19 A CRIAÇÃO EM 42.000 Anos

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O livro Seja Deus Verdadeiro – título que não casa com o conteúdo arrevesado – traz às páginas 174 e 175 o dogma da cosmogonia jeovista, segundo a qual nosso mundo foi criado em 42.000 anos, ou seis dias de 7 mil anos cada um. 


Desta forma, o sétimo dia, o "descanso" de Deus, segundo eles, ainda está transcorrendo, acha-se em pleno exercício, pois, tendo começado em Gên. 2:2, está agora completando 6.000 anos. E os últimos 1.000 anos neste "descanso" começarão logo com o Armagedom, iniciando-se o reino milenial de Cristo, com Satanás amarrado, etc. Imaginação não lhes falta. 


Em que base se assenta esta fantasia? Simplesmente no fato de ter Deus cessado a Criação no "sétimo dia". E, num rasgo de genialidade, concluem: este "sétimo" nos leva à conclusão de que cada "dia" deve ter durado "sete mil" anos! Não é mesma sensacional? Procuram buscar reforço para esta mirabolante interpretação no fato de que em Gên. 2:4, por exemplo, a palavra "dia" significa mais do que um período de 24 horas. 


Vamos esbarrondar este absurdo. O "argumento" é por demais velho, surrado e puído, de tão usado pelos evolucionistas e modernistas religiosos de todos os matizes. É a velhíssima estória de a palavra yom (dia) ter no hebraico um sentido elástico. Concordamos. No entanto, vamos estudar o assunto em profundidade. 

Antes, porém, de prosseguirmos, convém dizer que a hipótese jeovista, do "dia" criativo com duração de sete milênios, não veio assim como uma revelação indiscutível, líquida, certa, intocável. Surgiu como coisa admissível, imprecisa, razoável, verossímil, aceitável. Só na fase atual da seita é que ganhou foros de dogma. 

Leio no livro "Criação", da autoria de Rutherford (não confundir com um tratado de nome idêntico publicado pelos "auroristas" ou russelitas dissidentes no qual defendem o "dia" de mil anos), edição de 1923 (quando o nome da Seita ainda era "Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia") à página 27; o seguinte: 

"Desde que o Senhor dividiu os Períodos da Criação em sete, É RAZOÁVEL admitir que estes fossem de igual duração". 

Ora, isto não é evidência, nem prova. É uma afirmação inteiramente livre, temerária e fantasiosa, sem a escora de um "Assim diz o Senhor". Perguntaríamos honestamente: Que relação podem ter os sete períodos, com sua hipotética duração? Que identidade lógica pode haver? Com tal método, pode-se afirmar livremente que o "dia" tanto pode ter 7 mil anos, como sete milhões de mas sem que se incorra em ilogismo! Notemos, sobretudo, a insegurança contido na expressão: É razoável ... 

Em outro livro publicado ainda pela Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia, em 1943, denominado A Verdade Vos Tornará Livres, voltam ao assunto à página 58, com estas palavras tíbias. vacilantes, incertas: 

"Por conseguinte, este grande dia de descanso do Criador para com a terra PARECE SER de cerca de sete mil anos de duração. Sendo de tal duração este sétimo dia. É RAZOÁVEL concluir que os seis dias de trabalho precedentes eram cada qual da mesma duração". 

Também aqui o "juiz", inseguro e vago, sem convicção e sem certeza, usa as expressões "parece ser" e "é razoável concluir" – que lhe tiram toda a autoridade de "doutrina". 

Feitos estes reparos, passemos direto ao assunto: 

1. Primeiramente, e para abrir nossa argumentação, convém denunciar o flagrante ilogismo hermenêutico em tentar um numeral ordinal (sétimo) para transformá-lo em cardinal (sete). Isto aberra de todo princípio estabelecido e consagrado em exegese. Isto, na província do bom senso e da lógica, destrói a pretensão jeovista. 

2. Quem invoca as línguas originais da Bíblia em abono de uma tese terá que arcar com todas as implicações válidas e comprovadas que elas encerram. Um estudo imparcial e acurado dos manuscritos hebraicos revela este fato surpreendente: em todos os casos em que a palavra yom (dia) é acompanhada de um numeral ordinal, o sentido é infalivelmente o de um dia de 24 horas. É só verificar as ocorrências no texto sagrado. Ver-se-á que este é o sentido quando a Bíblia diz "o segundo yom da festa", "o terceiro yom da jornada", "o décimo-sétimo yom do mês", e assim por diante. 

Ora, esta regra aplica-se aos versículos da Criação, nos quais se verifica a existência do numeral ordinal junto destes períodos de tempo. Lemos: por exemplo. "o primeiro dia" (Gên. 1:5), "o segundo dia" (v. 8), "o terceiro yom" (v. 13), "o sexto yom" (v. 31), e assim por diante. Isto prova, sem sombra de dúvida, que, neste registro, os dias eram solares, de 24 horas, e nunca longos períodos de tempo, ou 7.000 anos. 


3. Num assunto como este, não é de desprezar-se o testemunho dos grandes lexicógrafos hebraicos, entre os quais apontamos os abalizados, Buhl, Koening, Brown, Driver, e Briggs, todos unânimes em afiançar que os dias mencionados em Gên. 1 são dias de 24 horas. Igualmente não é de desprezar-se a conclusão de renomados pesquisadores e estudiosos do assunto. 

August Dillmann, em sua festejada obra Die Genesis, remata com estas palavras o comentário sobre a Criação: 

"As razões desenvolvidas por escritores antigos e modernos no esforço de interpretarem estes dias como longos períodos de tempo são INSUBSISTENTES". 

Outro estudioso desapaixonado do assunto. John Skinner, em seu conhecido tratado International Critical Commentary, Vol. 1, página 21, na seção Genesis, assim conclui: 

"A interpretação de yom como significando aeon – recurso favorito dos que querem harmonizar a ciência com a revelação – opõe-se ao sentido clara da passagem e não tem nenhum abano do emprego gramatical do hebraico". 

Portanto não há porque inventar-se um prolongamento de tempo indefinido ou mesmo de 7.000 anos, quando o "dia" é inequivocamente solar! 


4. Os últimos três dias da Criação foram, inquestionavelmente, controlados pelo Sol, que surgiu no quarto dia. Pois bem, estes últimos dias são referidos, no texto, exatamente nos mesmos termos dos dias anteriores. E o Sol só pode demarcar dias de 24 horas. Nunca uma extensão de 7.000 anos. 


5. A própria redação da narrativa, no original, indica a curteza do tempo, a rapidez da Criação, a momentaneidade dos fatos. Senão vejamos. 

a) No caso da luz, por exemplo, há um fortíssimo imperativo do verbo hebraico hayah (ser, tornar-se). "Faça-se a luz!" Este "faça-se" não comporta delongas. "E a luz SE FEZ". Também nesta última frase, é obrigatório o sentido de instantaneidade, e não de uma demora de 7.000 anos. Não teria cabimento a luz demorar tão longo tempo para se fazer, para surgir, para brilhar. Onde fica o poder de Deus? O relato indica que houve execução imediata ao mandado divino. 

b) Outro exemplo do forte imperativo hebraico ocorre em relação ao terceiro dia. Lemos em Gên. 1:11: "Produza a terra a relva (...)". No original está literalmente "Terra, nasça, renovos!" Da'sba, significa: faça brotar agora! E a registro indica que imediatamente a terra produziu. E as plantas yatsá (saíram). 

c) O mesmo ocorre na verso 30: "Povoem-se as água de enxames (...)". No original está: "Água, enxameia enxames!" De novo o vigoroso imperativo hebraico aí está para desmentir o castelo de cartas dos jeovistas, evolucionistas e modernistas!!! E o que mais admira é eles que tanto alardeiam estribar-se nas línguas originais da Bíblia, coando mosquitos aqui e ali, engulam camelo tão volumoso, grotesco e indigesto como este! 

d) O fraseado hebraico de Gên. 1 é confirmado, de modo inequívoco, em Salmo 33:9, onde referindo-se à Criação, se lê: "Pois Ele falou, e TUDO SE FEZ; Ele ordenou, e TUDO PASSOU A EXISTIR". Esta linguagem é totalmente inadequada para longos períodos de tempo, pois o que ela diz é que tudo se concretizou imediatamente. 

A conclusão é fatal: os dias da Criação foram dias solares. 

e) Diz a Bíblia, em sua linguagem cristalina, que houve "tarde" e "manhã" EM CADA DIA da Criação. No hebraico, manhã é a parte clara, o dia propriamente dito, ao passo que tarde é a parte escura, noturna. Se num único dia houve tarde e manhã, então, a hipótese jeovista nos levaria fatalmente a admitir que essas 24 horas tiveram uma extensão ininterrupta correspondente a um tempo longuíssimo da 7.000 anos, sendo 3.500 anos de parte clara, e 3.500 de uma noite interminável. Isto é um contra-senso. Imagine-se o Sol ardendo num espaço de 3.500 anos! Teria queimado tudo. Ou então, se começou pelas 3.500 noites, o mundo vegetal teria perecido na escuridão. 

Afirmar, por outro lado, que os 7.000 anos do "dia" da Criação não eram um só período, mas compunham-se de dois milhões e quinhentos e vinte mil dias literais, complica ainda mais a questão, e não honra a inteligência dos jeovistas! 


6. O fato de as plantas, a relva, a forragem terem surgido no terceiro dia, e continuaram, vivendo nos dias subseqüentes da Criação, servindo de alimento para os animais, comprova que estes dias eram de fato dias solares. Primeiro porque no dia imediato surgiu o Sol; segundo porque os animais criados no quinto e sexto dias precisavam da vegetação para sobreviverem. 


7. Atente-se sobretudo para este fato, que é da mais alta importância. No terceiro dia surgiram as plantas, ao passo que os animais surgiram no quinto dia. Ora, as plantas que deitam flores dependem dos insetos para reproduzirem, pois eles lhes transferem o pólen. As plantas fanerogâmicas só se reproduzem pela polinização, e esta é feita pelos insetos. Como poderiam estas plantas esperar 7.000 anos (ou 2.520.000) dias pelos insetos? A verdade é que esperaram apenas um dia, o quarto. Nada mais, pais já no quinto havia os insetos, e eles trabalharam na polinização, porque é a lei da Natureza em vigor desde a Criação, como o é a reprodução animal. 

Informa-nos Clarke que mudas de trevo vermelho foram levadas, certa vez, da Inglaterra para a Austrália. Um mês depois, feneceram. Por quê? Faltou a polinização. Com outra remessa de mudas de trevo foram também as abelhas polinizadoras. O resultado foi excelente, havendo reprodução abundante. 

Os dias da Criação foram de £4 horas. 


8. O homem foi criado no sexto dia, dia que na concepção dos jeovistas teve a duração de 7.000 anos. Pediríamos que os amigos nos esclarecessem estes pontos: 

1.º Se Adão nasceu no sexto dia, e viveu 930 anos segundo a Bíblia, viveu-os dentro do período dos 7.000 anos que durou o "dia", o sexto? Se foi assim, como pode a Bíblia relatar fatos da vida de Adão depois do sábado (sétimo dia), e anos posteriores? 

2.º Se o "sábado da Criação", o sétimo dia dela ainda está em pleno transcurso, segundo a idéia jeovista, pois ainda faltam mais de mil anos para terminar, então logicamente Adão ainda está vivendo. Onde estará ele, que não dá notícia? Porque a Bíblia diz que ele viveu depois do sábado. Se o "sábado" não acabou, os acontecimentos posteriores ainda não se deram, nem a queda, nem nasceram os filhos de Adão, nem se formou a humanidade! 


9. No mesmo livro Seja Deus Verdadeiro, há um capítulo intitulado "Por que a Evolução Não Pode Ser verdadeira", que bem demonstra a insegurança das afirmações doutrinárias das "testemunhas". Ali fazem pesada carga contra o evolucionismo. Combatem a chamada "seleção natural das espécies", e dizem que todas as raças provieram de um casal original. E para justificarem a argumentação neste ponto, à página 81, escrevem textualmente: "A Geologia mostra que as formas complexas de vida apareceram SUBITAMENTE numa grande variedade de famílias, como seria o caso do Criação". (Versais nossos). 

Se confessam que as formas de vida surgiram subitamente na Criação, então como harmonizar esta declaração com a outra declaração de que cada "dia" da Criação teve a duração de 7.000 anos? Isto em bom português chama-se contradição! 

Escrevem textualmente que "todas as raças provêm de um casal original" que é Adão e Eva, casal criado no sexto dia, e esse dia, segundo a utopia jeovista, compreende sete milênios. Então a criação de nossos primeiros pais ocorreu em 7.000 anos. Foi criação ou evolução? Se a vida humana se formou num decurso de 7.000 anos, por certo não é a criação súbita da parte de Deus. E se não foi assim, então somos levados naturalmente a pensar em evolução, e devem, para ser coerentes, arrancar o capítulo VII do livro citado. 

Se não aceitam esta conclusão, única cabível no caso, então ficam no dever de provar em que "dia" desses longos 7.000 anos surgiu Adão. Barafunda intrincada! Tudo por fugirem da claríssima linguagem genesíaca, e não aceitarem simplesmente o que a Bíblia diz! 


10. Agora, a questão do sentido elástico de yom (dia). Teimam os jeovistas em afirmar e reafirmar com veemência que em Gên. 2:4, o termo yom é empregado para abranger todos os sete dias. E é verdade. Contudo, ocultam o fato irrefragável de que neste versículo não há o numeral ordinal junto de yom. Consulte-se o original. E o sentido de "dia" aí é tão irrelevante a ponto de as modernas traduções o omitirem. 

Almeida Revista e Atualizada, por exemplo, traduz assim: "Esta é a gênese dos céus e da terra quando foram criados, quando o SENHOR Deus os criou.". Como se verifica, os revisores dessa tradução não consignaram a palavra "dia" que, no caso, tem sentido meramente acidental e indeterminado, fato impossível de se dar com Gên. 1. 


11. Outro fato importante: o mandamento do sábado, que insofismavelmente a ele se refere como a um dia solar de 24 horas, REPORTA-SE à Criação. "Porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou". 

Seria ilógico, absurdo, disparatado, sem nexo guardar um dia de 24 horas como memorial de seis dias de 7.000 anos. 

Notemos especialmente que em Lev. 23:32 se diz que o sábado devia ser guardado "duma tarde a outra tarde". E ali se emprega a mesma palavra hebraica usada em Gên. 1 para "tarde" em cada dia do Criação. 

De tudo se conclui que a teoria esdrúxula da Criação em 42.000 anos é mais uma fantasia entre as tantas que constituem a dogmática imaginosa da seita. 

"Pela fé entendemos que foi o Universo formado PELA PALAVRA de Deus, de maneira que o visível VEIO A EXISTIR das coisas que não aparecem". Heb. 11:3. 

Graças a Deus que é assim!