10 Até onde posso sentir ira sem pecar?

irar sem pecar


Consultoria Bíblica 


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10 - O que quer dizer o texto de Salmos 4:4 “Irai-vos e não pequeis...” também Efésios 4:26 “Irai-vos e não pequeis...” Até onde posso sentir ira sem pecar?


Primeiramente vamos definir o que é Ira: o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa define ira como sendo cólera, raiva, indignação, desejo de vingança.


A palavra ira na Bíblia tem interpretações tão amplas que o Dicionário Teológico do Novo Testamento de Kittel, que é considerado um dos melhores do mundo, dedica 62 páginas ao estudo da palavra ira.


Alguns textos da Bíblia são claros em seus textos para reprimir o sentimento de ira:


- Prov. 15:18 “O homem iracundo suscita contendas, mas o longânimo apazigua a luta.”


- Prov. 18:19 “Homem de grande ira tem de sofrer o dano.”


- Mat. 5:22 “Quem se irar contra o seu irmão estará sujeito a julgamento.”


- Efésios 4:31 “Longe de vós toda a amargura, e cólera e ira...”


E outros: Gál. 5:20. Ecl. 7:9, Jó 5:2, Sal. 37:8, Prov. 14:17...


Como entender este aparente paradoxo, alguns versos bíblicos reprovam o sentimento de ira, e já outros versos declaram Irai-vos mas não pequeis?


A explicação do texto “Irai-vos mas não pequeis” é a seguinte: Segundo o Teólogo Pedro Apolinário, que tem o Doutorado em Línguas Bíblicas, a interpretação deste verso é a santa ira, ou seja, o ódio bem fundado. 


Odiar a injustiça, o erro e o pecado, discernir o bem do mal e o certo do errado. É a santa ira, o próprio Jesus nos deu o exemplo, como se vê na sua maneira de falar sobre os fariseus e no seu comportamento no templo conforme relatado em Marcos 3:5 e Mateus 21:12.


Sentir tristeza e dor, pelo mal estar, aparentemente, vencendo o bem, é uma santa ira.


Há mais uma colocação que nos ajuda a reforçar esta interpretação. Elena Ouro Branco escreveu o seguinte a respeito desta santa ira, no livro “O Desejado de Todas as Nações”, pág. 292: “Há uma indignação justificável, mesmo nos seguidores de Cristo. 


Quando vêem que Deus é desonrado, e Seu serviço exposto ao descrédito; quando vêem o inocente opresso, uma justa indignação agita a alma. Tal ira nascida da sensibilidade moral, não é pecado.”


Devemos entender que por possuirmos sentimentos, é óbvio sentirmos algum tipo de reação ao vermos Deus ou a Bíblia serem ridicularizados ou desprezados. É a ira santa.


Quer dizer então que se sentirmos ira por vermos o mal sobrepor-se ao bem, podemos reagir com cólera e vingança? Existe algum limite para esta ira santa?


Observe, amigo ouvinte, que os versos bíblicos trazem um complemento: Salmos 4:4 Irai-vos e não pequeis, falai com o vosso coração, sobre a vossa calma, calai-vos.” Note, o verso diz inicialmente para se irar, mas não há margem para reações que venham ofender a quem quer que seja. 


O texto diz falar com quem? Extravasar para quem? “Falai com o vosso coração”, nos diz o texto, e termina dizendo: “calai-vos”, reforçando ainda mais, que devemos nos manter calmos para impedir atos de ira.


Em Efésios 4:26 “Irai-vos e não pequeis, não se ponha o sol sobre a vossa ira.” Também nos transmite a idéia que o sentimento de ira santa, como já apresentamos, não deve ser conservando em nossa mente. “não se ponha o sol sobre a vossa ira.” ou seja, não ficar guardando rancores.


Podemos interpretar da seguinte maneira: que sentir tristeza ou indignação por vermos injustiças não é pecado. O que é pecado é extravasarmos esta ira, afetando outras pessoas, ou conservarmos este sentimento no coração.


Devemos salientar aqui, que a justiça e o juízo pertencem a Deus. É Deus e somente Deus, que vai retribuir a cada um, segundo a sua obra. Cabe a Deus o castigo e não a qualquer outro cristão. 


Portanto, ao termos o sentimento de ira, devemos nos acalmar sabendo que o mundo de pecado, terá um dia o seu castigo, e que Deus agirá com uma justiça precisa e certa, para todos de todas as épocas.


Ciente disto ou não, muitas pessoas sofrem pelo sentimento de ira. O filósofo Irwin Edman declarou “Consumimos na raiva a energia que poderia ser utilizada para melhorar as circunstâncias que provocam nossa cólera.” 


O sentimento de ira, cólera, vingança, traz conseqüências desagradáveis: o sol brilha mas não para nós, escutamos a música mas não ouvimos com o coração, algemados por este sentimento, não conseguimos nas alegrar nem com a felicidade alheia. 


A ira influencia a nossa vida, que parece envenenar o nosso sangue. O Psicólogo Dr. José Carlos Ebling, afirma que as pessoas ressentidas, sofrem de dor de cabeça, má digestão, insônia e fadiga. 


As pesquisas revelam que estas pessoas são hospitalizadas com mais freqüência do que as pessoas que tem uma melhor disposição de espírito. Como o ódio e o rancor destroem, o amor e a compaixão fortalecem. Diz H. E. Fosdick “A boa vontade, mesmo para com os ingratos e inimigos, constitui elemento indispensável de saúde emocional.”


Quando você por acaso, sentir o rancor chegar ao seu coração, siga estes conselhos:


I - Investigue a origem do ressentimento. lembre-se que você também não é perfeito, e deve entender as falhas dos outros.


II - Após identificar a causa do ressentimento, esqueça-o. Perdoe.


III - Livre-se do que possa lhe causar ressentimentos. Tenha sonhos e lute por eles com entusiasmo.


IV - A melhor maneira de esquecermos de nós mesmos, é ajudando aos outros. O Dr. Pitirim Sorokim, fez estudos exaustivos nesta área, e concluiu que tratar aos outros com boa vontade e sincera cortesia, provoca de 65 a 90% dos casos, uma reação igualmente amistosa.


V - Quando você sentir a chegada do sentimento de ira, proponha-se a ir a sós e orar com Deus. 


Comentando sobre a atitude de Cristo, Pedro escreveu: “quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças; mas entregava-se Aquele que julga retamente.” I Pedro 2:23. 


Conte para Deus. Entregue os seus problemas para Ele. Confie Nele. Deixe que Ele resolva na hora oportuna as injustiças. Siga o exemplo Dele, e sua vida será uma bênção como foi a vida Dele.


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Compilação do Pr. Irineo E. Koch


Colaboração: Amiltom de Menezes

      

Digitação: José Ricardo Garcia