42 A HERMENÊUTICA E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

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Tentativa  de  um  leigo  para  mostrar  o  outro  lado  da  Teologia  da  Libertação


O Que é Hermenêutica?


Hermenêutica é a ciência da interpretação de textos, de acordo com as regras e princípios, cientificamente formulados. 

Schleirmacher explica hermenêutica como sendo: "a doutrina da arte de compreender." 

Louis Berkhof a define como "a ciência que nos ensina os princípios, as leis e os métodos de interpretação." 

O objetivo da interpretação bíblica é apresentar a revelação de Deus numa linguagem que seja compreensiva ao homem moderno. 

Roberto M. Grant definiu a tarefa da interpretação de qualquer registro do pensamento humano como sendo a exposição do que o autor quer dizer em termos de nossas próprias formas de pensamento. 

A hermenêutica estabelece princípios, métodos e regras necessárias para elucidar palavras ou frases, cujo sentido não esteja bem claro. A hermenêutica teológica procura traduzir, interpretar e fazer compreensiva a mensagem da Bíblia na situação contemporânea. 


Os Teólogos da Libertação e a Hermenêutica


Os teólogos da Teologia da Libertação têm interpretado a Bíblia de maneira peculiar e distinta do que Cristo nos quis ensinar. Para comprovar esta afirmação basta notar algumas das asseverações seguintes: 

"A teologia da libertação seria a contínua mudança de nossa interpretação da Bíblia em função das contínuas mudanças de nossa realidade presente, tanto individual quanto social. Hermenêutica quer dizer interpretação. O caráter circular dessa interpretação significa que cada realidade nova obriga a interpretar de novo a revelação de Deus, a mudar, com ela, a realidade e, daí, voltar a interpretar. . . e assim sucessivamente." – Juan Luís Segundo. Libertação da Teologia, pág. 10.  

Na página 12 o mesmo autor diz: "Nossa nova hermenêutica é o modo de interpretar a fonte de nossa fé, que é a Escritura, com os elementos à nossa disposição."

As duas declarações seguintes de William R. Le Roy, pronunciadas no 10º Congresso Mundial do Concílio Internacional das Igrejas, em 22 de junho de 1979, são a confirmação máxima de uma interpretação bíblica totalmente alheia à orientação divina: 

"A mensagem da Teologia da Libertação é muito simples. Salvação significa libertação política. É a libertação de qualquer forma de opressão (definida por eles) que possa impedir o homem da verdadeira e completa humanização. O pecado e a culpa são basicamente problemas sociais em sua definição e origem." 

"A esperança da teologia da libertação é um reino a ser concretizado dentro do processo histórico pelo esforço humano." 

Quero fazer minhas as palavras do Pastor Karl McIntere, Presidente do Concílio Internacional de Igrejas Cristãs: 

"O reino de Deus é espiritual e cabe à Igreja repudiar o marxismo e pregar o Evangelho, em sua forma única e autêntica, sem procurar nova interpretação da Bíblia de acordo cem as conveniências do momento". 


Leonardo Boff e Clodovis Boff, figuras exponenciais desta teologia, no livro Da Libertação, pág. 17 e seguintes apresentam os seguintes conceitos interpretativos: 

"A Mediação Hermenêutica (julgar). 

"A hermenêutica é a ciência e a técnica da interpretação mediante a qual nos habilitamos a compreender o sentido original de textos (ou realidade) não mais compreensíveis imediatamente pelos homens de hoje. Referimo-nos aqui às Escrituras Cristãs e aos textos maiores de nossa fé, conservados na Tradição. Entre nós e a Bíblia há uma distância de mais de 2.000 anos; a mentalidade mudou e as palavras ganharam novos sentidos. Como captar a Palavra de Deus, que é a luz para nossa ação, se esta Palavra vem encarnada naquela mentalidade e naquelas palavras? Como se depreende, precisamos construir uma ponte, isto é, interpretar. Daí falarmos em mediação hermenêutica. 

"Mediante a mediação hermenêutica elaboramos os critérios teológicos com os quais vamos ler o texto sócio-analítico (a realidade). Só assim a realidade social com suas contradições é apropriada teologicamente e vira uma página religiosa. O que Deus nos tem a dizer com os problemas sociais captados adequadamente pela racionalidade científica? Este é o desafio; aqui não basta a razão, entra a fé. 

"Mediante a fé, a Escritura e . . . identificamos na realidade, presença ou ausência de Deus, resposta ao Seu desígnio salvífico ou negação dele. Onde a análise social diz pobreza estrutural, a fé vai dizer pecado estrutural; onde a análise diz acumulação privada da riqueza, a fé vai dizer pecado de egoísmo, e assim por diante." 


O que é a Teologia da Libertação?


É sempre difícil definir, porque definir é limitar. 

Procuraremos defini-la com idéias de alguns dos seus mais ardorosos defensores: 

"A teologia da libertação é sinal de um novo Momento da História da Igreja na América Latina, portanto é uma teologia especificamente 'latino-americana'. Esta teologia acentua uma das tarefas mais importantes e urgentes: a reflexão teológica sobre o sentido do compromisso da Igreja e dos cristãos com a justiça, com a libertação dos povos. 

"Teologia da libertação é uma maneira nova de fazer teologia. Seria uma 'teologia das realidades' em que vivem os cristãos. 

"A teologia latino-americana da libertação é elaborada num contexto cristão de pobreza, de dependência, de subdesenvolvimento. Sua preocupação básica é a justiça, a libertação dos oprimidos. 

"A teologia da libertação assume nossa realidade social como ponto de partida de sua reflexão teológica com uma profunda consciência da exploração, injustiça, miséria, dependência e aspirações frustradas que marcam esta sociedade." – Segundo Galilea, Teologia da Libertação, págs. 11-17. 

Os teólogos da libertação declaram que se o termo não está na Bíblia, a realidade nela se encontra; citando como exemplos característicos os seguintes: 

Esaú iria libertar-se de Jacó. (Gên. 27:40). 

Os filhos de Israel sendo libertos da opressão egípcia. 

As referências dos salmos à libertação. (Salmos 105:43; 135:24). 

Cristo libertando-nos da escravidão do pecado. (Isa. 61:1; João 8:36; Rom. 7:6; Gál. 5:1). 

"A Teologia da Libertação não se apresenta como discurso abstrato, mas como experiência vivida. . . Sua expressão teológica acha em G. Gutierrez o melhor de seus teóricos. O conteúdo da Teologia da Libertação? É o mesmo que o da Teologia católica de sempre (a divindade de cristo, a redenção pelo mistério pascoal da cruz, os sacramentos, o pecado, a fé...); somente a apresentação assumiu um aspecto mais evangélico, mais eficaz e mais latino-americano." – Hubert Lepargneur, Teologia da Libertação, pág. 123. 

"No fundamento da teologia da libertação se encontra uma mística: o encontro com o Senhor no pobre que hoje é toda uma classe de marginalizados e explorados de nossa sociedade, caracterizada por um capitalismo dependente, associado e concludente. Uma teologia – qualquer que seja – que não possua em sua base uma experiência espiritual é sem fôlego a tagarelice religiosa. Parte-se da realidade miserável como a descrevem os bispos em Puebla, 'como o mais devastador e humilhante flagelo que é a situação de desumana pobreza em que vivem milhões de latino-americanos, vítimas de salário de fome, de desemprego e subemprego, da desnutrição, da mortalidade infantil, da falta de moradia adequada, dos problemas de saúde e de instabilidade no trabalho (Nº 29). Quem não se apercebe desta realidade escandalosa não pode entender o discurso da teologia da libertação. 

"Dizem os bispos em Puebla: 'À luz da fé, vemos a distância crescente entre ricos e pobres como um escândalo e uma contradição com o ser cristão. O luxo de uma minoria constitui um insulto à miséria das grandes massas. Esta situação é contrária ao desígnio do Criador e à honra a ele devida'. (Nº 28). (grifo nosso). 

" 'Ao analisarmos mais a fundo tal situação descobrimos que essa pobreza não é uma etapa transitória e sim produto de situações e estruturas econômicas, sociais e políticas, que dão origem a este estado de Miséria' (Nº 30). 

"O interesse principal da teologia da libertação é criar uma ação da Igreja que ajude, efetivamente, os pobres." – Leonardo Boff e Clodovis Boff – Da Libertação, págs. 11 a 13. 

Este mesmo livro afirma na pág. 31: 

"Insistimos que há uma única teologia da libertação, vale dizer, um igual ponto de partida (realidade social miserável) e uma mesma meta, a libertação dos oprimidos." 

Outro estudioso desta teologia nos apresenta nova faceta desta problemática da seguinte maneira: 

"A Teologia da Libertação pedia emprestado ao marxismo o seu conceito de praxis, na qual se uniriam intimamente teoria e prática. 

"A Teologia da Libertação responde ainda ao conceito marxista de ideologia 'conjunto de representações (mitos, crenças, idéias, teorias) que pretendem ser independentes da base material econômica, ou que consideram como a realidade que determina esta base." – Hubert Lepargneur, Teologia da Libertação, pág. 43. 

Vemos assim que este tipo de teologia visa precipuamente libertar e emancipar socialmente os oprimidos. 

Estes conceitos e outros que poderiam ser alinhados nos dão uma idéia bastante real deste movimento teológico.


Como Nasceu a Teologia da Libertação?


No Concílio Mundial das Igrejas que se reuniu em Genebra, em 1966, houve violentos ataques ao capitalismo e ao mundo livre. Alguns oradores deste conclave, tais como Richard Shaull, advogaram o uso da violência física para obtenção da justiça social e a necessidade radical de transformação das estruturas sociais. 

Estas afirmações estão de acordo com as declarações de líderes da igreja católica nos nossos dias, tais como: 

D. Quirino Schmitz, bispo de Teófilo Otoni, declarou: 

"Quando as famílias pobres estão cada vez mais pobres e os ricos afirmam que está tudo bem, o povo deve usar meios agressivos de reivindicar seus direitos." 

Pouco antes, o prelado sublinhara que São Tomás de Aquino fala nas perspectivas de conflitos civis armados, como estratégia para o restabelecimento da justiça e liberdade. 

Em recente palestra, feita em Porto Alegre, por ocasião do encerramento do seminário da Frente Agrária Gaúcha, D. Ivo Lorscheiter, bispo de Santa Maria e presidente da CNBB, diante de trabalhadores rurais, teve a coragem de afirmar: 

"Em casos extremos, a única solução para a conquista de mudanças sociais é a luta armada, e a Igreja deve aceitar esta situação como inevitável." 


Estas afirmações dos dois bispos apareceram na Folha de S. Paulo de 21 de julho de 1981, como parte de um artigo de Plínio Correia de Oliveira, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 

Conforme Hugo Assmann, em seu livro Teologia desde la Praxis de la Libertación, esta teologia começa depois de Medellin, porque este movimento se apresenta explicitamente como uma forma latino-americana de teologia política. 

O enfoque primordial da teologia da libertação medellística seria este: Nós não somos chamados a proclamar o evangelho para os descrentes, mas na América Latina o principal desafio é libertar o homem da sua situação social oprimida pelas classes dominantes. 

Hugo Lepargneur, no livro Teologia da Libertação, primeiro capítulo, assim o inicia:

A Teologia da Libertação de que tratamos nas páginas seguintes é suficientemente conhecida na América Latina para dispensar longa apresentação. Tudo parece ter começado com a reunião de representantes dos Episcopados Latino-Americanos, que se deu em Medellin (Colômbia) no segundo semestre de 1968. Tratava-se de incentivar e coordenar a renovação pós-conciliar da América Latina, repercutindo os temas do Concílio Vaticano II e adaptando-os às condições peculiares destes países cristãos. Sem muita previsão daquilo que iria acontecer, a tônica dos textos elaborados foi posta sobre a libertação integral dos povos do continente, tudo quanto era empecilho para seu desabrochar humano e cristão . . . A conscientização processou-se em certos meios com notável fervor e desenvolveu o tema. Desde então a palavra Libertação obteve grande sucesso. A partir dos vários documentos de CELAM (Medellin, 1968), assim como das experiências de comunidades de base em várias regiões, os elementos mais dinâmicos do cristianismo latino-americano esboçaram o que vem a se chamar 'Teologia da Libertação', ou 'Teologias da Libertação', para quem percebeu as variantes entre diversas correntes." – Pág. 9.


Líderes da Teologia da Libertação


Os pregadores destas idéias, embora não sejam muitos em número, fazem um grande trabalho por serem muito combativos. 

Em sua maioria são sacerdotes e sociólogos católicos-romanos, tais como Juan Luis Segundo, do Uruguai; Gustavo Gutierrez, do Peru; Camilo Torres, da Colômbia; Paulo Freire, D. Hélder Câmara e Hugo Assmann, do Brasil; e José Porfírio Miranda, do México. 

Os cinco mais influentes líderes protestantes deste movimento são: José Bonino, da Argentina; Fals-Borda, da Colômbia; Emílio Castro, do Uruguai; Rubem Alves e Richard Shaull, do Brasil. Shaull, missionário presbiteriano no Brasil, hoje se encontra no Seminário de Princeton. 


Ensinos dos Teólogos da Libertação


I. A Teologia da Libertação e o Socialismo ou Comunismo. 


Os teólogos da libertação estão convencidos de que o socialismo é a pré-condição necessária para a construção de uma sociedade justa e humana. 

A defesa de Bonino, de idéias extremadas, nos causa estupefação. Proclama a necessidade do diálogo com os comunistas como a única solução viável para os problemas sociais da América Latina. Atente bem para esta declaração: 

"A inclinação comum da solidariedade humana os une (isto é, cristãos e marxistas) em sua oposição à desumana e opressiva organização da sociedade e vida humana." – Christian and Marxists, José Miguez Bonino, pág. 119. 

Como bem declarou William R. Le Roy: "A falácia e a hipocrisia da declaração acima pode ser facilmente percebida por qualquer cristão com discernimento." 

Os sacerdotes reunidos em Itaici, no dia 3 de fevereiro de 1981, no Encontro Regional de Fé e Política, ouviram um de seus membros falar longamente sobre os caminhos que levaram sua igreja a afastar-se de vários aspectos do capitalismo até rejeitá-lo totalmente, fazendo clara opção pelo socialismo.

Tão penetrante é este ensino em todo o mundo, que violência e guerrilha estão sendo apoiadas e propagadas por clérigos, estudantes e leigos dentro da igreja. 

Alguém poderá pensar: Isto é exagero de quem está redigindo, mas não o é, prezado leitor, pois, basta ler jornais e revistas e ouvir os informativos para nos conscientizarmos desta realidade. 


Jarbas Passarinho, então presidente do Senado, com seu descortino político, em artigo inserto na Folha de S. Paulo, do dia 23/0601981 com o título "O Pecado Venial de Pedro", numa linguagem franca tornou esta realidade bastante convincente. Em entrevista a este mesmo jornal, em 30 de agosto de 1981, declarou entre outras coisas o seguinte: 

"Várias Comunidades Eclesiais de Base, estimuladas por uma parcela da Igreja progressista que fez uma opção pelo socialismo, estão tentando invadir terras em árias conflituosas do País e com isso criando um estado de espírito que pode resultar num banho de sangue." 

Segundo o senador, ao optar pela luta ao lado dos pobres, a Igreja se deixaria envolver pela doutrina marxista. Para ele a ação pastoral operária, de um lado, e a ação pastoral da terra, de outro, mostram hoje nitidamente a existência de um autêntico partido socialista dentro do Brasil. Ele segue afirmando que mesmo depois do Concílio Vaticano II não se dizia que o capitalismo era intrinsecamente mau, porque o socialismo daquela ocasião era interpretado como o socialismo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e seus satélites, era mau porque era tirânico, enquanto o capitalismo poderia proporcionar a democracia. Agora depois de Medellin e de Puebla as coisas mudam bastante e uma parcela ponderável da Igreja progressista fez uma opção pelo pobres ou pelo socialismo. 

Em notável discurso no Senado, no dia 9/9/81, o então senador Jarbas Passarinho voltou a insistir em suas denúncias anteriores, declarando mais: "Quando algumas Comunidades Eclesiais de Base incitam à invasão de propriedades privadas, praticam a luta de classes ... e ensejam um conflito sangrento potencial de extrema gravidade, fazem-me temer pelo futuro." 

A invasão de terras a que estamos assistindo, nestes dias, com o apoio ostensivo de uma parcela da Igreja e com a influência marcante dos comunistas nos deixa preocupados, porque prevemos que seu desenlace não será muito alvissareiro. 

A Igreja deveria impedir com toda a tenacidade, que essa falsa doutrina conhecida como Teologia da Libertação serva de instrumento da revolução marxista. Pastores protestantes, padres e bispos estão tentando usar a Palavra de Deus para conseguir uma nova sociedade, um novo sistema social, um "Reino de Deus" precedido pela revolução comunista. A Igreja católica até já foi cognominada por um líder do governo (Júlio Martins) de Igreja vermelha, porque tentou implantar no Brasil o absurdo de uma aliança entre Cristo e Marx. A teologia da libertação nada mais é do que marxismo usando terminologia cristã. A Bíblia é torcida e reinterpretada para apoiar a revolução e a matança e também para poder destruir as estruturas sociais existentes. A origem desta doutrina foi Moscou. 

A prova máxima da decisiva influência comunista nesta teologia, nós a temos no livro Libertação da Teologia de Juan Luis Segundo, pág. 17 e seguintes. Atente apenas para esta declaração: 

"Tampouco o modo de conceber e formular os problemas da sociedade será o mesmo que foi antes de Marx. Aceite-se ou não tudo o que Marx disse, conceba-se desta ou daquela maneira seu pensamento social atual que não seja, numa ou noutra medida 'marxistas', quer dizer, profundamente devedor a Marx. Neste sentido, a teologia da libertação da América Latina é certamente marxista." 

Ele declara seu temor, de que esta última frase seja citada fora do seu contexto, eu a estou citando porque creio que ela se encaixa muito bem no contexto do meu assunto. 



II. Os Teólogos da Libertação e seu Envolvimento Político. 


Neste subtópico muito poderíamos escrever sobre a distinção entre as coisas do estado e as coisas de Deus. Se é próprio ou não a igreja se envolver em questões políticas? A fim de não nos estendermos demais, limitar-nos-emos a transcrever um parágrafo da "Carta aos Irmãos" produzida no Encontro de Bispos em ltaici, nos dias 20 a 24 de abril de 1981: 

"Uma outra maneira de fazer ação política é através dos partidos políticos. Não devemos ter medo de entrar na política, pois do contrário, seremos derrubados e enganados pelos politiqueiros espertos e gananciosos. Jesus disse que a gente deve ser simples como a pomba e esperto como a serpente. Por isso devemos discutir entre nós os programas e a prática dos partidos políticos, descobrir quais os interesses que eles defendem, qual a mudança de sociedade que eles propõem. Tudo isto devemos fazer com muita seriedade, para poder descobrir quem são os lobos que chegam até nós vestidos de ovelhas, e quais são os partidos que realmente vêm do povo e defendem os interesses e os direitos do povo trabalhador." 


III. A Teologia da Libertação e os Pobres. 


O padre Segundo Galilea, em Teologia da Libertação, pág. 17, assim se expressou: 

"Dizíamos que o original da teologia da libertação é que ela parte da realidade eclesial latino-americana. Por isso mesmo, seu enfoque é diferente do de outras teologias elaboradas na Europa e nos Estados Unidos. 

"Estas escolas teológicas partem de contextos cristãos de opulência, de expansão cultural, a partir de mundos 'desenvolvidos'. Sua preocupação básica é a secularização, a perda de fé num mundo científico e ilustrado. O interlocutor desta teologia é o 'não crente'. 

"A teologia latino-americana da libertação é elaborada num contexto cristão de pobreza, de dependência, de subdesenvolvimento. Sua preocupação básica é a justiça, a libertação dos oprimidos. Seu interlocutor não é primariamente o não-crente (o povo latino-americano mantém uma forte religiosidade), mas sim o 'não-homem', aquele que a marginalização e a miséria mantêm numa situação subumana." 


Este autor, no mesmo livro, na parte intitulada "A Dimensão Salvadora do Serviço ao Pobre, declara: 

"É uma das questões mais significativas da teologia da libertação, que reflexiona a partir de um continente de pobres. A intuição fundamental é que no cristianismo o essencial é o sentido do pobre, uma opção pelos pobres, o serviço da libertação dos pobres. Isto constitui um critério decisivo para Jesus em ordem à salvação. 

"Este tema é muito rico. Vou formulá-lo, em seus termos essenciais, no esquema de síntese a que me propus. 

"Na vida cristã, o sentido do pobre é tão capital, que é inseparável do próprio sentido de Deus. Isto é ensinamento permanente dos profetas, para os quais o culto a Deus é vão sem justiça e o amor ao pobre, e a verdadeira conversão dá-se no serviço ao irmão, particularmente o oprimido e o necessitado (cf. Isa. 1:10-17; 58:6-7; etc.). 

"Parece inútil insistir como na Nova Lei, o Evangelho de Jesus, este sentido do pobre, como encontro salvador com Deus, ficou reforçado e foi levado a novas dimensões. São bem-aventurados (Luc. 6:20); a eles dirige-se principalmente a Boa Nova (Luc. 4:18; 7:22). Há uma presença privilegiada do Senhor nos pobres, nos sofredores e nos oprimidos: 'Em verdade eu vos digo: Todas as vezes que fizestes isto (dar de beber, comer, visitar o enfermo e o preso, vestir o despido, etc.) a um desses meus irmão mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes' (Mat. 25:40). 

"Nesta mesma parábola do juízo final, o serviço libertador (ainda material) do pobre é o caminho da salvação, e a falta de sentido do pobre, como irmão necessitado, o caminho da perdição (cf. Mat. 25:31 ...).

"Para Jesus o cumprimento da lei da salvação se resume no amor a Deus e no amor ao irmão (cf. Mat. 22:37-40) e este amor ao irmão, em seu ensinamento, verifica-se na misericórdia com o irmão necessitado, o pobre." – Págs. 50-51. 

A teologia da libertação coloca muita ênfase na chamada "Igreja dos Pobres"; isto é, "Igreja com e a partir dos pobres. Ensinam que os pobres são os recipientes privilegiados do Evangelho. Esta afirmativa destoa com os ensinamentos bíblicos, como a declaração de que Deus não faz acepção de pessoas. O relato bíblico nos informa que não apenas os humildes pastores celebraram o nascimento de Cristo, mas também os sábios e ricos com seus dispendiosos presentes. As páginas sagradas estão repletas de exemplos de ricos que levaram vidas coerentes com os ensinamentos divinos. Deus chama iletrados e cultos para o seu ministério como nos atestam as escolhas de Pedro e Paulo. 

Sendo a situação dos pobres precária em várias partes do mundo, como sentimos na América Latina, não será o papel da Igreja combater esta situação para que haja mais igualdade entre os seres humanos? 

Sim, a preocupação com o pobre é de origem divina, mas o transformá-lo em guerrilheiro para promovê-lo na sociedade é contrário aos ensinos bíblicos. Jamais olvidemos que a missão precípua da igreja é espiritual. Jesus tornou isto bem claro ao afirmar: "o meu reino não é deste mundo". 


IV. Seu Conceito de Pecado.


Pecado de acordo com a teologia é a transgressão da lei de Deus, mas a teologia da libertação crê ou defende que a opressão dos ricos sobre os pobres é pecado, isto é, uma ofensa a Deus. O Padre Clodovis Boff na Revista Eclesiástica Brasileira Nº 37, dezembro de 1977 enfocou este mesmo tema com o substancioso artigo – "O Pecado Social". 

"O ponto de referência para a conversão já não é mais o coração pecador que está em rebeldia contra um Deus santo; mas agora o ponto focal para a conversão refere-se àquilo que é externo, como as estruturas sociais. Concluímos que para eles pecado é sinônimo de opressão social e injustiça de qualquer espécie, logo a libertação do pecado só é possível pela derrota daquelas estruturas sociais opressivas." 

Notem bem a declaração de Hubert Lepargneur, no livro Teologia da Libertação, pág. 10: "O pecado que mobiliza as mais sonoras denúncias não é mais o pecado pessoal do fiel, mas o pecado coletivo das estruturas ou o pecado anônimo dos poderes nacionais, estrangeiros ou 'internacionais', que corrompem a ordem social por egoísmo e ganância, sede de poder e imperialismo." 

Como igreja cremos que há injustiças sociais, e que os cristãos têm uma responsabilidade social (Mateus 22:39), mas não podemos aceitar os métodos de conseguirem justiça social defendidos por seus líderes, como já vimos anteriormente. Nossa posição como igreja diante da Teologia da Libertação está bem expressa no artigo "Reforma ou Redenção" do Pastor Enoch de Oliveira, publicado na Revista Adventista, dezembro de 1983, págs. 11 a 13. 


Conclusão


O desejo de que houvesse em nosso mundo justiça social com extermínio da miséria é louvável, mas a maneira apresentada para atingir esse desiderato pelos Teólogos da Libertação é errada, porque se opõe aos princípios do Evangelho ensinados por Cristo. 

Nada mais oportuno do que concluir com um parágrafo da Declaração Sobre a Teologia da Libertação do 10º Congresso Mundial de Igrejas Cristãs: 

"Portanto, nós declaramos que a 'teologia da libertação', como defendida e ensinada hoje sob a análise marxista, embora vestida de terminologia religiosa, é satânica em sua origem; política em seu propósito; horizontal em seus interesses; decepcionante em suas promessas; desumana e opressiva em sua ética social; tirânica em sua natureza; destrutiva em seu conceito de liberdade e de direitos humanos; anti-sobrenatural em suas pressuposições religiosas; antropocêntrica, porque salienta a capacidade do homem para emancipar-se, e assim nega a depravação total; Antibíblica no seu esforço para unir ou sintetizar dois sistemas de crença radicalmente opostos (o natural versus o sobrenatural), antisocial na sua filosofia, pois escraviza o homem e aumenta seus problemas sociais; e, desesperada em sua mensagem, pois abandona o homem nos seus pecados, no seu estado de rebelião e de egoísmo ignora a Cruz e o Sangue de Cristo, e destina o homem ao inferno e à separação do amor de Deus. . . ." – Relator: William R. Le Roy. 


Nota


Para a apresentação deste trabalho consultei muitos livros, revistas populares e religiosas, como a Revista Eclesiástica Brasileira; e vários artigos de jornais. Dentre os livros destacam-se como mais significativos os seguintes: Libertação da Teologia de Juan Luis Segundo; Teologia da Libertação de Segundo Galilea; Frontiers of Theology in Latin America, editado por Rosino Gibellini; Teologia da Libertação de Hubert Lepargneur; Teologia do Político e Suas Mediações de Clodovis Boff; Da Libertação de Leonardo Boff e Clodovis Boff.