Perguntas e Respostas sobre o Perdão na Bíblia

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1. O que é perdão?

Perdão é absolvição, purificação, remissão, apagar pecados, propiciação, justificação. De acordo com o Dr. Arnold Wallenkampf em seu livro Justificados página 54, a palavra justificar (dikaio=posto em situação correta com Deus) ocorre 39 vezes no NT. 

Em nenhuma vez em que ela aparece se refere a não ser necessário pedir perdão por faltas cometidas seja aos homens seja a Deus. 

Ao contrário, de acordo com o léxico da língua grega de Arndt e Gingrich, página 197 a palavra justificação é um resultado e um processo em toda vida do crente, justificação portanto, no entender do Apóstolo Paulo é identificada como perdão. (Atos 13:38-39). 

JUSTIFICAÇÃO


Assim, justificar é um processo de perdoar que somente termina quando a vida cessa ou a graça se finda. Onde há justificação há perdão. 

Assim Justificação pela fé é também um processo, em que a pessoa já justificada pode vir a pecar (mesmo sem ser essa a vontade de Deus) e se isso ocorrer ela tem um Advogado que é a nossa propiciação = alguém que perdoa, também significa perdão e expiação, no contexto do NT e conforme I João 2:1-3.

2. Mas quando é que ocorre a justificação ou perdão?

Ocorre em duas etapas: Justificação universal, temporal (provisória) e Justificação pela fé.

Alguns confundem as duas. Falaremos primeiro da justificação universal, temporal e nas perguntas seguintes da justificação pela fé.

A justificação temporal ou provisória é universal. Como o nome já diz ela é para todos, justos e injustos e tem duração provisória, é também automática, ou seja, esse perdão é estendido a todos, mesmo aos que não o pedem. 

Deus já havia concedido essa graça temporária até mesmo aos anjos maus para que o caráter de Satanás fosse revelado plenamente. A justificação universal temporal é para todos, desde o começo do mundo e termina com a história do pecado neste mundo e no juízo final.

a) Deus quer que todos se salvem. I Tim 2:4 - Universal.

b) O Cordeiro e seu sangue foi “conhecido com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos por amor de vós”. I Ped 1:19-20; Apoc 13:8. 

O sangue de Jesus já pleiteava antes mesmo da fundação do mundo, por isso ele é a propiciação pelos nossos pecados e “ os de todo o mundo” I Jo 2:2. – É desde o princípio tanto para os que viverem antes como para os que viveram e vivem depois da cruz.

c) Sua morte não foi apenas pelos crentes mas por todos os homens para conceder a vida material temporária com sua benção e a oportunidade de receber a vida eterna em Cristo. II Cor 5:15; Sal 145:9; Mat 5:45; Luc 6:35. Assim Sua graça envolve o mundo como a atmosfera, infelizmente nem todos a aceitam. (DTN, 615)

d) A justificação universal provisória se baseia no plano da salvação pois Deus quer reconciliar o mundo consigo através de Cristo (II Cor 5:19) e era preciso uma chance de vida a fim de que os homens pudessem receber a graça do Salvador que viria (antes de Jesus) e no Salvador que veio (depois de Jesus). Jo 3:16.

e) Essa graça universal terminará sem futuro para os que não aproveitaram a oportunidade e não aceitaram a Jesus, sendo justificados pela fé. Esses que não aceitaram a Jesus e viveram pecando sob a paciência de Deus terminarão sua carreira em definitivo quando ocorrer o juízo final. II Ped 3:7.

Essa graça temporal universal é a suspensão temporária da execução do juízo sobre os pecadores. Neste caso ninguém precisa pedir perdão, pois este já foi outorgado em caráter provisório, mas somente se consumará no perdão definitivo e eterno se a pessoa der o passo seguinte que é a justificação pela fé. 

A diferença entre uma e outra é justamente o pedir o perdão, ou seja, a absolvição, remissão, expiação, propiciação, como veremos melhor a seguir.

3. Como e quando ocorre a justificação pela fé?

Quando se aceita pela fé a Jesus como Salvador (Jo 3:16, Rom 5:1). Não é somente acreditar, intelectualmente. 

Isso não é suficiente devido a que até mesmo os demônios crêem e estremecem e, no entanto não são beneficiados uma vez que sua crença não se traduz em entrega para estar sob o controle de Deus manifestando isso nas boas obras. (Tiago 2:19). Essa não é para todos e nem é automática. Mat. 22:14 e Atos 3:19; Heb 9:28.

4. A justificação pela fé somente passou a existir a partir da morte de Jesus no Calvário?

Não. A Justificação pela fé é um ensino do Antigo Testamento e que é reafirmado no Novo Testamento. Todos os crentes do AT foram vitoriosos e justificados pela fé (Heb 11). 

É bom lembrar que segundo o livro de Hebreus o sangue de Jesus já era prefigurado pelos sacrifícios de animais e já naquela época se exercia fé no verdadeiro Sacrifício. Infelizmente muitos dos que professavam servir a Deus no AT o faziam confiando em si mesmo, suas boas obras e não da graça de Deus.

O próprio NT ensina que a justificação pela fé é uma doutrina do AT. Paulo diz que Abraão foi justificado pela fé antes de existir Israel, judeu, e mesmo antes da Bíblia ser escrita, ou de Abraão ter sido circuncidado. 

Assim Paulo demonstra que os gentios que aceitarem a Jesus (poder de Deus e sabedoria de Deus para salvação de quem crê) serão justificados pela fé como o foi Abraão (Rom 4). Davi no AT do mesmo modo que Abraão entendia bem a justificação pela fé (Rom 4:6-8). 

5. Se a pessoa é justificada pela fé e todos os seus pecados são perdoados não precisa ela pedir perdão a Deus de pecados?

Precisa. Apenas a justificação universal é que não requer pedir perdão, confissão ou arrependimento. Por exemplo, Davi foi justificado pela fé, conforme, vimos e no entanto ele confessa seu pecado a Deus. 

Compare Romanos 4:6-8 onde Paulo após a morte de Jesus ensina justificação pela fé e o Salmo 32:1-8 que é citado por Paulo em Romanos como exemplo de justificação – ali Davi pede perdão e diz que essa é a atitude assumida por ele que foi justificado (pela fé, segundo Paulo) e é a atitude de todo homem piedoso (que no contexto do Salmo foi justificado pela fé). 

Também sob a justificação pela fé que já operava no AT outros pediram perdão a Deus, como Davi, mesmo sendo já seus filhos, seus servos. Dan. 9:19;
6. Pode a pessoa confessar o pecado sem que isso implique pedir perdão?
Não. 

O NT ensina insistentemente em muitas passagens a confessarmos os nossos pecados mesmo depois da morte de Cristo. Confessar é relatar admitindo os erros, pecados que cometemos contra nosso próximo e contra Deus. 

Se Deus já sabe tudo sobre nós inclusive os nossos pecados, para que confessar? Isso não é obra psicológica apenas essa é a obra do Espírito Santo, você sabe seu pecado ou não, mas somente quando o Espírito o convence do pecado é que você confessa e recebe perdão. 

Sem o Espírito não há confissão e nem perdão. Essa obra do Espírito é até que Jesus venha (Jo 16:8-10). Toda confissão sincera implica pedir perdão, misericórdia, remissão, purificação, lavagem dos pecados, absolvição, propiciação, todas sinônimas ou como já foi dito justificação, uma vez que o significado gramatical de justificar é tornar justo, absolver, perdoar. 

Para ver a vinculação da confissão com o perdão, justificação, propiciação: Lev 5:5, 6, 13; 16: 15, 16; Prov. 28:13; I Jo 1:9; I Jo 2:2; (copiar outras). A Bíblia vincula a confissão com o perdão em vários casos como o já citado de Davi. 

Aliás se a crença de que não se precisa pedir perdão fosse correta, para que confessar o que já foi perdoado? Se já foi perdoado não há o que confessar, pois só se confessa o que se espera que seja perdoado – para pedir implícita ou explicitamente - o perdão.

7. Pode a pessoa se arrepender sem que isso implique pedir perdão, absolvição, etc?

Também não. O verbo arrepender (metanóia) significa mudar de mente, ser transformado interiormente, o que leva a tristeza pelo pecado. 

O arrependimento é produzido pelo Espírito Santo e se aceito no coração humano leva à confissão e perdão. Assim como não tem sentido separar e não se pode separar a verdadeira confissão do perdão, assim não se pode separar o arrependimento do perdão. 

Embora separemos para fins de compreensão, o verdadeiro arrependimento ocorre numa só obra do Espírito Santo juntamente com a confissão sincera e o perdão divino. 

Assim como não há verdadeiro arrependimento sem perdão, não existe perdão sem verdadeiro arrependimento. Durante seu ministério João Batista e Jesus ensinaram que a “remissão dos pecados” (= perdão) somente acontece precedida de arrependimento (Marc 1:4; Luc 3:3). 

Após sua ressurreição continuou a ensinar o mesmo: somente haveria remissão de pecados (perdão) mediante prévio arrependimento (Luc 24:47). Mesmo entre irmãos, somente há perdão (remissão de pecados) por parte do ofendido se o ofensor se arrepender (Luc 17:3). 

Seria sem sentido dizer que é preciso pedir perdão a um ser humano ao ofendê-lo e não ser necessário pedir perdão a Deus quando o ofendemos. Se houve arrependimento é porque se quer e se precisa de perdão. A Bíblia vincula, liga como causa e conseqüência o arrependimento e o perdão e não podemos rejeitar a Bíblia. 

Em Atos 3: 19 o arrependimento vem antes do “cancelamento do pecado” = perdão, se não se arrepende, muda a mente e o coração, se não sente tristeza pelo pecado, seguido de confissão não há perdão. 

O perdão não é automático, mesmo na justificação pela fé é preciso buscá-lo. Ele está disponível, já foi dado como provisão, mas nem todos o recebem pois nem todos o buscam pela confissão e arrependimento. 

Mesmo o convertido já justificado pela fé pode vir a pecar e então precisará de propiciação = perdão. A vinculação de arrependimento e perdão tem muitos exemplos bíblicos (At 2: 38; 5:31; 11:18; 26:15-18). 

Se o perdão fosse automático e não fosse necessário buscá-lo no sentido de se apoderar dessa provisão divina, não seria necessário arrependimento. Para que me arrepender e sentir tristeza pelo que não existe, foi apagado, já está perdoado? 

Se o perdão é automático, não há pecado a ser confessado, nem é preciso arrependimento. A Bíblia estaria ensinando e o Espírito Santo operando algo inútil. Afinal, Pedro também reafirma o ensino bíblico de pedir perdão quando recomenda a Simão o mago a arrepender-se e rogar (= pedir) perdão. 

O mesmo ensina João ao recomendar pedir pelo pecado do irmão quando este pecado não for para a morte, assim, ao pedir em favor de um irmão que não pecou para a morte Deus dará a vida ao pecador alvo das intercessões dos irmão. Ou seja, pedir perdão até para os pecados dos outros. I João 5:16.

8. A oração do Pai Nosso está válida até os nossos dias?

Sim, por várias razões:

a) Não há nenhuma declaração explícita de Jesus nos evangelhos ou em qualquer outra parte da Bíblia dizendo que a validade do Pai Nosso era limitada.

b) Ao contrário, Jesus afirmou que se deveria pregar TUDO o que ele havia ensinado inclusive o Pai Nosso. (Mat. 28:20)

c) Também Jesus disse que o Espírito Santo faria lembrar não uma parte, mas TUDO o que ele ensinou aos discípulos (João 14:26)

d) Se abolirmos a parte que fala do perdão, por ele ser oferecido ao pecador na Cruz, então tudo o que já foi oferecido e garantido por Deus no passado não deve ser pedido mais, assim não podemos pedir nada a Deus pois ele já sabe tudo o que precisamos e já garantiu a nós todas a bênçãos que podemos pedir. 

Para que pedir pela volta de Jesus (venha o Teu Reino) se Deus já garantiu isso? 

Para que pedir para santificar o nome de Deus se Ele já o santificou? 

Para que falar em fazer a Sua vontade se Ele a faz mesmo que não peçamos? 

Para que pedir pão de cada dia se ele garante nos dar? 

Para que pedir para não cair em tentação se com a tentação Deus já manda o livramento? 

Para que pedir para livrar do mal se Jesus está conosco todos os dias? 

Para que orar se ele sabe tudo? 

Para que ir a igreja se ele está em todo lugar? 

E assim poderíamos prosseguir. Deus provê tudo mas a oração nos prepara para receber o que ele proveu. 

Como diz Paulo “em tudo sejam vossas petições conhecidas diante de Deus”. A Bíblia manda orar em muitos lugares pedindo todas essas coisas. Tiago diz para pedir. Tiago 4:2. 

Se seguíssemos o argumento de que o que Deus já garantiu não deve ser pedido então nem oração e nem igreja e nem mesmo a conversão de almas deveria ser pedida. Nem alívio de sofrimento e nem de tribulação alguma. Deveríamos sofrer sem nada fazer nem orar, pois Deus tudo já garantiu. Mesmo assim a Bíblia manda pedir todas essas coisas!

e) A petição do perdão encontra-se fora do Pai Nosso e em passagens depois da morte de Jesus como já vimos. 

Abolir o Pai Nosso ou parte dele implica para ser coerente que deve-se buscar na Bíblia as passagens que reafirmam o Pai Nosso ou suas porções e aboli-las também.

f) Infelizmente alguns querem abolir uma parte do Pai Nosso da mesma forma que outros querem abolir uma parte dos dez mandamentos (sábado) sem perceberem as implicações doutrinárias e espirituais.

“E se sabemos que Ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito”.I João 5:15.

Tal passagem não teria sentido em relação não só a pedir perdão, mas a qualquer outra coisa seja material ou espiritual, pois não diz a Bíblia que Deus já garantiu que em Cristo “nos dará todas as coisas?” 

Se todas as coisas foram prometidas e garantidas por Jesus para que pedir conforme diz o texto acima?

Se alguém pecar podemos pedir a Ele, que nos oferecerá a propiciação (= perdão).

A graça (misericórdia, perdão) do Senhor Jesus seja com todos.
Amém!

Pr. Demóstenes Neves
SALT/IAENE