22 SOMOS NÓS TRICOTOMISTAS OU DICOTOMISTAS?

PEROLAS DA BIBLIA EXPLICADAS


Para melhor compreensão do assunto definamos as palavras: corpo, espírito e alma. 

Corpo 

É a parte física do homem que torna ao pó por ocasião da morte. 

Espírito 

"É o princípio de vida dado ao homem por Deus" E. E. Vine.

Para Lutero espírito é a parte mais elevada e nobre do homem, por capacitá-lo para captar as coisas incompreensíveis, invisíveis e eternas.

De acordo com o hebraico ruach e o grego pneuma aplicado ao homem significa: 

1º) O fôlego de vida que Deus soprou nas narinas do homem, bem como em todos os animais. Gênesis 2:7; 7:22; Mateus 27:50; Luc. 8:55. 

2º) Disposição, atitude, temperamento, sede das emoções e do conhecimento. Mar. 2:8; João 13:21; I Ped. 3:4. 

3º) O instrumento pelo qual o homem se comunica com Deus. Luc. 1:47; Atos 18:25. 

É também por meio do espírito que Deus se comunica conosco. Ezeq. 36:26-28. 

Alma 

Gesênio, o maior lexicógrafo hebraico, definiu alma da seguinte maneira: 

"Fôlego, o espírito vital, o mesmo que o grego psiquê e o latim anima, mediante a qual vive o corpo, a saber o princípio de vida manifestado no fôlego". 

O espírito vivificante de Deus no corpo fez com que o homem se tornasse alma vivente. Uma melhor tradução de acordo com o hebraico nephesh hayyah seria ser vivente, criatura vivente, como aparece em algumas traduções inglesas de Gênesis 2:7. 

Para Vincent, notável estudioso de palavras gregas do Novo Testamento, alma: "É o princípio de individualidade, a sede das impressões pessoais... a sede dos sentimentos, desejos, afeições e aversões". 

"Nephesh" de acordo com Bullinger – A Critical Lexicon and Concordance, pág. 721, pode ser traduzida de 44 maneiras diferentes. 

Das 752 vezes usadas no Velho Testamento, ela e traduzida 473 por "alma", 118 por "vida", 29 por "pessoa", 15 vezes por "corpo" etc. 

"Nephesh" designa o ser humano completo, e não parte de uma pessoa como os gregos ensinavam. 

Eis apenas mais uma distinção: 

"O espírito é o sopro do fôlego de Deus na criatura, o princípio de vida proveniente de Deus". 

"A alma é a possessão individual do homem, o que distingue um homem de outro e da natureza inanimada". O Pregador Adventista, setembro a dezembro de 1948, pág. 23. 

A existência do ser humano ou a "alma vivente" se tornou possível pela união do corpo e do fôlego de vida na criação. Gên. 2:7. 

Na morte, o corpo volve à terra, o fôlego saindo do corpo vai para Deus (Ecles. 12:7), a alma ou criatura vivente desaparece. Sal. 6:5; 146:4; Ecles. 9:5 e 6. A Bíblia não ensina que a alma é uma essência abstrata e imortal que sobrevive à matéria. A idéia grega de que o homem tem uma alma não é defensável pela Bíblia, desde que os escritos inspirados asseguram que ele é uma alma. 

A Revista Adventista de julho de 1964, pág. 32, em resposta a um de seus consulentes sobre a diferença destas palavras o fez com esta síntese: "espírito é a parte pensante do homem; alma, a parte sensitiva, a sede dos sentimentos, que chamamos também coração; corpo é a parte física". 


Duas Teorias sobre a Natureza do Homem 

1º) A teoria tricotomista que defende uma natureza tríplice: corpo; alma e espírito. I Tes. 5:23 parece apoiar esta opinião. 

2º) A teoria chamada dicotomista, defendendo uma natureza dupla: corpo e alma ou espírito. Proposição que parece conformar-se com o ensinamento bíblico de Gên. 2:7; I Reis 17:21; Tiago 2:26. Seu ponto negativo seria a semelhança com o dualismo grego de Platão: a alma imortal e o corpo mortal. 

Qual destas duas teorias aceitamos? 

Parece não haver, em nossos escritos, uniformidade neste sentido. 

Eis a prova: "Muitos cristãos consideram o homem e a mulher como seres que se compõem de três partes: corpo, alma e espírito. Este conceito até se tornou proverbial. Naturalmente, isto é assim enquanto estávamos vivos; mas, que acontece na morte?..." – O Ministério Adventista, julho e agosto de 1983, pág. 22. 

"A teoria dicotomista parece ser mais razoáve1 à luz de Gên. 2:7 e passagens várias como I Reis 17:21; S. Tiago 2:16". – Auxiliar da Lição da Escola Sabatina do dia 20/04/1975. 

Um estudo mais aprofundado de nossas doutrinas e das palavras originais para alma e espírito nos leva à conclusão de que não devemos aceitar nenhuma dessas duas teorias. Biblicamente o homem é um todo indivisível, ou em outras palavras, é uma unidade que não pode ser dividida nas partes componentes. 

O homem, segundo o Antigo Testamento, forma una unidade psicofísica indissolúvel. O israelita não é tricotomista nem dicotomista, mas monista. 

O conceito, influenciado pelas idéias platônicas, que distinguem a alma do corpo (dicotomia), é totalmente alheio aos conceitos doutrinários do Velho Testamento sobre o homem, por considerá-lo um ser indivisível. 


O que Paulo quis dizer em I Tes. 5:23. 

"O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo". 


"A passagem de I Tes. 5:23 não indica, uma tricotomia de espírito, alma e corpo, mas apenas apresenta o homem como um ser total, cuja personalidade necessita ser santificada por Deus. Confira Deut. 6:5". – The Interpreter's Dictionary of the Bible, Vol. III, pág. 429. 

W. E. Vine em seu comentário às Escrituras do Apóstolo S. Paulo aos Tessalonicenses, após chamar a atenção para a necessidade do Espírito e corpo serem conservados incontaminados, na página 110, apresenta estas palavras muito significativas: 

"No texto grego, a palavra que se traduz por "conservados" está no singular, pois o homem, apesar de sua tríplice natureza – espírito, alma e corpo – é um ser indiviso". 

A conclusão a que Vine chegou precisa ser destacada: O homem é um ser indiviso. Logo, na morte, não pode subsistir uma parte imortal enquanto outra desce ao pó, visto que isso o tornaria um ser divisível. 

Vincent, em Word Studies in the New Testament, vol. IV, pág. 52, com sua autoridade, sentencia: "É inútil tentar extrair destas palavras (espírito, alma e corpo) uma declaração técnica, psicológica de uma divisão tríplice da personalidade humana. Se Paulo reconhecesse qualquer divisão técnica desse tipo, seria mais provavelmente dupla: o corpo ou parte material, e a parte imaterial com seus aspectos superior (espírito) e inferior (alma)". 

Das idéias apresentadas no SDABC sobre I Tess. 5:23 estas devem ser realçadas: 

"Espírito, alma e corpo. Paulo não está apresentando um estudo sobre a natureza do homem, mas certificando-se de que nenhuma parte da vida de seus conversos seja deixada sem o toque do poder santificador de Deus. Geralmente a Bíblia parece falar de uma divisão dupla no homem, seja corpo e alma ou corpo e espírito. Em Tessalonicenses essas idéias estão combinadas para enfatizar que nenhuma parte do homem deve ser excluída da influência da santificação". 

A seguir assim define as três palavras: 

"Por espírito pode-se entender o princípio mais elevado de inteligência e pensamento, dos quais o homem é dotado e com os quais Deus pode comunicar-Se através de Seu espírito. Por alma, quando distinta de espírito, pode-se entender aquela parte da natureza do homem que encontra expressão através dos instintos, emoções e desejos. O significado de 'corpo' (soma) parece evidente. É a estrutura corpórea – carne, sangue e ossos – que é controlada pela natureza inferior ou pela superior". 

Uma nota da Lição da Escola Sabatina do dia 22 de abril de 1975 explicando I Tes. 5:23 dizia: 

"O apóstolo Paulo não ensina que o homem é composto de três partes: corpo, alma e espírito, mas fala de três diferentes modos em que uma pessoa pode relacionar-se com outras pessoas. Na Bíb1ia o homem é um todo indivisível. Termos como alma ou corpo ou espírito, não são usados para indicar partes separadas do homem. Cada um desses vocábulos se refere ao homem numa função particular". 


CONCLUSÃO 


Corpo, alma e espírito se referem a três aspectos deste todo indivisível que é o homem. Espírito é o aspecto que faz do homem uma pessoa, feita à imagem de Deus, e capaz de comunhão com Deus. Alma, que vem do latim anima, é o que o homem tem em comum com os animais, isto é, vida. Sem vida o homem é um corpo inanimado, morto. Corpo é o fundamento material do homem feito de ossos, músculos, nervos etc. 

O triângulo tem três lados. Se um destes vier a faltar, o triângulo deixa de existir. De igual modo se um dos aspectos do homem – espírito, alma, corpo – vier a faltar, o homem deixa de existir. 

Não somos tricotomistas, nem dicotomistas, mas holísticos, isto é, cremos que o homem é um todo indivisível.