38 ALIMENTO DE JOÃO BATISTA

PEROLAS DA BIBLIA EXPLICADAS

S. Mateus 3:4 - S. Marcos 1:6


No original grego nestas duas passagens encontramos a palavra ακριv, ακριδεv – acris, acrides, cuja tradução é a seguinte: 


1º) Dicionário Grego - Português e Português - Grego, de Isidro Pereira: gafanhoto.  


2º) The Analytical Greek Lexicon: locusta. 


3º) Lexicon of the New Testament, de Arndt and Gingrich: gafanhoto, locusta. 


A palavra gafanhoto tem uma projeção bem maior do que pensamos. Basta afirmar que o Dicionário da Bíblia de Davis nos informa que segundo os rabinos existem e são classificados 800 variedades de gafanhotos. 

O Velho Testamento usa nove diferentes palavras hebraicas para identificar os gafanhotos, porém a mais usada é αρβεη. 

Na Bíblia e na literatura contemporânea sobre este assunto, a palavra "acris" sempre se refere a um inseto – o gafanhoto. Esta circunstância tem levado muitos comentaristas hodiernos a concluírem que neste relato sobre João Batista há referência ao inseto. 

É também urna realidade inegável, que o gafanhoto tem sido parte da dieta alimentar dos povos do Oriente Médio, desde os tempos antigos. 

De acordo com as leis sobre os animais limpos e os imundos do em Levítico capítulo 11 há certas espécies de gafanhotos que são limpos (V. 22), portanto permitidos na dieta de um judeu. 

Estes fatos têm levado os comentaristas, em nossos dias, quase que uniformemente à conclusão de que em Mateus e Marcos a palavra "acris" deva designar o inseto e não uma espécie de árvore. Mas apesar desta conclusão, desde os tempos primitivos nos foi transmitida uma tradição persistente e enfática de que a palavra "acris" significa outras coisas e não o inseto. Dentre estas as que mais têm sido sugeridas são as seguintes: Pequenos pássaros bravios, caranguejos, lagosta, pêra silvestre ou outro fruto, bolos, vagens de alfarrobeira. Muitas destas são meras suposições, mas a que defende alfarrobeira sustenta-se numa evidência lingüística e antropológica. 

A alfarrobeira é extensamente cultivada em terras litorâneas do Mar Vermelho e é comum na Palestina ao norte de Hebrom. 

As bolotas com as quais o "Filho Pródigo" alimentava os porcos erram as alfarrobas, conforme S. Lucas 15:16. 

Há algumas evidências que favorecem a idéia de que os gafanhotos usados por João eram vegetais. É bom ainda saber de evidências seguras indicando que o inseto "gafanhoto" é muito pobre como alimento, portanto incapaz de sustentar uma vida humana. 

Entre os primeiros a contestarem a idéia de que a dieta de João Batista incluía gafanhotos = insetos, estiveram os ebionitas, um grupo de judeus, cristãos da Síria, como os essênios eram um tanto ascéticos e advogavam uma dieta vegetariana. 

Crêem alguns estudiosos que os ebionitas substituíram em seus manuscritos acrides = gafanhotos por ecrides – bolos. Esta substituição teria sido feita em harmonia com seus princípios dietéticos. 

Em todos os manuscritos bíblicos antigos se encontra "acrides". 

Os pais da Igreja de origem grega, que tinham melhor conhecimento do uso do grego bíblico não concordavam que "acris" em Mateus e Marcos indicasse o inseto. Muitos consideravam os "acrides" dos Evangelhos equivalentes a "akrodua" = "frutos" ou às pontas dos ramos de árvores ou ervas. 

Em um sermão do ano 400 AD., atribuído erroneamente a Crisóstomo, há a afirmação que João comia frutos da alfarrobeira – acridas botanôn. A expressão "acridas botanôn" é traduzida para o latim conto "herbarum summitates", significando as pontas ou brotos das plantas. 

Os escritores gregos e seus tradutores latinos entenderam que o termo gafanhoto, usado como alimento por João Batista se referia a um regime vegetariano. 


Existe também a palavra autorizada do Espírito de Profecia, explicando a dieta de João Batista: 

"A simplicidade de sua vestimenta, uma peça de vestuário tecida de pelos de camelo, era unta reprovação direta à extravagância e pompa dos sacerdotes judaicos, e do povo em geral. Seu regime, puramente vegetariano, composto de gafanhotos e mel silvestre era uma censura à condescendência com o apetite e glutonaria que prevalecia por toda a parte." – Conselhos Sobre Saúde, pág. 72. 


O Dicionário da Bíblia de Davis, na página 25, ao comentar a palavra "alfarrobas", assim se expressa: 

"Espécie de alimento destinado aos porcos, que o filho pródigo desejava comer, quando se achava em terra estranha, abandonado pelos amigos de outros tempos - Luc. 15:15. A bainha das alfarrobas, Ceratónia Siliqua, também se chama bainha de gafanhoto e pão de S. João. É árvore formosa e sempre verde, de nove a dez metros de altura, sem espinhos e com as folhas semelhantes às do freixo. Produz bainhas em grande abundância que, às vezes, atingem a trinta centímetros de comprimento. Depois de maduras servem para sustento do gado e dos porcos, e em tempos de grande fome servem para alimento dos pobres. Da polpa das vagens ou bainhas faz-se um xarope muito apreciado". 


NOTA: O autor deste artigo com um grupo de obreiros teve o privilégio, ao visitar as Terras Bíblicas, de ver algumas destas árvores, experimentar o sabor de suas vagens e até trazer algumas para o Brasil. 


CONCLUSÃO


Diante das idéias expostas até aqui é fácil chegar a uma conclusão inelutável. 

Embora os gafanhotos fossem alimento permitido pela lei levítica; que este inseto era e continua sendo parte da dieta do Oriente Médio, à semelhança do uso dos "içás" em certas regiões do Brasil, e ainda que as pessoas pobres o comiam e comem em tempos de escassez de alimentos; cremos que os gafanhotos que alimentavam João Batista eram vegetais e não os insetos.