7 "EXISTINDO EM FORMA DE DEUS"

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As fraudes tradutórias das chamadas "testemunhas de Jeová" não se limitam ao abuso de verterem erroneamente ou truncarem os textos sagrados. Vão além e, quando não encontram na Bíblia um cabide em que dependurar suas idéias heréticas, recorrem então ao processo da subtileza, da especiosidade no sentido da frase sacra, forçando-a a amoldar-se ao esquema ariano, que nega a Divindade de Jesus. 


Um caso típico temo-lo na versão que fazem do pensamento paulino exarado na carta aos filipenses, capítulo segundo, verso seis. Tão subtil que, lendo-o pela primeira vez na versão Novo Mundo – Edição Brasileira – confesso não ter dado com o engodo. Relendo posteriormente, com mais atenção, pudemos verificar o sentido sibilino que procuraram dar à soleníssima declaração do apóstolo, de exaltação a Cristo. 


Para melhor esclarecermos os leitores, vamos primeiramente dissecar o texto original, com a tradução ao pé da letra: 

hos       én   morphê   theou       uparchôn      ouch 

o qual   em  forma     de Deus   subsistindo    não 

arpagmon  hegesato to  einai  isa      theo.

usurpação  julgou     o   ser     igual  Deus. 


A frase acima, devidamente transposta, na ordem lógica, e na índole da nossa língua, assim fica, com absoluta correção: 

"O qual, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação ser igual a Deus". 


Como é óbvio, até uma criança entende o que aí se acha escrito. Salta aos olhos o sentido de que Cristo, sendo da natureza de Deus, Ele não considerou este fato uma usurpação, uma coisa indevida, uma coisa a que não tinha direito e por isso – diz o versículo seguinte – esvaziou-se, assumindo forma humana. Sem perder Sua Divindade, adquiriu a humanidade. 

O helenista William C. Taylor, na sua obra didática "Introdução ao Estudo do Grego do Novo Testamento", edição 1948, página 363, assim traduz Fil. 2:6. 

"O qual, existindo essencialmente em natureza de Deus não considerou o estar em pé de igualdade com Deus uma presa..." 

E a seguir, explicando a razão de ter usado a palavra "presa" acrescenta: "presa (o ser cobiçado e retido como a leoa segura a presa ou o salteador o seu espólio)". O sentido da palavra grega arpagmon é de amplitude difícil de ser transposta com justeza no português. Há traduções que rezam: "coisa de que não devesse abrir mão" (a Divindade, o ser igual a Deus). Cristo não considerou o ser igual a Deus uma coisa de que não devesse abrir mão, e então resolveu baixar até ao homem. 

Contudo, a despeito da clareza meridiana do texto, os jeovistas na sua subtradução brasileira (?) vertem: 

"O qual, embora existisse em forma de Deus não deu consideração a uma usurpação, a saber, que devesse ser igual a Deus". 

Notaram os leitores como o sentido é totalmente diferente? Com esse flagrante e grosseiro torcimento procuram impingir a idéia de que Cristo despreza a Divindade, não Lhe interessando ser igual a Deus. Na Tradução Novo Mundo, em inglês, transpõem o pensamento paulino de maneira pior: 

"Cristo Jesus, embora existisse na forma de Deus não deu nenhuma atenção a uma CAPTURA, isto é, a ser igual a Deus". 

E há ainda uma nota, no inglês, que comenta: "Embora existisse em forma de Deus, desprezou..." E outra nota atribui à palavra grega arpagmon (usurpação, retenção) o sentido de "apreensão, uma coisa que pode ser apreendida". Desta maneira torcem a linguagem neotestamentária a fim de forçá-la a combinar com a seu unitarismo, ou seja, incutindo o sentido de que Cristo não era igual a Deus a até mesmo desprezou esta igualdade. 

Descendo ao terreno da argumentação, clamam os jeovistas que a expressão em forma de Deus significa meramente uma "semelhança", uma "figura externa", e que isto eles admitem. Nisto, porém, revelam-se apedeutas, desconhecedores da índole, da força expressional do grego. 

O citado W. C. Taylor, na mesma abra, página 393, afirma, com relação ao texto em lide: 

" 'Morphê', significa forma, implicando caráter e natureza essenciais. Está em contraste com schêma que significa figura, semelhança exterior e efêmera. Morphê salienta a natureza divina e real humanidade de Jesus em Fil. 2:6 e 7, e schêma salienta a fase passageira de sua humilhação". 

Ora, a palavra "forma" que aparece em Fil. 2:6 é exatamente morphê, indicando a natureza divina de Cristo. No verso 7, a palavra para designar a figura humana de Cristo é, então, schêma. É preciso "buscar a sabedoria" e ver com "os olhos do entendimento"! 


Para reforço do que estamos explicando, invoquemos o que escreveu Sabatini Lalli, em sua obra "O Logos Eterno", página 38: 

"No texto de Fil. 2:6-11, ocorrem duas palavras cujo sentido deve ser notado, porque revelam o propósito definido que Paulo tinha em mente: 'morphê' e 'schêma'. A palavra 'morphê' significa 'forma' e envolve também a idéia de 'substância. ou 'essência'. A palavra 'schêma', por outro lado, tem, entre outros, o sentido de 'forma', 'aparência', 'semelhança' e 'figura'. Sófocles, por exemplo, empregando a palavra 'schêma', escreveu: 'tyrannon schêma échein' (tem ares ou aparência de rei). Isto significa que qualquer pessoa pode ter 'ares' ou 'aparência' de rei, sem ser, necessariamente, rei! A palavra 'morphê' portanto, em contraste com 'schêma', denota a toma que é a expressão externa de determinada substância e essa forma é concebida como intimamente relacionada com a natureza dessa substância. ... Ao dizer que Cristo Se aniquilou, Paulo não está dizendo que Ele renunciou a Sua natureza divina, mas que renunciou apenas a forma ou o modo de Sua existência como Deus. Como Logos ásarkós (Verbo não encarnado), Cristo é Deus existindo na forma ou no modo de existência divina; como Logos énsarkós (Verbo encarnado), Cristo é Deus existindo na forma, isto é, na essência ou substância da natureza humana". 

Afirma ainda Taylor, na obra citada, p. 309, que a palavra uparchôn, forma gerundial do verbo "uparchô, sou, existo, indica uma condição essencial ou original que perdura, em contraste com o fugaz ou acidental". É correta a tradução de "subsistindo anteriormente", "existindo essencialmente" e conexas. Por que tal é o sentido implícito no grego. 

Um helenista profundo, J. H. Thayer, insuspeito por ser unitariano, na seu famoso Thayer's Greek English Lexicon of the New Testament, edição 1889, explica a passagem de Fil. 2:6 da seguinte maneira: 

"(Cristo Jesus) que embora (quando previamente era Lógos asarkós) teve a forma (em que apareceu aos habitantes do Céu) de Deus (o soberano, oposto morphê dóulou) todavia não julgou que essa igualdade com Deus devia ser zelosamente segurada ou retida". - p. 418, coluna b. 

Ora, isto é importante, principalmente porque os jeovistas citam a Thayer como autoridade (e de fato o é)! Pois bem, mirem-se nele na exposição desta passagem! 

Arthur S. Way, hábil tradutor de clássicos gregos, em "The Epistles of St. Paul" (edição 1921), página 55, assim traduz o passo: 

"Ele mesmo, quando subsistia na forma de Deus, não se agarrou egoisticamente à Sua prerrogativa de igualdade com Deus..." 

E o erudito G. B. Phillips, em Epistles to New Churches, 1948, página 113, em tradução perifrástica, assim verte o texto: 

"Porque Ele, que sempre fora Deus por natureza, não se ateve às Suas prerrogativas de igualdade com Deus, mas despiu-se de todo o privilégio, consentindo tornar-Se escravo por natureza e nascendo como homem mortal". 


Diante dessa nuvem de testemunhas, as mais autorizadas, verdadeiras sumidades na língua original do Novo Testamento, em que fica o arremedo de tradução, o mistifório jeovista? 

Respondam os sensatos.