26 PASSAGENS APARENTEMENTE CONFLITANTES

PEROLAS DA BIBLIA EXPLICADAS


Quando devidamente interpretada e compreendida a Bíblia não se contradiz. 


Para solucionar passagens que parecei contraditórias é preciso conhecer a índole das línguas hebraica e grega; constatar se o relato se apresenta em linguagem figurada ou literal; verificar se não houve problema de tradução; investigar no aparato crítico se não houve mudança de palavra por algum copista negligente, mas sobretudo aplicar os princípios exegéticos. 


As aparentes contradições vêm apenas corroborar a origem divina da Bíblia, e ainda revelar, por vezes, as limitações da linguagem humana para expressar conceitos divinos. Se as Escrituras fossem um trabalho de homens eles ter-se-iam esforçado para retirar do seu relato tudo que parecesse contradição. 

Na Bíblia normalmente encontramos a exposição dos fatos sem os explicar. 

W. Arndt na introdução de seu livro A Bíblia se Contradiz? apresenta conceitos muito úteis para a harmonização de aparentes discrepâncias da Palavra de Deus. De seu prefácio quero destacar o seguinte: 


"A Bíblia diz que os cristãos são santos e diz que são pecadores. Um pequeno estudo revelará que esses dois atributos existem lado a lado. As Escrituras nos informam que o cristão é pessoa dual, que é novo ser, renascido pelo Espírito de Deus, que parcialmente ainda é seu velho eu, nascido de pais pecaminosos. Segundo sua nova natureza é santo; segundo a velha natureza é pecaminoso. De sorte que as duas qualidades mencionadas não são contraditórias no caso do cristão". 

"Deus se revela em sua Palavra como o faz em suas obras. Em ambas vemos um Deus que se revela e se esconde, um Deus que só se dá a conhecer aos que o procuram com seriedade; em ambas encontramos estimulantes da fé e ocasiões rara incredulidade; em ambas encontramos contradições cuja harmonia superior está oculta, exceto para aquele que em reverência entrega toda a sua mente; em ambas, numa palavra, é uma lei da revelação que o coração do homem seja testado ao recebê-1a, e que na vida espiritua1, como na vida física, o homem deve comer o pão no suor do seu rosto". 

Arndt está fazendo uma citação de Haley, cujas palavras pertencem a Neander. 

"É preciso não passar por alto diversos fatos adicionais. Vez que outra parece existir discrepância entre duas passagens da Escritura porque uma, ou outra, ou ambas não foram traduzidas corretamente ou não foram traduzidas com suficiente precisão, Em tais casos, aqueles que conhecem o texto origina1, geralmente podem resolver a dificuldade rapidamente. Em casos dessa natureza, a falha não está na Bíblia, nas na tradução. Como as demais línguas, o Grego e o Hebraico, as línguas originais das Escrituras têm suas peculiaridades e finuras, e muitas vezes é extremamente difícil fazer uma tradução inteiramente satisfatória e adequada em português. Nessa conexão podemos apontar para duas passagens famosas que encontramos no livro Atos dos Apóstolos, no relato da conversão de Paulo". 


I. A obra da Criação foi concluída no Sexto ou Sétimo Dia? 


É um fato aceito por todos nós, deduzível da leitura de Gênesis 1:32 e 2:1, que Deus acabou a sua obra criativa no sexto dia. O verso 2 do segundo capítulo parece contradizer esta crença ao declarar: "E havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra ...". 

Crêem alguns comentaristas que há aqui uma deficiência da linguagem, pois a leitura dos dois versos anteriores de Gên. 2:2 nos evidencia que a obra já estava concluída no sexto dia. A pobreza dos tempos verbais em hebraico talvez seja responsável por esta aparente divergência. O sentido do original devia ser este: "estando já acabada a obra no sétimo dia". 

O mui conhecido e digno de crédito comentarista Adão Clarke assim se expressou sobre este verso: 

"É voz geral da Escritura que Deus terminou toda a criação em seis dias e repousou no sétimo, dando-nos um exemplo de que trabalhemos seis dias e no sétimo descansemos de toda a antigüidade manual. É digno de nota que a Septuaginta, a Siríaca e a Samaritana dizem sexto dia, em vez de sétimo; e isto deve ser considerado certo". 

Ele conclui suas explicações aventando a hipótese de ter havido uma confusão no hebraico entre os números 6 e 7 por serem muito parecidos. 

O SDABC afirma sobre Gên. 2:2: 

"Têm sido feitas várias tentativas para resolver a aparente dificuldade entre os versos 1 e 2; um declara que a obra de Deus foi terminada no sexto dia e o outro no sétimo dia. A Septuaginta e as versões samaritana e siríaca escolheram o caminho mais fácil para resolver o problema, substituindo a palavra 'sétimo', do texto hebraico, pela palavra 'sexto'.... 'Acabou', ψεκαλ. Alguns eruditos, começando com Calvino têm traduzido, ψεκαλ como 'havia acabado', o que é gramaticalmente possível. Outra interpretação considera que a obra da criação foi terminada apenas depois da instituição do dia de repouso". 


II. Há contradição entre Êxodo 20:5 e Ezequiel 18:20? 


Na primeira passagem lemos: "... Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos..." Enquanto a segunda declara: "...o filho não levará a iniqüidade do pai..." 

Estes dois textos interpretados cuidadosamente em seus contextos e na compreensão da Bíblia em suas doutrinas gerais jamais se contradizem. 

Através da declaração "visito a iniqüidade dos pais nos filhos", Deus nos quer ensinar que os filhos sofrem as conseqüências dos pecados dos pais. Pensemos no filho de um alcoólatra inveterado, os filhos herdam dos pais fraquezas que os levam a pecar. Estudos têm sido feitos provando que os pais praticantes de vícios e pecados transmitem aos filhos e netos as conseqüências de sua vida desregrada. Embora os filhos sofram as conseqüências dos pecados dos pais, Deus em Sua justiça irá punir apenas os responsáveis pelo pecado. A pessoa sofre fisicamente, mas isto não afasta a sua salvação. 

A primeira passagem está falando do aspecto físico, enquanto a segunda se refere ao aspecto espiritual. 

O filho do maior marginal, não seguindo o exemplo paterno, e aceitando a Cristo como seu Salvador tem o privilégio da salvação. Na primeira passagem há referências às tendências hereditárias; na segunda, Ezequiel dá ênfase a esta verdade – o filho não é responsável pelos erros dos pais. 

O primeiro texto trata dos resultados físicos nesta vida; o segundo, da salvação espiritual para a vida por vir. 


III. Discordância entre Deut. 5:17 e Lev. 20:27. 


À revista "O Atalaia" apresentaram o seguinte pedido: "Peço-vos a especial fineza de esclarecer-me a visível contradição entre Deut. 5:17 e Lev. 20:17. Transcreveremos sua resposta: 

"É preciso notar que os hebreus constituíam uma teocracia, isto é, eram diretamente governados por Deus, por intermédio de seus juízes. Neste caso, era-lhe lícito, por ordem divina, executar a pena de norte contra quem desobedecesse a ordens expressas de Jeová. Foi, por exemplo, o que fizeram no caso relatado em Números 15:32-36, e em muitos outros. Hoje, é claro que semelhante procedimento seria crime grosseiro. O mandamento "Não matarás" naturalmente não afetava as ordens expressas de Deus, a um povo governado direta e exclusivamente por Ele. As ordens de matar tais ou quais pessoas, as quais encontramos nas instruções aos hebreus, e que hoje causam tanta estranheza a muitos leitores superficiais da Bíblia, representam apenas a consumação da infalível justiça de Deus. Assim é que os israelitas tiveram ordem de exterminar povos inteiros. Crueldade, injustiça? Não; a história desses povos mostra a que profundeza de corrupção haviam chegado, enchendo a ampla medida da misericórdia divina. Naquele tempo os hebreus eram os instrumentos pelos quais o Senhor executava a justiça". – O Atalaia, julho de 1935, pág. 18. 


IV. Como conciliar – Deus não tem prazer na morte do perverso de Ezeq. 18:23 com a afirmativa de Salomão em Prov. 16:4 – "O Senhor fez todas as coisas para determinados fins, e até o perverso para o dia da calamidade". 

É princípio primário de interpretação, que se um texto é difícil, ele deve ser comparado com outros que sejam mais fáceis rara esclarecê-lo. Jamais esquecer que a Bíblia se explica pela própria Bíblia. 

Se lermos Ecles. 7:29: "Eis o que tão somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se me teu em muitas astúcias" saberemos que Deus não podia criar perversos. 

Prov. 16:4 será bem compreendido atentando para o livre arbítrio, a possibilidade do homem escolher entre o bem e o mal. Deus não é o originador do mal, mas se o homem escolhe praticar o mal, Deus haverá de destruí-lo. 

Joseph Angus declarou sobre esta passagem: 

"A idéia de que os ímpios foram criados para poderem ser condenados, a qual alguns julgam estar compreendida nesta passagem, não se conforma com inumeráveis lugares da Escritura (Sa1. 145:9; Ezeq. 18:23; II Ped. 3:9). A significação, portanto, daquele texto é a de que todo o mal contribui para a glória de Deus e promove a realização dos seus insondáveis desígnios". – História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, pág. 153. 

Há pessoas que citam Prov. 16:4 e Rom. 915 a 24 como prova de que a Bíblia ensina que algumas pessoas não podem ser salvas. Esta conclusão é totalmente errada diante de uma infinidade de passagens, como por exemplo S. João 3:16. 

Wilcox dando resposta a esta pergunta: "Prov. 16:4 e Rom. 9:15-24 não ensinam que algumas pessoas não podem ser salvas?", afirmou: 

"Não; Deus salva o caráter; e chama toda alma a possuir um caráter que possa ser salvo. O primeiro texto simplesmente ensina que todas as coisas se encaixam no plano de Deus. Os ímpios pertencerão ao dia da ira, mas Deus não compele ninguém a ser ímpio. Veja Seu juramento em Ezequiel 33:11. 

"Deus teria glorificado Seu nome através da submissão de Faraó se o monarca egípcio houvesse se submetido, da mesma forma que fez através de Nabucodonosor e Ciro. Ele o suscitou e o colocou no trono para este propósito. Faraó não quis se submeter, por isso o Espírito de Deus o entregou à dureza de coração. Deus, porém, trouxe glória para Si próprio apesar da teimosia do rei. 

"Estude uma expressão em Rom. 9:15. De quem é a vontade de Deus ter misericórdia? 'E faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos'. Êx. 20:6. Esperamos isso; mas sobre que outra classe é a vontade de Deus mostrar compaixão e misericórdia? (Isaías 55:7; Ezeq. 33:11). Deus não está tantalizando quando diz 'todo aquele que crê' em João 3: 16 e 'quem quiser' em Apoc. 22:7". 


V. A declararão de Cristo em S. João 3:13. 

"Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de 1á desceu, a saber, o filho do homem", parece contrariar outros testemunhos escriturísticos que nos inteiram que Enoque, Elias e Moisés já haviam subido ao céu. 

Temos aqui uma "alusão à ascensão, que manifestará a origem celeste de Jesus e o entronizará na glória do Filho do Homem". Anotação da Bíblia de Jerusalém a esta passagem. 

A leitura atenta do contexto nos mostrará que o que Cristo quis dizer é que ninguém subira ao céu para obter informações acerca do plano de Deus concernente ao homem. 

Clarke apresenta o seguinte comentário. 

"Parece haver aqui uma expressão figurada, indicando que ninguém conhece os mistérios do reino de Deus como lemos em Deut. 30:12; Sal. 73:17; Prov. 50:4; Rom. 11:34. Expressão pode ser compreendida, relacionando-a com a seguinte máxima: "Para estar perfeitamente familiarizado com os acontecimentos de um lugar é necessário que a pessoa esteja no lugar". Nosso Senhor provavelmente pretendia corrigir uma falsa noção dos judeus, a saber, que Moisés ascendera ao céu para receber a lei". 

Sobre a variante – "que está no céu" – que aparece em algumas traduções, ela não se encontra no original. Talvez tenha sido uma anotação tardia feita por um copista, quando Jesus em realidade estava no céu. 


VI. Há ou não justos neste mundo? 

Ecles. 7:20 parece chocar-se com Mat. 1:19 e Luc. 1:6, desde que na primeira passagem se declara que não há homem justo sobre a terra, enquanto nas outras duas, José esposo de Maria e os pais de João Batista são apresentados como justos. 

Com o conhecimento de apenas um aspecto da linguagem tudo se esclarecerá. As palavras podem ser empregadas em sentido absoluto e relativo. Em sentido absoluto não existe nenhum justo entre os homens desde que este predicado pertence única e exclusivamente à Divindade. Cristo recebeu este título - "o justo". Em sentido relativo todo aquele que se esforça para seguir a orientação divina pode receber este elogioso título. A Bíblia chama justos a Abel, José, Daniel e a alguns outros que se submeteram às diretrizes da Palavra de Deus. 

Pensemos na palavra "santo", empregada por escritores bíblicos para designar personagens por vezes falhos e claudicantes na estrada da vida. A Bíblia está mais interessada em mostrar as intenções do que as realizações. 

As palavras apresentam gradações de significado. Um dicionário de sinônimos indicará para justo os seguintes matizes: reto, íntegro, imparcial, racional, lógico, preciso, certo, exato, legítimo, adequado, conveniente, merecido etc. 


VII. Romanos 2:12 e 5:13 se contradizem? 

Paulo escreveu: 

"Assim, pois, todos os que pecaram sem lei, também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram, mediante lei serão julgados". 2: 12. 

"Porque até ao regime da lei havia recado no mundo, mas o pecado não é levado em conta quando não há lei". 5:13. 

Ao Deus criar o homem e colocá-lo no Jardim do Éden escreveu a Sua lei no coração humano, sendo desnecessária a lei escrita em tábuas de pedra. Mesmo nas regiões mais atrasadas do mundo as pessoas têm conceitos de justiça, sabendo distinguir o certo do errado. Deus não exige do gentio que tem pouca luz, mas é sincero, mais do que a sua razão possa alcançar. Do outro lado, o homem que tem conhecimento dos Dez Mandamentos, mas não vive de conformidade com a luz que possui, ele não será aceito por Deus. Não é o conhecimento mental e intelectua1 que nos salva, mas a disposição de viver de acordo com a luz que possuímos e a aceitação de Cristo em nossa vida. 

Rom. 5:13 não indica que houve um tempo quando não existia lei, porque a segunda parte do verso declara - "mas o pecado não é levado em conta quando não há lei". A expressão "até à lei" tem apenas o significado de até que a lei fosse escrita. 

Os israelitas no Egito perderam a intuição da lei divina escrita em sua mente e coração, daí a necessidade de Deus apresentá-la por escrito. 

O comentário que se segue é de autoria do personagem já muitas vezes citado em nossas pesquisas, Adão Clarke, sobre Rom. 2:12 e 5:13. 

Romanos 2:12 : 

"Eles, a saber, os gentios, que se verificar haverem transgredido contra a mera luz da natureza, ou antes, aquela verdadeira luz que ilumina todo homem que vem ao mundo (João 1:9), não estarão sob a mesma regra que aqueles, os judeus, que além disto desfrutaram de uma extraordinária revelação; mas serão tratados segundo sua dispensação inferior, sob a qual se alinharam: enquanto que aqueles, os judeus, que pecaram contra a lei – a positiva revelação divina a eles concedida, serão julgados por esta lei, e punidos proporcionalmente ao abuso de uma vantagem tão extraordinária". 

Romanos 5:13 : 

"Como a morte, também o pecado reinou de Adão até Moisés, visto que não houve lei escrita desde Adão até a que foi outorgada a Moisés, a morte que prevalecia não podia ser a infração dessa lei; pois o pecado, para ser punido com a norte temporal, não é imputado onde não há lei, o que mostra que a penalidade do pecado é a norte. Portanto, os homens não estão sujeitos ã morte por suas próprias transgressões pessoais, mas pelo pecado de Adão, uma vez que, através da transgressão dele, todos vêm ao mundo com as sementes da morte e corrupção em sua própria natureza, adicionadas a sua depravação moral. Todos são pecaminosos – todos são mortais – e todos devem morrer". 



VIII. Haverá Coerência entre Rom. 9:13-24 e I Tim. 2:3 e 4? 

Será que Paulo em Romanos declara que Deus não deseja a salvação para todos enquanto em I Tim. 2:3 e 4 afirma que Deus deseja que todos se salvem? A primeira declaração é falsa; porém a segunda é verdadeira. 

O problema subjacente nestas declarações paulinas poderia ser apresentado com uma palavra – predestinação. Este assunto vem explicado em nosso livro Explicação de Textos Difíceis da Bíblia. 

Quanto a este controvertido tema, a verdade está sintetizada na frase: "Deus quer que todos os homens se salvem". 

Rom. 9:23 a 24 não diz que há pessoas a quem Deus não possa salvar, diz apenas que tudo se adapta ao seu piano. O ímpio será destruído, mas Deus não impele ninguém a ser ímpio (Ezeq. 33:11). A ação de Deus sobre o homem é semelhante a ação do sol. O sol é culpado por endurecer o barro? Não. O problema está com a natureza do barro. Podemos culpar a Deus por alguns corações se endurecerem e outros se abrandarem? A resposta apenas pode ser negativa. O mesmo sol que endurece o barro, derrete a manteiga e a cera. 


IX. A Afirmação de Atos 9:7 é impugnada por Atos 22:9? 

Na primeira citação Lucas declara que as pessoas que iam com Paulo ouviram a voz, mas no cap. 22:9 o próprio Paulo afirma que os circunstantes não ouviram a voz. 

A tradução de Almeida Revista e Corrigida assim apresenta as duas passagens: 

- Atos 9:7: "E os varões, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém". 

- Atos 22:9: "E os que estavam comigo viram, em verdade, a luz, e se atemorizaram muito; mas não ouviram a voz daquele que falava comigo". 

Na Edição Revista e Atualizada este problema de tradução já foi sanado, pois Atos 22:9 reza: "Os que estavam comigo viram a luz, sem contudo perceber o sentido da voz de quem falara comigo". 

Vincent apresenta a seguinte nota para Atos 22:9 "O verbo deve ser tomado no sentido de compreender, como em Mar. 4:33; I Cor. 14:2, que explica a aparente discrepância com Atos 9:7. 

A Bíblia de Cambridge apresenta o seguinte esclarecimento: 

"Paulo ouviu palavras inteligíveis; os outros ouviram uma voz, sem distinguir as palavras. Não ouviram a voz, isto é, as palavras dirigidas a Paulo. Só tinham consciência de ter ouvido um som próximo". 

Em outras palavras: Paulo compreendeu o sentido das palavras; os outros só ouviram o som. O conhecimento da sintaxe grega ajuda a solucionar o problema: 

"Quem lê grego facilmente pode resolver a dificuldade. A construção do verbo ouvir (akouo) não é a mesma nos dois relatos. Em Atos 9:7 o verbo é empregado com o genitivo, e em Atos 22:9 com o acusativo. A construção com o genitivo simplesmente expressa que algo está sendo ouvido, ou que determinados sons alcançam o ouvido. Não se indica se a pessoa entende ou não o que ouve. A construção com o acusativo descreve um ouvir que inclui apreensão mental da mensagem falada. Daí se torna evidente que as duas passagens não se contradizem. Atos 22:9 não nega que os companheiros ouviram de terminados sons. Simplesmente declara que não ouviram de modo a entender o que estava sendo dito. Algumas línguas nesse caso não são tão expressivas como o grego". W. Arndt. A Bíblia se Contradiz? pág. XI. 


X. Setenta ou Setenta e Cinco Pessoas desceram ao Egito? 

Gênesis 46:27: "... Todas as pessoas da casa de Jacó, que vieram para o Egito, foram setenta". 

Atos 7:14: "Então José mandou chamar a seu pai, Jacó, e toda a sua parentela, isto é, setenta e cinco pessoas". 

"Que Estevão mencionasse 75 (At. 7:14) em vez de 70 deve-se provavelmente ao fato de que ele inclui os s netos de José. Isto foi feito pelos tradutores da Septuaginta, que em Gênesis 46:27 citam o número 75". – The SDABC, vol. I, pág. 470. 


XI –Mateus 27:9 cita Jeremias, porém foi dito em Zacarias 11:13. 

As explicações são muitas, sendo talvez as duas mais consistentes as seguintes: 

1º) Numa das organizações dos livros proféticos o de Jeremias aparecia encabeçando a lista. Este primeiro estendia o seu nome aos outros livros. Este processo aconteceu com o livro de Salmos. 

2º) Se todos reconhecem que esta citação foi feita por Ezequiel (11:13), é também uma realidade que ela se combina com a idéia da compra de um campo relatada em Jeremias 32:6-15. Jeremias não faz alusão as trinta moedas de prata, em contrapartida Ezequiel não menciona a compra do campo. Mateus poderia ter escrito assim: Então se cumpriu o que foi dito pelos profetas Jeremias e Ezequiel. Sendo Jeremias um profeta mais destacado o seu nome permaneceu. 

Os copistas procurando harmonizar esta divergência têm apresentado as seguintes variantes. 

- o que foi dito pelo profeta Jeremias. 

- o que foi dito pelo profeta Ezequiel. 

- o que foi dito pelo profeta. 

- o que foi dito pelos profetas Jeremias e Ezequiel. 

As sugestões que Mateus citou de memória, por isso errou e que a citação foi retirada de um livro apócrifo de Jeremias não devem ser esposadas por nós.