COMO LIDAR COM O ADOLESCENTE?
Pr. Graciliano Martins
Adolescência a fase de transição entre a infância e a maturidade que se estende, aproximadamente dos 13 aos 23 anos para o homem, e dos 11 aos 21 para a mulher.
Por que o adolescente tem a fama de aborrecente?
Essa fama se deve ao fato de que a adolescência é o período da vida que caracteriza amplas e profundas transformações psicossomáticas em que se completa o desenvolvimento morfológico-funcional do ser humano. E durante essa fase, definem-se os caracteres sexuais secundários, avivam-se os processos intelectuais, a sensibilidade e toda uma fase de mudanças complexas.
Em seu início, a adolescência se apresenta como um estado de inquietação em que o jovem, já de posse dos mecanismos biológicos que se estruturam durante a infância, começa a inquirir sobre o mundo que o cerca.
É a expressão de um período de desequilíbrio e, via de regra, de conflitos de toda espécie, sobretudo afetivo-emocional. E sabe-se hoje que esse fato predispõe a criação de um clima de revolta interior, e até mesmo ao agravamento de traumas adquiridos na infância, dão características do problema do adolescente.
Porque os namoros acontecem na adolescência cada vez mais cedo?
Há várias transformações no adolescente, principalmente mental. A mente do adolescente age com o propósito de encontrar a pessoa ideal. Dois outros motivos que muitos estudiosos atribuem hoje são: A influência muito grande da Mídia em favor de uma puberdade cada vez mais precoce, e o aumento do consumo alguns alimentos de origem animal com muita concentração de hormônios.
O quê fazer?
Nesta fase os pais devem compreende-lo, e não repreendê-lo apenas porque ele está tentando agir como um adulto. Nesse momento o adolescente não está precisando de repreensão, ele esta precisando de ORIENTAÇÃO! E os pais não devem confundir orientação com repreensão.
Considerando que nessa fase da vida a pessoas está tentando se ver como adulto, as repreensões humilham, agridem a autoestima e, por conta disso, afastam o diálogo com os pais. E isso não pode acontecer justamente quando a participação dos pais na adolescência é essencial para a formação do caráter dele.
Nesta fase o adolescente vivencia paixões pela primeira vez, e se os pais não estiverem preparados psicologicamente, provavelmente entrará em conflitos mais tarde porque as experiências dos pais ajudam muito nas dificuldades do adolescente.
Mas ao contrário disso, infelizmente, alguns pais acham que se o adolescente resolver seus próprios problemas, poderá desenvolver responsabilidade. Esse erro não deixa que os pais percebam que os adolescentes passam por conflitos diariamente, em alguns casos eles não aguentam as dificuldades e acabam por se envolverem com problemas graves, de efeitos nocivos e às vezes até de caráter irreversível.
Agora, além do que já foi dito, é muito importante considerar que um indivíduo não pode ser definido levando-se em conta apenas uma determinada fase de sua existência. A adolescência não diz quem a pessoa é e não determina o que a pessoa vai ser. Por conta disso, a pergunta do Salmo 8:4, (Quem é o homem?), não devia ser respondida considerando apenas o fenômeno, o presente...
A personalidade humana se constrói com a soma das heranças genéticas, as influências do meio (meio social, família, escola, e etc.) e a própria vontade de cada sujeito. As três parcelas fazem juntas, uma soma que chamamos de ser humano. E entende-se com isso que, a educação também não é o fator determinante na construção da personalidade, mas, pelo seu poder de influência, pode representar muito dessa construção. Portanto, o lar, a igreja e a escola, como agências da educação, têm juntos grande responsabilidade na formação de cada sujeito.
A afirmação acima, admite que as pessoas influenciam e são influenciadas pelo meio social em que vivem. Que os seus valores, embora seus, não são tão originais quanto às mesmas imaginam ou dizem ser. Em resumo, no mundo social há uma troca, e porque há uma troca, de certa forma todos são um produto desse meio.
Todavia, o homem não é um produto do meio porque ele não é tão passivo a esse meio, o homem também interfere e modifica o meio. Assim é que, o homem modifica o meio e é modificado por ele.
Também é certo que, é com os outros que as pessoas mudam, se transformam, se desenvolvem, evoluem. Todos precisam desse meio social, precisam de pessoas porque sem as pessoas não seriam o que são. Porém, ninguém é igual ao outro. Há uma individualidade em cada um, formada pela índole de cada um, que em si mesma é uma constante divergência com os outros, mas que sem os outros, muito do que é em cada um, não existiria...
Portanto, a adolescência não pode ser considerada como um fato, mas como um processo na construção da personalidade. A adolescência pode ser percebida como uma parte do que já foi produzido. E porque se encontra uma fase plástica da vida, o adolescente já possui grande parte de sua identidade formada mas ainda se encontra em construção.
Isso exige que, no trato com o adolescente, o educador entenda que o adolescente ainda não é um adulto e que não é mais tão criança! É necessário que se conquiste a confiança dele através do diálogo, da amizade, do companheirismo. É na adolescência dos filhos que os pais menos informados ou mais desatentos, se dão conta dos erros que cometeram durante as primeiras infâncias.
Por que os pais falham tanto?
Considerando que a população já aprendeu a conviver com os noticiários que trazem ao público, atos de violência e até mesmo de terrorismos praticados por menores em todo mundo, o tema desse Capítulo tem sido objeto de muita preocupação de governos, psicólogos, sociólogos, educadores, religiosos e outros.
A Rede CNT de Televisão, no “Jornal da CNT”, edição do dia 15 de novembro de 1999, informou que: “numa perspectiva de conter o crescimento da violência entre os menores, há oito Projetos de Lei na Câmara dos Deputados Federais em Brasília para reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos”.
No Brasil, muitos têm apontado como causa da violência praticada por menores, os desequilíbrios sociais e econômicos. Todavia, quando se verifica que nos países ricos onde o equilíbrio econômico é favorável, o índice de violência é maior que o de muitos países pobres, conclui-se que a explicação acima não é muito convincente.
Por um outro lado, pelo que já foi exposto acima, atribuir tudo a um fator cultural também não explica muito. Por conta disso, sem pretender que esse trabalho seja a ultima verdade sobre o assunto, o autor verificou em suas pesquisas e experiências que os povos ricos e pobres sofrem hoje com um mal comum: As inevitáveis consequências de famílias mal estruturadas que se avolumam a cada dia na mesma proporção que se organizam.
Infelizmente, ter pai, mãe, irmãos e às vezes até uma boa casa, não significa que tem um lar. O lar é todo ambiente proporcionado pela presença da família, é o maior bem de um mundo inóspito, predador e desumano. É o oásis em um deserto que falta paz, companheirismo, confiança, compreensão e carinho.
E apesar disso, é interessante notar que mesmo tendo pai, mãe e irmãos muitos não têm família... Os filhos são muitas vezes vítimas de pais despreparados que falham no dever de educar! Pais que não se amam, desgastados pelos desconfortos das más convivências, fazem que todos da família sejam vítimas da crueldade de um destino que não escolheram e que não poderão escapar. São os chamados órfãos de pais vivos!
Quando um filho sabe que um dos seus genitores expirou, de certa forma, é compreensível e aceitável. Mas quando ele sabe que os seus pais estão vivos e ainda assim, não os têm, considerando que a estrutura psicológica da criança não reúne recursos ainda para compreender e suportar tudo isso, aí se sente rejeitada, abandonada e não consegue entender mais nada.
Quando se pergunta por que um filho de família de classe social alta ou média alta entra para o mundo do crime, os pais geralmente se justificam dizendo que deram tudo: Os melhores brinquedos, as melhores escolas, as melhores roupas, as melhores diversões e etc. Curiosamente, um item não apareça nessa lista. Um Pai! Porque pai não se compra e também não se vende. A violência que se observa nas ruas, nas escolas, nas praças de entretenimentos e etc., começa em casa quando um genitor se nega a dar uma palavra de atenção, um carinho, ser o pai ou a mãe.
Considerando que a família é compreendida como a “célula meter da sociedade”, considerando que é dela que procedem os que farão depois os vários grupos sociais, quando uma criança apresenta um mal comportamento na escola, é possível concluir um sintoma e não um problema. Um sintoma de uma família que não está bem e não um sintoma de uma criança que está mal.
A família conjugal moderna, (...) deixa de ter uma função formadora por excelência para repartir suas atribuições com outras agências educativas, notadamente a escola. É claro que a família continua e continuará sendo responsável por aspectos importantes da educação da criança como os referentes à socialização e culturalização, aquisição da linguagem, hábitos de higiene, alimentação e etc, mas é importante mencionar que sua influência já não é marcante e decisiva como em outros tempos. Walter GARCIA. Educação. 1977, p.89.
O SOS Criança, órgão do governo do Estado de São Paulo encarregado de amparar a população infantil carente da capital, realizou uma pesquisa com crianças de rua e descobriu que 69% dos entrevistados dormem em casa. Dos que cometem os crimes mais graves, segundo dados da Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude de São Paulo, 94% dos infratores moram com a família e 75% têm casa própria.
Se essas crianças têm família e casa para morar, então, por que continuam nas ruas? O SOS Criança responde que 75% dos meninos de rua são submetidos em casa a algum tipo de violência física, psicológica ou sexual. “A auto-estima é tão baixa que eles não acreditam poder melhorar de vida”. Afirma Paulo Vitor Sapienza, diretor do SOS Criança.
Segundo dados do IBGE, 40% das crianças brasileiras entre zero a 14 anos vivem em condições miseráveis. Estima-se que no Brasil cerca de 20 milhões de crianças crescem em completo abandonos. Apenas a metade vai chegar à 8ª série do 1º Grau. São mais de 20.000 jovens infratores no país, dos quais perto de 8.000 estão encarcerados. Um em cada cinco internos matou alguém, quase sempre em tentativa de assalto. Nas unidades da Febem, crianças de 10, 12 anos são misturadas com marmanjos de 17 anos donos de pesados currículos de crimes.
Em fim, quando o lar falha, a sociedade não consegue facilmente uma correção. Há uma violência pouco conhecida, pouco divulgada, a violência na família.
A Rede Bandeirante de Televisão, no “Jornal da Bandi”, edição de 15 de novembro de 1999, informou que a cada hora quatro mulheres são espancadas no Brasil. Isto é, uma mulher a cada 15 minutos é espancada. Oitocentas mulheres foram ouvidas e constatou-se que uma em cada sete mulheres sofre agressões físicas em sua casa.
O Governo Federal tem registrado a partir dos registros das delegacias que 130 mil mulheres sofreram agressão física dos maridos somente este ano. Isso equivale a um Maracanã cheio e a estimativa é de um número maior porque acredita-se que um número de mulheres pelo menos igual ao que busca ajuda das autoridades, prefere omitir a informação. Em meio a tantos problemas, a criança na idade plástica da vida não pode crescer incólume em meio a estas coisas.
Por conta das pressões sociais e de outras influências, às vezes os pais perdem a capacidade de conviverem com a família. Não têm tempo para os filhos, logo não têm diálogo com eles, não conquistam a confiança, o relacionamento de intimidade, não são amigos...
Bem fariam os pais se seguissem às orientações que seguem abaixo: Essas orientações são resultantes de reflexões de um grupo preocupado em orientar, através de palestras, jovens de uma comunidade localizada no Rio de Janeiro. Desse grupo faz parte o desse trabalho.
1. Ame os filhos. Sem bajulação, sem acepção, sem comprometer o casamento;
2. Pai e mãe, não discordem um do outro na presença do filho. Sobretudo, quando o assunto for relacionado ao filho;
3. Divirtam-se juntos com toda família;
4. Alimentem-se juntos sempre que for possível;
5. Procure desenvolver conversas com assuntos que sejam do interesse do filho;
6. Para isso observe a idade e o sexo da criança;
7. Discipline mas seja coerente, faça isso com pena e não com raiva;
8. Compreenda o seu filho. A criança muda com a idade, com os conhecimentos adquirido e etc.;
9. Elimine os mitos da educação:
A) Primeiro Mito - A Família é uma democracia.
Resposta: NÃO É! Não é uma democracia porque os filhos não elegem os pais, eles são vitalícios. Portanto, as leis da família podem ser discutidas mas nunca desrespeitadas. Conclusão, se alguém tiver que tomar uma decisão final em casa, é melhor que seja um adulto, alguém que tenha mais experiência.
Quando um pai tomar uma decisão que a criança não aceita, e então ela gritar:
Por que?
Não convém argumentar, porque isso não é uma pergunta, é um convite para a luta. Não convém discutir porque aí já estará em terreno perigoso. E por mais que se argumente, neste clima a criança só verá o problema por um único prisma, o dela. E só por isso, a melhor resposta até que tudo se acalme, não é a que explica a questão, é a que mostra a autoridade da família.
B) Segundo Mito - A Família é soberana sobre tudo.
Isso não é correto porque a lei do lar deve ser a lei do amor.
C) Terceiro Mito - A palavra NÃO causa frustração.
Isso não é verdade. Os Filhos precisam aprender algumas lições sobre essa importante palavra:
Só é possível ter o que é licito ter. Quanto mais cedo descobrir isso tanto menos terá que sofrer na vida. A palavra NÂO, está nos vocabulários para ser usada e faz parte da vida porque nem tudo pode ser considerado com um simples SIM. E se isso não for dito em casa, terá que aprender na rua mais cedo ou mais tarde. Terá que aprender de alguma forma, e nesse caso, de uma forma mais dura. Porque o mundo nunca vai dizer sim para tudo que o filho quiser depois.
O que frustra é crescer despreparado para tomar decisões e encarar os desafios da vida. Isso faz que os filhos se imaginem inferiorizados em relação aos outros.
O pai que não fala o não é um pai que não sabe ainda tomar as suas próprias decisões e que, provavelmente, não aprendeu ainda essa preciosa lição para a vida. Ou se não for por conta disso, o pai que nunca diz não é o pai que nunca está presente na vida do filho.
Por conta disso, é bom desde cedo dar um pouco dessa vitamina: Sempre que for necessário, não deve temer dizer não como resposta..
D) Quarto Mito - Tudo deve ser para o filho
Alguns pais deixam de ser pais e se tornam escravos. É bom lembrar sempre que o filho não é um hospede da família. Ele é um membro ativo, e para ser um membro ativo ele precisa participar, é precisos envolvê-lo nos seguintes trabalhos domésticos:
Qualquer criança aos três anos já pode guardar os brinquedos;
Aos cinco, arrumar a cama;
Aos seis, arrumar o quarto;
Aos sete, lavar os próprios pratos e talheres;
Aos oito, limpar e organizar o quarto;
Aos 10, contribuir com 45 minutos diários nos afazeres domésticos;
Aos 18, deve saber dirigir um lar, cuidar das finanças, lavar, passar, preparar refeições e etc. Pv. 22:6.
Há muitas lições que podem ser aprendidas com a natureza. Muitos animais se organizam, ainda que instintivamente, de uma maneira que podem, por incrível que pareça, ensinar ao homem muitos princípios de educação.
São os pássaros que ensinam seus próprios filhotes voar, encontrar os próprios alimentos, fazer o ninho e etc. e para isso eles não esperam que os filhotes fiquem adultos. Quando os filhotes saem do ninho, já sabem tudo, saem preparados para a vida.
O lar é a primeira escola e é nela que se recebe o melhor preparo para a vida. É no lar que se aprende as primeiras lições de asseio e ordem. Lições de laboriosidade que desenvolvem confiança em si, que leva a uma correta formação de hábitos e gostos nobres. Lições de amor, bondade, respeito, obediência, honestidade, sinceridade e domínio próprio.
Por isso as influências do lar são uma força decidida para o bem ou para o mal, fator de grande alcance em prol da verdade e da justiça. A criança deve aprender a fazer a diferença entre o certo e o errado e ter a capacidade própria de, por si só, escolher o certo porque é certo.
Amar a verdade porque é a verdade! É óbvio que nada disso ocorre por um acaso. Os pais deviam ser os primeiros professores, deviam saber e ensinar aos filhos a lição de “amar a Deus de todo o coração, de toda a alma, de todas as forças e de todo o entendimento, e ao próximo como a si mesmo”. S. Lucas, 10:27. Quem sabe, os atos de violência praticados pelos menores nas ruas, nas escolas, não seriam diminuídos ou ainda, não seriam evitados?
Pr. Graciliano Martins dos santos Filho
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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7. WHITE, Ellen G., Ser Mãe o que é?, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1995.
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