. (...) Quão apropriado seria se Jeová-Deus fizesse deste vindouro sétimo período de mil anos um período sabático de descanso e livramento, um grandioso sábado de jubileu para se proclamar liberdade através da Terra e todos as seus habitantes!" 


Página 30: 

"Não seria por mera acaso ou acidente, mas seria segundo o propósito amoroso de Jeová-Deus que o reinado de Jesus Cristo, o Senhor do sábado, correspondesse ao sétimo milênio da existência do homem". 


Página 57: 

"O atual sistema de coisas fútil da humanidade escravizada será completamente eliminado, e então o sistema divino de libertação assumirá o controle completo sobre a Terra". 


No mesmo livro há exaustiva Tabela de Datas Significativas, que assim conclui: 

Era Cristã            Ano do Mundo 

1975                    6.000 – Fim do 6.° dia de mil anos de existência 

                                             do homem (em princípios de outubro)

2975                    7.000 – Fim do 7.º dia de mil anos. 


Fica claro, portanto, que, segundo essas declarações, e as palestras e estudos verbais apresentados pela seita, o Armagedom estaria terminado antes de outubro de 1975, seguindo-se o início do milênio sabático, o sétimo e último, a consumação dos séculos, o livramento jubilar, o reinado de Cristo com os 144.000 no decurso desse milênio. E não haverá um oitavo milênio. 

Nada, porém, acontece cm 1975. Por quê? Simplesmente porque o cálculo profético dos jeovistas baseou-se em duas falsas premissas. Primeiro, o conceito errôneo do "dia-milênio". Segundo, uma falsa cronologia da criação do homem. Vamos analisá-las a seguir. 


É Bíblico o Dia Milenar?


Seria correto deduzir dos textos de Sal. 90:4 e II S. Ped. 3:8 que cada dia profético vale mil anos? 

Respondemos convictamente: Não, não é correto. Não há o menor fundamento para isto. Seria um falseamento dos princípios exegéticos. 

1. Esses textos não estabelecem uma medida de tempo profético, nem sugerem uma EQÜIVALÊNCIA, mas apenas uma COMPARAÇÃO. Que isto fique bem frisado. Citemos o primeiro versículo, da versão Revista e Atualizada: 

"Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite." (Sal. 90:4) 

a) O contexto do Salmo esclarece sobejamente o sentido do versículo: a brevidade da vida humana em comparação com a eternidade de Deus. Comparação e não equivalência, pois esta redundaria em absurdo como se verá. 

b) A palavra "mil," no caso, é um hebraísmo (maneira de expressar própria da língua hebraico), que designa uma grande quantidade indefinida. Eis um exemplo clássico: "Caiam mil ao teu lado, e dez mil à tua direita, tu não serás atingido" (Sal. 91:7). É evidente que a palavra mil aí não é expressão aritmética, mas apenas uma figura literária indicando quantidade indefinida, embora grande. 

c) Documentemos isto com mais exemplos: 

"... um dia nos Teus átrios vale mais do que mil". Sal. 84:10. 

"mil homens fugirão pela ameaça de apenas um". Isa. 30:17. 

"nem a uma das mil coisas lhe poderá responder". Jó 9:3. 

"Entre mil homens achei um como esperava". Ecles. 7:28. 

"um só perseguir mil, e dois fazer fugir dez mil". Deut. 32:29. 

"o mais pequeno virá a ser mil". Isa. 60:22. 

A palavra "mil" é idiomatismo do Hebraico que, além de significar o numeral ordinal, significa também, por extensão de sentido, uma quantidade elevada indefinida. É usual no Velho Testamento, e em nenhum dos exemplos apontados poderá significar uma numeração exata. 


2. O original também esclarece muito o exato sentido do texto. No hebraico lemas: 'êleph (mil) shaniym (nos) bcêy-neypha (aos olhos Teus) keyom (COMO o dia) éthemôl (último) kiy (que) içabir (se apresentou). 

Mesmo leigo notará que "como o dia," no hebraico é KE-yom, sendo a conjunção KE correspondente a COMO. É, portanto, nitidamente comparativa. Apenas comparativa. Eqüivale à conjunção grega hôs, e assim a Septuaginta (texto do Velho Testamento em grego, iniciado em Alexandria no séc. III A.C.) a verteu. 

Como a comparação é sobre a brevidade da vida humana, o mesmo verso a compara ainda "COMO a vigília da noite". Convém notar mais o seguinte: o sistema de 4 vigílias com duração de aproximadamente três horas cada, vigente nos tempos de Cristo, se estabeleceu pela influência greco-romana. Nos recuados tempos bíblicos do VT, a noite dividia-se em três vigílias de maior duração, sendo que a primeira ia do pôr-do-sol à meia-noite, a segunda da meia-noite ao cantar do galo, e a última desse limite até ao amanhecer (Êxo. 14:24; Juí. 7:19; Lam. 2:19). Essas vigílias não tinham uma duração rigorosamente matemática, pois a primeira quase eqüivalia às duas últimas. Isto é importante, porque jamais poderia servir para indicar um período profético exato. Portanto, a expressão "como a vigília da noite" é apenas comparativa a um tempo indefinido. Comparação a um tempo que se escoa, que deflui, que passa, que transcorre certo mas indefinido. Nunca, porém um lapso de tempo cronometrado, exato, aritmético e fatal. 

a) No mesmo salmo a conjunção comparativa hebraica ke surge em outros passos: 

Verso 5: "... são COMO um sono..." são "COMO a relva". 

Verso 9: "nossos dias... nossos anos COMO um breve pensamento". 

b) Em outros salmos: 

37:2:  "murcharão COMO a erva verde". 

72:16: "floresçam os habitantes COMO a erva da terra".  

92:7:   "os ímpios brotam COMO a erva". 

92:12: "o justo florescerá COMO a palmeira... COMO o cedro do Líbano". 

Ainda outros textos poderíamos alinhar. Conclusão: "mil" é hebraísmo, e "como" é conjunção comparativa, nada indicando medida profética de tempo. 


3. Citemos o segundo texto. Está assim na versão Revista e Atualizada: 

"... para o Senhor um dia é COMO mil anos e mil anos COMO um dia". (II S. Ped. 3:8.) 

A ênfase é nossa. O próprio contexto esclarece o sentido: aos impacientes quanto à vinda de Cristo, Pedro fala da longanimidade divina que quer dilatar o tempo desse grandioso acontecimento para que todos cheguem ao arrependimento, se possível. A palavra grega hôs aí é meramente comparativa. Jamais poderia estabelecer uma equivalência, porque então chegaríamos a este absurdo: mil anos na Terra correspondem a um dia no Céu, e lá então existe tempo. 

E o grego ainda nos ajuda muito neste ponto. Por exemplo, hôs em S. Mar. 5:13 significa "aproximadamente", "cerca de", "mais ou menos" (dois mil porcos). Por quê? Porque há uma regra gramatical que estabelece: diante de numerais, "hôs" significa "mais ou menos", "cerca de", "perto de", "condição semelhante" e 'idéias afins". E vamos exemplificar biblicamente: 

Em S. Mar. 4:26: "O reino de Deus é ASSIM COMO (hôs) se um homem lançasse a somente à terra", Seria o mesmo que dizer: "O reino de Deus É COMPARADO A" 

Em S. Mat. 10:16: "Eu vos envio COMO (hôs) ovelhas no meio de lobos". O sentido é: "numa condição semelhante" a ovelhas entre lobos. 

Em Rom. 5:8 "andai COMO (hôs) filhos da luz". O sentido é: "ao estilo de", "comportando-vos como" filhos da luz. 

Em Apoc. 8:8: "O segundo anjo tocou a trombeta, e uma COMO QUE (hôs) grande montanha. . . . " O sentido de hôs aí é: "coisa parecida". 

Em Heb. 7:9: "E POR ASSIM DIZER (hôs) também Levi..." Trata-se, é evidente, de meras comparações, nunca equivalências matemáticas. 

O sentido correto de II S. Ped. 3:8 é: "para o Senhor um dia é POR ASSIM DIZER mil anos, e mil anos COMO SE FOSSEM um dia". Ou, ainda conforme a regra: "um dia é COMO CERCA DE mil anos para Deus". E isto visto pelo ângulo humana, temporal, limitado. 


4. Quando a Bíblia quer estabelecer uma medida profética de tempo, não emprega idiomatismos nem comparações vagas. Exemplos: 

Núm. 14:34: "Quarenta dias, CADA DIA REPRESENTANDO UM ANO, levareis as vossas iniqüidades, quarenta anos". 

Ezeq. 4:7: "Quarenta dias te dei, CADA DIA POR UM ANO". 

Maior clareza não pode haver. Não se trata de idiomatismo, nem de comparação. Temos a equivalência clara, lógica, insofismável. E o conteúdo dos versículos alude inequivocamente a um futuro. Portanto é profético. No primeiro caso, a correlação de sentido é tão clara que estabelece a equivalência, e pode ser perfeitamente traduzido assim: "UM DIA EQUIVALE A UM ANO". No segundo caso, há um fato que reforça o sentido. No original hebraico está repetida a expressão "cada dia por um ano". Está literalmente assim: "um dia para o ano, um dia para o ano". Ou melhor traduzindo: "um dia eqüivale a um ano, sim eqüivale a um ano". 

Tal é o critério divino de expressar padrões de tempo profético. 


É  de  6.000  Anos  a  Duração  do  Homem  na  Terra?


O segundo assunto acha-se relacionado com o primeiro. A teoria dos 6.000 anos do mundo habitado é uma antiquíssima especulação que não se originou da Bíblia mas das antigas mitologias persa e etrusca. É, portanto, da pior origem pagã. 

Zoroastro (ou Zaratustra) pregava os seis milênios, no fim dos quais surgiria Soksan (o Libertador) que exterminaria Bivarasp (agente de Ahriman) livrando de seu poder os justos. Então teria início o milênio de Sonksan (o sétimo), com a imortalidade e incorruptibilidade dos justos. Ver Antologia de Leyendas, de Garcia de Diego, Tomo II, página 1214. Consultar também Zoroastrian Theology, de M. N. Dhalla, Nova York, 1914. 

E agora a lenda etrusca. "De um ciclo de 12.000 anos (exatamente em correspondência com os doze signos do Zodíaco), dos quais 6.000 transcorreram na formação do mundo, OS RESTANTES 6.000 ANOS são reservados à história do homem na terra". – Enciclopédia Italiana, ed. 1949, (Vol. XIV, p. 521, 1.ª coluna). Em outras palavras, a existência do homem na Terra limita-se a 6.000 anos. Com base nos signos do Zodíaco, valendo cada signo mil. 

A teoria dos 6.000 anos, pois, teve origem há mais de 500 anos antes de Cristo. Mas não é só. Algumas interpretações rabínicas, sob influência pagã, como as anotadas por Breithaupt sobre Isaaki, admitem a duração do mundo habitado em 6.000 anos, e – muita atenção que isto é importantíssimo – foi baseado nessa suposição que o arcebispo Ussher elaborou sua discutida cronologia, modificada em 1879 por J. B. Dimgleby sendo que este, com base na falsa teoria dos 6.000 anos, marcou o fim do mundo para 5926 A.M., ou seja 1928 A.D. E deu com os burros nágua:.. 

Há, na Patrística, uma obra espúria e indigna de crédito pelos disparates que contém, a chamada Epístola de Barnabé (que alguns supõem datar do séc. III de nossa era. Diz esse pseudo Barnabé, no seu duvidoso livrucho capítulo XV, verso 4. 

"Em seis dias os terminou. Isto significa que em 6.000 anos o Senhor consumará todas as coisas, porque para Ele um dia é como mil anos. Ele mesmo o atesta quando diz: Eis que o dia do Senhor será como mil anos. Portanto, filhos, em seis dias, isto é, em seis mil anos, todas as coisas serão consumadas". 

Nessas águas turvas, lodosas, indignas de crédito, nasceu a teoria dos seis milênios, e é parvoíce forçar um abono escriturístico em seu favor. Interessante que mesmo os que acatam os ensinamentos dos Pais da Igreja vetam Barnabé. Lange afirma: "inferir de II S. Ped. 3:8, como o fez Barnabé, que o mundo durará seis mil anos... é sem nenhum fundamento". E adiante: "O sabatismo do Heb 4.9 tem outro sentido". 

Nosso SDA Bible Commentary afirma: 

"Esta teoria dos 6.000 anos não se baseia em nenhum período profético da Bíblia, que em parte alguma, apresenta este algarismo. Isto se originou na antiga Mitologia (persa e etrusca, por exemplo) e numa analogia judaica dos dias da Criação. Foi adotado por alguns pais da Igreja, como Agostinho. Os algarismos 6.000 são, sem dúvida, uma grosseira aproximação com o tempo da Criação, baseado na cronologia patriarcal hebraica para o presente século, mas a relação deste número com a teoria dos 6.000 anos é mera coincidência". 

Matematicamente, biblicamente, e em fontes idôneas, porém, nada se prova a favor da teoria. Mera especulação, antiga que ressurge agora. 


Adão, Criado no Ano 4.026 A.C.


Prega-se o fim do Armagedom pira outubro de 1975, com suposta base, entre outras, na fixação do ano de 4.026 para a criação do homem. Pode-se ter certeza disto? 

Convictamente respondemos que não se pode, e só o charlatanismo exegético, pretensioso e cego, se atreveria a dogmatizar sobre uma data remota, de exatidão inalcançável prelos meios informativos presentemente disponíveis à documentação e pesquisa. E com plena segurança podemos informar que mesmo os mais credenciados e melhor aparelhados organismos de pesquisas escriturísticas e assuntos orientais que há no mundo, como as categorizadas American Schools of Oriental Research, os especialistas do The Trustees of the British Museum, os departamentos bem aparelhados das universidades de Oxford, Chicago, Princeton e outras, não obstante as mais recentes descobertas no campo da Cronologia, não conseguiram estabelecer precisos dados calendarianos de numerosos e marcantes eventos bíblicos mais recuados no tempo. 

Sem receio de errar pode-se dizer que não existe nem existirá uma cronologia absolutamente exata, e isto porque os dados cronológicos fornecidos pela Bíblia são falhos e insuficientes para com eles elaborar-se a base de um sistema de datas matematicamente e historicamente corretas, precisas, infalíveis. 


Principais Fontes de Cronologia


Será bom dizer que a cronologia dos tempos bíblicos mais remotos dispõe das seguintes fontes: 

1. Bíblicas 

a) Texto Hebraico Massorético 

b) Pentateuco Samaritano 

c) Septunginta (versão do Velho Testamento, em grego)


2. Extrabíblicas 

a) Flávio Josefo, escritor judeu 

b) Cronologia da história do Egito (para comparações). 

Para épocas posteriores, principalmente os tempos pré-exílicos e exílicos, além das deduções cronológicas extraídas da Bíblia, temos: 

a) Cânon de Ptolomeu (Almagesto), obra astronômica do segundo século A.D., que procura cronologar um período de 1.400 anos, a começar com o reinado de Nabonassar, na Babilônia, em 747 A.C. (para comparações). 

b) Cânon Epônimo, formado de tabelas de oficiais assírios. Coincide com o "Cânon de Ptolomeu", e abrange o período de 900 a 650 A.C. (para comparações). 

c) Tábuas Afonsinas, muito recentes (1252 A.D.) elaboradas por ordem do rei Afonso X, de Castela, e tenta abranger todos os períodos da história humana. 

d) Outros computistas de menor peso. 


Dificuldades Para a Conciliação das Fontes


A data do aparecimento do homem na Terra é dada como provável ou aproximada, por qualquer fonte honesta. Milhares de estudiosos, ao longo dos anos, tentaram fixá-la com a maior exatidão possível, e o resultado é este: há perto de 150 datas diferentes apresentadas por cronologistas qualificados, como data da Criação, o que implica na época do surgimento do Adão. Falta-nos espaço para mencionar essas datas, mas diremos que a mais curta é a judaica, que a fixa em 3.483 anos da era cristã, e a maior data é de Afonso de Castela: 6.984 A.C. 


Esbarram as cronólogos e computistas com óbices intransponíveis, dos quais citaremos alguns. 

1. É impossível resolver satisfatoriamente a disparidade de informações para a primitiva cronologia de Adão ao Dilúvio que, 

segundo o Texto Massorético é de 1.656 anos, 

segundo a Septuaginta é de 2.242 anos, 

segundo o Pentateuco Samaritano é de 1.307 anos, e 

segundo informações de Flávio Josefo temos dois totais, um de 2.156 e outro de 2.256. 


2. Seguindo-se as indicações bíblicas, mesmo cotejando-as com datas que os historiadores estabelecem para as dinastias do antigo Egito e reis hititas, fatos posteriores ocorridos na Mesopotâmia, Pérsia, Grécia e Roma, chega-se à conclusão de que de Adão a Cristo temos um número variável de anos ao redor de 3.900 a 4.000. O arcebispo Ussher, por exemplo, fixou a data de 4.00 (que devido ao engano de Dionísio, o Exíguo, em determinar o início da era cristã, foi retificada para 4.004 A.C.) mas fê-lo sem base científica, iludido pela teoria dos "seis milênios". O problema da cronologia exata continua insolúvel e desafiante, embora aceitemos o Texto Hebraico Massorético como a mais fidedigno na atribuição das idades dos patriarcas. 


3. Há um problema, ainda não resolvido, quanto à idade de Terá quando nasceu Abraão. Gên. 11:26 diz que tinha setenta anos e gerou a três filhos (não eram certamente trigêmeos) sendo um deles Abraão. Gên. 11:32 diz que Terá morreu com 205 anos de idade, e logo Abrão deixou Ur, com 75 anos de idade, segundo Gên. 12:4. Como harmonizar isto? Continua desafiando os estudiosos. 


4. Outro problema insolúvel é fixar o início dos 430 anos, período da Promessa a Abrão ao Êxodo, ou tempo da peregrinação dos filhos de Israel no Egito. Êxo. 12:40 e 41. Há várias opções, destacando-se três: 

a) Conta-se sobre a data inicial? 

b) Conta-se sobre a data do pacto com Abraão, quando ele tinha 75 ou 85 anos? Gên. 12:4; 16:13? 

c) Conta-se sobre a data da descida para o Egito, como Ussher? 

Alguns, com base nas dinastias faraônicas, admitindo ser Ramsés II o opressor dos israelitas, datam o Êxodo como ocorrido provavelmente no ano 1.320. E esta data pode ainda ser reduzida a menos de 40 anos, se Ramsés reinou de 1.348 a 1.281 A.C. segundo outros especialistas, destacando-se Mahler, baseado em cálculos astronômicos. Certeza, porém, não há, e é temeridade dogmatizar sobre datas. 


5. Outra grande dificuldade de conciliação cronológica é a que procura delimitar o período que vai do Êxodo até a Construção do Templo de Salomão. Notemos a disparidade de informações: 

a) A Bíblia, pelo Texto Massorético (que adotamos) dá 480 anos. 

I Reis 6:1. 

b) Flávio Josefo estranhamente nos fornece duas datas: a de 592 em "Antigüidades", 8:3. 1, e 612 anos no livro "Contra Apion" 2:2. 

c) O apóstolo Paulo nos dá 574 anos. Isto se deduz de Atos 13:18-22 em que se mencionam períodos de 40, 50 e 40 anos, e Davi (que reinou também 40 anos segundo I Reis 2:11 e Salomão que começou a construir o templo no ano 4.º de seu reinado). 


6. É incerta a duração exata do tempo dos juízes. Impôs-se entre os judeus a chamada "tradição dos 40 anos", e em decorrência surgiu o modismo do número redondo 40 para designar unidades que dele se aproximasse. Porque Otoniel, Débora, Baraque, Gideão julgou cada um 40 anos, como Eli, muitos críticos supõem não serem exatamente matemáticas essas cifras. Devido a isso, o tempo do Êxodo ao Templo de Salomão baseava-se em doze períodos de 40 anos, totalizando 480. Um fato é certo. A extensão dos períodos dos juizes não pode ser dada em termos precisos até que venham novos elementos de cálculo. 


7. A Divisão dos reinos após a morte de Davi oscila entre as melhores autores, de 983 a 931 A.C. 


8. Da fundação do Templo ao Cativeiro e Volta do Exílio há muita disparidade de dados. Diz Davis: "Entre os hebreus, como entre outros povos vizinhos, não existia regra fixa para determinar o ano em que um rei subia ao trono, ou se o ano civil subseqüente devia ser contado como o primeiro ano do reinado". Aqui é o sério problema de resolver a falta de uniformidade dos escribas em registrar as datas. 

Por exemplo: no reinado do mesmo monarca, uns escribas fixavam a data de sua ascensão ao trono; outros começavam a contar o ano civil doze meses depois da subida do rei ao poder. E ainda se deve considerar o caso de o filho associar-se ao pai na realeza, gerando dois processos cronológicos díspares entre si. 

Alguns escribas tomavam como ponta de partida o primeiro ano da associação com o pai; outros amanuenses reais tomavam por base o primeiro ano do reinado do pai. Temos aí quatro coisas diferentes, impossíveis de harmonizar: 

1. processo ano da ascensão 

2. processo ano antedatado 

3. processo ano-conjunção (reinado em parceria) 

4. processo ano-reinal 


9. Voltando ao tempo mais recuado, diremos que não era difícil que um copista hebraico incorresse em erros na transmissão do números. As cifras eram assinaladas por letras do alfabeto; ora, estes por vezes se assemelhavam tanto entre si que se podiam facilmente confundir com os outros. Por exemplo, o daleth (letra D) vale o número 4, e o resh (letra R) vale 200. Não seria difícil tomar uma pela outra. Assim também o vav (letra V) vale 6, o zayin, (letra Z) vale 7 e o iôd ( Y e I) vale 10, e todas têm semelhança entre si. Disto poderia facilmente resultar engano nas transmissões, que eram feitas à mão. 

Alguns desses enganos podem ser constatados: 

a) Em Gên. 2:2 lemos: "E havendo Deus terminado no dia sétimo a Sua obra..." Mas na Septuaginta, bem como numa versão siríaca do segundo século A.D. lemos: "E havendo Deus terminado no sexto dia... repousou no sétimo". 

Aqui houve evidentemente confusão das letras vav e zayin, muito parecidas feitas à mão, e que valem respectivamente 6 e 7. 

b) Outra flagrante diferença numérica, por erro de copistas observa-se em I Reis 4:26 (na Almeida Antiga, mais fiel neste passo) onde se lê que Salomão possuía quarenta mil estrebarias, e na passagem correlata de II Crôn. 9:25 lê-se que eram quatro mil estrebarias. A versão Revista e Atualizada diz tratar-se de 40.000 e 4.000 cavalos, mas o erro numérico é patente. 

c) Outra divergência numérica no texto hebraico (ver Almeida Antiga) está em II Crôn. 36:9: "Era Joaquim da idade de oito anos quando começou a reinar", mas na passagem paralela de II Reis 24:8 se lê: "Tinha Joaquim dezoito anos quando começou a reinar". 

d) Caso curioso é o de I Sam. 18:1. No original hebraico não há numeração, e está literalmente assim: "Saul tinha a idade de ... anos quando começou a reinar; reinou ... anos em Israel". A tradução americana Revised Standard Version assim a verteu, mas a Vulgata traduziu este disparate: "Saul tinha um ano quando começou a reinar; reinou dois anos em Israel". As mais modernas versões simplesmente OMITEM os dois primeiros versos de I Sam. 13. Não sabemos de que fonte se valeu S. Paulo para afirmar que Saul reinou quarenta anos. Atos 13:31. 

e) Outro exemplo de disparidade numérica acha-se em I Crôn. 21:5 que, narrando o recenseamento de Israel afirma que havia 1.100.000 guerreiros, e Judá 470.000. Ora, o texto paralelo de II Sam. 24:9 diz que Israel tinha 800.000 guerreiros, e Judá 500.000. 


10. Volvendo aos primitivos tempos da história humana, podemos afirmar que a Cronologia Egípcia é também lacunosa e incerta, e pode ser fixada razoavelmente ao redor de 1.600 A.C. Sabemos que Menes foi o primeiro rei histórico, contudo, há total discordância entre os historiadores e egiptólogos, que o situam entre 2.000 a 5.500 A.C. É muita diferença! Pelo texto hebraico da Bíblia pode-se situar o Dilúvio em aproximadamente 2.400 A.C., mas os egiptólogos, baseados na tradição egípcia do Dilúvio, situam-na em 3.000 A.C. 

Outro pequeno problema há em Gên. 11:10: "Sem era da idade de 100 anos quando gerou a Arfaxade, dois anos depois do Dilúvio". Segundo alguns cronologistas esses "dois anos" são adicionados ao total de anos da criação até Terá gerar seus filhos. A data, que é geralmente estabelecida em 1946, passará a ser então de 1948. 


As Profecias Não São Afetadas


A imprecisão cronológica das datas bíblicas mais remotas nada significa nem afeta a veracidade dos fatos narrados. A Bíblia registra os fatos, porque eles ocorreram. E isto basta. Quanto à época exata em que ocorreram, é de somenos importância. E o mais importante, para nós, é que, a despeito dessas dificuldades, os tampos proféticos NÃO SÃO AFETADOS por divergências cronológicos, e isto simplesmente porque as Escrituras não informam as datas da profecia. A Bíblia descreve a profecia, mas as datas devem ser procuradas na História. A Bíblia aponta a profecia, mas as datas estão nos fatos, que a confirmam e a cumprem.

Outro ponto importante. A profecia sempre se projeta para a frente, para diante, para o futuro, e é exata, precisa, matemática. O absurdo, o ilógico, o irrazoável é recuar no tempo, em cálculo retroativo para se chegar a uma data pré-fabricada, principalmente varando a confusa e imprecisa cronologia dos tempos patriarcais. Não dá certo mesmo. Por isso reafirmamos: é charlatanice afirmar que Adão foi criado em 4.026 A.C. 

Além da fantasia de que Adão fora criado em 4.026 A.C. pretendem justificar a ano de 1975 em mais dois pontos: 1) o "ano sabático" de Lev. 25:3, 4, que ocorria depois de seis anos de colheita; e 2) no Jubileu de Lev. 25:8-13. Eram sete semanas de anos, que totalizavam 49 anos e o 50.º era o ano da libertação. 

Nada disso, porém, tem qualquer aplicação ao ano de 1975. Quanto ao ano sabático aplicam-se tão-somente ao regime agrário israelita e local. Não tem nenhum simbolismo, nenhuma aplicação profética, e não fornece nenhum suporte para essa estranha teoria de que o Armagedom terminará em 1975. 

Pior ainda invocar o Jubileu, isto é, n qüinquagésimo ano, que era o ano de resgate. Sob outra cavilação, qual a de que os "dias" da criação tinham sete mil anos cada, e que se consumará em 49.000 anos (estaríamos presentemente vivendo o sexto dia, o da criação do homem), construíram esta ) rematada tolice de que estamos às vésperas do início do 50.º ano, portanto, da libertação para os eleitos. Também a Jubileu era prática da economia israelita, e nada tinha que ver com a dispensação futura, nem sugere base para interpretações escatológicas.