Outra subtileza, consignada pela tradução jeovista denominada Novo Mundo, Edição Brasileira, aliás refletindo ipsis verbis a inglesa, é a maneira tendenciosa de verter S. Mat. 24:3:
"Enquanto estava sentado no Monte das Oliveiras, aproximaram-se dEle os discípulos, em particular, dizendo: 'Dize-nos: Quando sucederão estas coisas e qual será o sinal da Tua presença e da terminação do sistema de coisas?'." – (Grifo nosso).
O termo '"presença" aí está para permitir a interpretação de uma manifestação invisível da volta de Cristo de modo a combinar com a esdrúxula escatologia jeovista.
Como este trabalho se destina mais aos estudiosos de certa cultura, é de todo conveniente reproduzir o original com a tradução "colada" interlinear, para que se veja o incabimento da "tradução" dos Torre de Vigia:
katheménou dé autou epi tou orous tón Elaion
Estando sentado pois ali em o monte das Oliveiras
Prosêlthon auto oi mathetai kat idian legontes
aproximaram-se dEle os discípulos em particular pediram:
Eipe hemin, pote tauta estai, kai ti to semeion tês
Dize nos, quando isto será. E qual o sinal da
sês PAROUSIAS kai sunteléias tou aionos.
tua VINDA e fim do tempo?
Convém dizer liminarmente que um dos dogmas basilares das atuais "testemunhas de Jeová" é o de que no ano de 1914, tendo terminado os "tempos dos gentios", iniciou-se a "segunda presença" de Cristo, e que a partir de então Ele está preparando os verdadeiros cristãos, ou sejam, os que aceitarem o arrevesado sistema doutrinário jeovista, para sobreviverem à grandiosa catástrofe do Armagedom, quando então os infiéis serão varridos da Terra. É o que se depreende de suas publicações fantasiosas e anódinas. Afirmam que Cristo já veio invisivelmente, e também invisivelmente dirige a organização teocrático jeovista com sede em Brooklin, Nova York. Reafirmam dogmaticamente que Cristo já veio, embora ninguém O visse, a não ser os que "buscam a sabedoria" e aplicam o "olho do entendimento".
Todo este castelo de cartas se baseia na tradução da palavra grega parousia por "presença" e concluem, com ares doutorais, que esta "presença" pode ser invisível.
A traduçãozinha brasileira Novo Mundo que circula por aí não procura explica porque vertem parousia por "presença", mas na mesma tradução em inglês, à página 780, apresentam uma lista de 14 recorrências da Palavra parousia no NT, todas traduzidas por eles igualmente por "presença". E, no entanto, à página 779, elaboram a seguinte defesa, que chega a ser risível pela sua inconsistência:
"A tendência de muitos tradutores é vertê-la aqui por 'vinda' ou 'chegada'. No entanto, em todas as 24 ocorrências, a palavra grega parousia .... tem sido por nós traduzida por 'presença'. Da comparação da parousia do Filho do homem com os dias de Noé, em S. Mateus 24:37-39, é muito evidente que o sentido da palavra é como a traduzimos. E do contraste estabelecido entre a presença e a ausência do apóstolo, tanto em II Cor. 10:10 e 11 como em Filip. 2:12, o sentido de parousia é tão clara que paira acima de controvérsia para outros tradutores".
Dizer que "para outros tradutores" o sentido de parousia "paira acima de controvérsia" é uma afirmação temerária, pois pode-se afirmar, com absoluta segurança, que desde 1871, quando o "Pastor" Russell estabeleceu este estranho conceito (presença invisível), tem ele sido denunciado e confutado por todos os eruditos após acurado exame.
A legítima exegese bíblica é natural, sincera, imparcial, sem ater-se a esquemas pré-fabricados, e o contexto, em muitos casos DETERMINA o exato pensamento do escritor sacro. Dentro de uns poucos contextos talvez seja admissível que parousia tenha o sentido de "presença", mas nunca presença invisível. Nenhum erudito ou tradutor de renome jamais sustentou a tradução que signifique presença invisível.
Concluir que "presença", mesmo admitindo-se em certos contextos, implique necessariamente invisibilidade é crasso engano. Por exemplo:
TRADUÇÃO NOVO MUNDO TRADUÇÃO CORRETA
I Cor. 16:17 – "Mas eu me alegro "Alegro-me com a vinda de Estéfanas,
com a presença de Estéfanas, e de Fortunato e de Acaico; porque
e de Fortunato e Acaico, porque estes supriram o que da
compensaram a vossa ausência aqui". vossa parte faltava".
II Cor. 7:6 – "Não obstante, Deus "Porém Deus que conforta os
que consola as abatidos, consolou- abatidos, nos consolou com a
nos com a presença de Tito". chegada de Tito".
As chamadas "testemunhas de Jeová" para não darem o braço a torcer, verteram para "presença" a palavra parousia nos passos acima, mas em pura perda. Estariam Estéfanas, Fortunato, Acaico e Tito "invisíveis" com sua "presença"? Não é mais curial traduzir-se por "vinda" e "chegada"? Seria admissível que em Filip. 1:16 e 2:12 a "presença" do próprio Paulo se deva entender como invisível?
MARTIN & KLANN, na obra "Jehovah of the Watchtower", página 157, após exaustivo estudo deste ponto, concluem:
"Se os Torre de Vigia admitissem por um momento que PAROUSIA deve ser traduzida por 'vinda' ou 'chegada' nas passagens que falam do regresso de Cristo – maneira por que todos os tradutores de gabarito a traduzem – então a 'presença invisível' de Cristo, intentada pelo 'Pastor' Russel explodiria em seus rostos".
Ainda em abono do sentida exato de PAROUSIA, podemos citar uma autoridade de que as próprias "testemunhas de Jeová" se valem quando lhes convém: o Dr. Josh F. Thayer, também unitariano mas não jeovista, autor de um dos melhores léxicos do grego do Novo Testamento. No aludido dicionário, página 490, comentando o termo parousia, diz textualmente:
"(...) um retorno (Filip. 1:26). No Novo Testamento acha-se especialmente relacionado com o Advento, isto é, a futura volta visível de Jesus, procedente do Céu, o Messias, que virá para ressuscitar os mortos, decidir o último julgamento e estabelecer, de maneira aparente e gloriosa, o Reino de Deus". – (Grifos nossos).
O sentido de parousia deve ser buscado nos grandes lexicógrafos, especialmente em Liddell L. Scott. Ver-se-á que o sentido predominante é mesmo "vinda", "chegada" sendo assim empregada exclusivamente pelo "koiné" ou grego do NT.
Há mais ainda: mesmo no grego clássico, seu sentido é de presença visível. Nos papiros comumente aparece a palavra parousia para designar a visita de um imperador ou rei. Mas no Novo Testamento, como foi dito, é, por assim dizer, o termo cunhado para designar o segundo advento de Cristo, mas nem de leve sugere uma vinda secreta.
E assim se demonstra a falácia da "tradução" jeovista Novo Mundo em mais um ponto!