14 O QUE SE DEVE SABER SOBRE "JEOVÁ"

Radiografia Jeovismo temas



Por amor dos leitores menos cultos, alinhamos aqui alguns esclarecimentos liminares, úteis para a avaliação do que pretendem os jeovistas. 


O hebraico escrevia-se somente com consoantes nuas. Não havia vogais. Os sons das palavras transmitiam-se oralmente pelos rabis, e isso nos tempos bíblicos. 


Depois o hebraico entrou em declínio. Por muitos anos, devido a fatores históricos inelutáveis. Somente no século VI é que começaram a surgir os eruditos chamados "massoretas" (do hebraico μασσοραη, que quer dizer "tradição"), os quais instituíram um sistema de pontinhos e sinais representando as vogais, ou melhor, os sons vocálicos abertos e fechados, c por isso são chamados "sinais massoréticos". 


Eram colocadas embaixo, em cima e até dentro das consoantes. Convém frisar que essas anotações não fazem parte do texto sagrado original. Não, pois o texto é puramente consonantal. 


Por essa razão, a palavra que hoje se conhece como Jeová constava unicamente de quatro letras, isto é, quatro consoantes hebraicas: o iod, o hê, o vau, e de novo o hê. Transliteradas, teríamos YHVH (ou JHVH). 


Costuma-se chamá-las de tetragrama (do grego τετραγραμματον), que quer dizer exatamente "quatro letras". É descabido afirmar que a pronúncia do texto massorético de hoje seja exatamente a mesma dos tempos bíblicos. Por vários motivos, avultando, como já se disse, o acentuado declínio da língua conseqüente às dispersões, redundando em longo período de quase desuso idiomático, além do afrouxamento da tradição entre os israelitas e as naturais transformações que o tempo opera na linguagem. 

A confessa razão de ser da seita jeovista é essa: reabilitar o nome sagrado Jeová, que ela proclama ser exclusivo e específico da Divindade, nome que teria sido desprezado e alterado pelos "religionistas". À vista disso, é de bom alvitre conhecer-se os fatos que giram em torno do nome divino, e para aboná-los citaremos outra nuvem de abalizadas testemunhas. 

Há, no hebraico, a palavra querî que significa o que se deve ler, e dela os massoretas se serviram, escrevendo-a na margem para indicarem correções no texto manuscrito da Bíblia. 

A propósito, diz o douto Prof. Guilherme Kerr, de saudosa memória, na sua Gramática Elementar da Língua Hebraica, pp. 90 e 91: 

"Quando o escriba encontrava uma palavra errada, marcava-o com um asterisco, colocava sob ela as vogais da palavra certa, e à margem escrevia querî (o que se deve ler) – e então as consoantes da Palavra certa... 

O querî mais comum é o do tetragrama da nome de Deus do Pacto com Israel (JHVH) que era considerado inefável pelo escrúpulo supersticioso dos hebreus em pronunciá-la. Para evitar que alguém O profanasse pronunciando-O, colocavam sob ele as vogais a, ô, â, da palavra 'Adonay' (Senhor). Isso se tornou tão comum que não era preciso mais colocar à margem as consoantes da leitura desejada. O tetragrama com essas vogais... obrigava o leitor a dizer logo: Adonay". 


E a seguir, uma revelação surpreendente: 

"Jeová não é o nome da Deus de Israel, mas resultou de um erro de leitura do tetragrama inefável com as vagais de Adonay, QUANDO SE RECOMEÇOU O ESTUDO DO HEBRAICO NA RENASCENÇA E NA REFORMA". 


Antes dessa época, os massoretas soíam colocar os sinais vocálicos sob o tetragrama JHVH, embora não se conhecesse a pronúncia do mesmo. Na Renascença, contudo, reavivando-se o estudo da língua hebraica, é que se cristalizou a forma Jeová. E assim conclui o autorizado G. Kerr: 

"Não se sabe mais quais eram os verdadeiros sons que davam a esse nome, supondo-se, pela etimologia, que a forma original deveria ser JAVÉ, 3.ª pessoa do incompleto da verbo αψαη (ser)". 


Transcrevemos, a seguir, outro depoimento valioso, dos doutos Martin & Klann, como consta da obra Jehovah of the Watchtower, p. 146: 

"Nenhum sensato estudioso da Bíblia, par certo, irá objetar contra o emprega do termo Jeová no Livro Santo. Em vista, porém, de no original somente constarem as consoantes hebraicas JHVH, sem vogais, sua pronúncia é indeterminada, dela não se tendo certeza, e fixá-la dogmaticamente como sendo Jeová é ir além dos limites da verdade lingüistica. Quando as pretensas 'testemunha de Jeová' alardeiam com arrogância terem 'restaurado' o nome divino (Jeová), tornam-se ridículos. Todo o estudante do hebraico sabe que, entre ao consoantes J-H-V-H se pode inserir qualquer vogal. Assim, teoricamente o nome divino poderia ser JeHevaH como JiHiviH sem que houvesse a menor lesão à gramática da língua. Temos aqui, pois, outra pretensão oca dos pseudo-eruditos da Torre de Vigia". 


Para reforçar este fato, citemos o douto John D. Davis, clássico dicionarista bíblico, que entre outras coisas afirma o seguinte: 

"JEOVÁ – Pronúncia comum do tetragrama hebraico YHVH, um dos nomes de Deus, Êxo. 17:15. O nome original era ocasionalmente empregado pelos escritores mais distanciados da época mosaica, como Neemias. (...) Era costume entre os hebreus, quando O liam, pronunciar a palavra Adonay, Senhor, em lugar de Jeová. (...) A partir do tempo em que os sinais massoréticos vieram juntar-se às consoantes do texto hebraico, as vogais da palavra Adonay foram ajuntadas ao tetragrama YHVH. A PONTUAÇÃO DAS VOGAIS DEU LUGAR À PRONÚNCIA JEOVÁ, que se tornou corrente desde os dias de Petrus Galatinus, confessor de Leão X, no ano 1518. (...) Crê-se geralmente que a tetragrama YHVH era pronunciada IAVÉ (...)". 

Temos aqui uma informação mais precisa da época em que surgiu a pronúncia Jeová: no início da Reforma do século XVI. É um fato histórico que ninguém pode contestar. 


Consultemos, ainda, o SDA Bible Commentary, reproduzindo valiosos trechos sobre o assunto: 

"Tem havido grandes divergências entre os eruditos a respeito da origem, pronúncia e significado da palavra JHVH. Provavelmente JHVH é uma forma do verbo hebraico 'ser', e neste caso significa 'O Eterno', ou 'O Existente por Si'". – Vol. I, p. 172. 

"Não se deve, contudo, passar por alto o fato de que a pronúncia conhecida através do texto corrente da Bíblia Hebraica é a que nos legaram as massoretas do século VII da era cristã, a qual, como sabemos agora, difere, em certos aspectos, daquela do período do Velho Testamento". – Vol. I, P. 34. 

"Os judeus consideravam o titulo JHVH tão sagrado que não o pronunciavam mesmo quando liam as Escrituras (...) Ao invés disso, liam 'Adonai. (...) Consequentemente a verdadeira pronúncia de JHVH, que hoje se ensina como sendo Jeová, se perdeu". – Vol. I, V. 172. 

"Os judeus piedosos (. ) não o pronunciavam [o tetragrama]. Ao invés, quando deparavam com a palavra JHVH, diziam 'Adonai, Senhor. (...) Todos os leitores judeus, mesmo os principiantes, ao depararem com esta palavra deviam ler 'Adonai, embora só topasse com as vogais da palavra 'Adonai acrescentadas às consoantes JHVH. Em vista deste princípio não ter sido entendido pelos cristãos quando aprenderam a usar a Bíblia Hebraica nos primitivos dias da Reforma, o Divino Nome foi transliterado como 'Jeová' e dessa maneira pronunciado". – Vol. I, p. 35.

Se os neorusselitas pretendem hoje restaurar a pronúncia "Jeová" estão construindo uma fábula, pois procuram restaurar uma coisa incerta. Se querem restaurar um fato sobre uma usança do tetragrama, deveriam evitar de pronunciá-lo, substituindo-o pela palavra "Senhor", o que se estabeleceu na cristandade. Se pretendem restaurar tão-somente o tetragrama, então deveriam grafar apenas as consoantes JHVH em suas "traduções da Bíblia", ficando coma uma expressão impronunciável. De qualquer maneira nunca terão garantias da exatidão do Nome que pretendem restaurar. 

Sumariando o conteúdo acima, temos os seguintes fatos indesmentíveis: 

1. Na Bíblia Hebraica, original, só havia o tetragrama JHVH, o qual aparece pela primeira vez em Gên. 2:4. 

2. Não se sabe qual tenha sido sua pronúncia exata, e fica o desafio para que se prove o contrário. 

3. Pelo menos seis séculos depois de Cristo é que surgiram os massoretas, que inventaram a grafia das vogais hebraicas, e então sob o tetragrama JHVH colocavam as mesmas vogais da palavra Adonay, que significa "Senhor". 

4. O tetragrama passou a ser lido por Adonay, pelo temor da profanação entre os rabinos ou também por superstição, como assinala G. Kerr. 

5. Só na época da Renascença e no começo do movimento da Reforma é que se cunhou a grafia e a pronúncia da palavra Jeová. Mesmo assim não era considerado nome exclusivo de Deus. 

6. Só com a relativamente recente eclosão do arianismo russelita é que surgiu a fúria especificatória do nome Jeová, com que vivem a perturbar o mundo religioso. 


Cremos que os rutherfordistas laboram em crasso erro ao pretenderem que o Nome Divino exclusivo e específico sempre tenha sido Jeová, e que agora, no século XX foram eles comissionados para a tarefa de "restaurar" esse Nome. A Bíblia atribui vários nomes à Divindade, todos válidos e solenes: JHVH, Adonai, Eloim, EI, Elyon, El-Sadday. Não cremos que haja nome privativo para Deus, o Criador dos céus e da Terra, o autor do plano de redenção. As razões que nos apresentam em defesa da exclusividade e especificidade do nome Jeová são débeis e insubsistentes. 

Seria o nome Jeová o primeiro a aparecer na Bíblia? Não! No primeiro capítulo de Gênesis aparece 28 vezes o nome de Deus, mas na hebraico é Elohim. Gên. 1: "No principio criou Elohim os céus e a terra". No verso 2: "o Espírito de Elohim pairava sobre as águas". Verso 3: "E disse Elohim (...)". Verso 4: "E viu Elohim (..,)". E assim por diante. No verso 27, Elohim criou o homem. Em Gên. 2:3, Elohim abençoou o sábado. Só em Gên. 2:4 é que, pela primeira vez aparece Jeová, mesmo assim associado a Elohim. Lá está Jeová Elohim mencionado como criador dos céus e da Terra. E no verso 7 se diz que Jeová Elohim formou o homem. Portanto a Divindade é a mesma apesar dos nomes. Mais adiante encontramos só Jeová, em outros lugares encontramos Adonay, em outros El, e ainda Elyon, El-Sadday, Jeová Sabbaoth (Senhor dos Exércitos). 

Citemos ao acaso Juízes13:8: "Então Manoé orou instantemente a Jeová (Senhor), e disse: Ah, Adonay (Senhor), rogo-te que o homem de Elohim (Deus) que enviaste ainda venha para nós (...)". 


Pergunta, para encerrar o assunto: a quantos deuses se referem os textos acima invocados? Quantos seres divinos ai se acham implicados? 

Respondam os sensatos. A verdade é que Jeová, Elohim e Adonay designam a Pessoa  de Deus, o Deus único e verdadeiro, Criador e Mantenedor dos mundos, Autor do plano da redenção. A verdade é que em face do texto hebraico não se justifica nenhuma diferença de Pessoa com base na mera diferença de nomes. 


A palavra Jeová parece não ter saído dos lábios de Cristo, e também desconhecida de Seus seguidores imediatos. Cristo e os escritores do NT citavam as Escrituras Hebraicas e também a versão Septuaginta (*) que verte o tetragrama por Kurios (grego, Senhor), e com muita propriedade, de vez que o tetragrama tornara-se impronunciável por temor ou superstição dos rabinos. 


E caberia uma pergunta final: Se a Septuaginta, ou Versão dos LXX, foi vertida das Escrituras Hebraicas para o grego por um grupo de eruditos judeus, por que estes zelosos judeus não deixaram intacto o tetragrama, e em vez disso, verteram-no por Kurios (Senhor), como se pode ver nos exemplares disponíveis dessa famosa Versão? 


Jeová não é o único nome autêntico do nosso Deus Todo-poderoso. 


Há, na Bíblia, pluralidade de nomes que designam nosso Deus eterno. Pelo menos onze denominações, entre simples e compostas, são empregadas pelos autores dos livros sagrados ao se referirem a Deus, à mesma Entidade suprema, que criou e governa o mundo. Ei-las: Jeová, Jeová-Elohim, Adonai-Jeová, Jeová-Sabaoth, Jeová-Adonai, Yah, Elohim, El, Eloah, Shaddai e Adonai. 

A ordem dos livros é como se encontra na Bíblia hebraica, e não na nossa. Isso não importa, porque a ordem dos fatores não altera o produto. 


Note-se que o livro de Ester não contém o nome divino. 

Também o Cantares de Salomão, salvo um caso duvidoso em 7:3, em que estaria Yah. 

O livro Eclesiastes só emprega a palavra Elohim, nenhuma vez Jeová. 

Em Lamentações há Jeová, mas também 14 vezes Adonai e uma vez El – todas se referindo ao Deus supremo. 

Em Jó o nome divino aparece 175 vezes, mas Jeová apenas 32, mesmo assim só no prólogo, no epílogo e em poucos outros passas, pois Jó prefere El e Eloah. 

Ezequiel tem preferência por Adonai-Jeová que ocorre 216 vezes. 

Zacarias destaca Jeová-Sabaoth (61 vezes). As partes aramaicas da Bíblia, principalmente no livro de Daniel, não trazem Jeová, mas Eloah 78 vezes no singular e 17 vezes no plural. 


Portanto, afirmar que o nome legítimo de Deus é unicamente Jeová, não encontra fundamento bíblico, e é fruto de fanatismo inconseqüente. 

Apresentamos a seguir uma estatística dos Nomes divinos como aparecem na Bíblia hebraica: 



* É temerário afirmar como sendo assunto liqüidado, a existência do tetragrama na Septuaginta   original.