A natureza pré e pós lapsariana de Cristo

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Nesse artigo você confere um análise sobre a Condição Humana de Jesus na Bíblia e nos Escritos de Ellen G. White.

Os ASD mantém uma posição cristológica fundamentalista e histórica. Admitimos que Jesus Cristo é “verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, da mesma essência do Pai de acordo com a divindade, e da mesma essência nossa de acordo com a humanidade.”
É crido igualmente que, ao encarnar e viver a vida humana, o Filho de Deus assumiu, justo como nós, uma humanidade sensível às tentações de Satanás, mas, bem ao contrário de nós, sem jamais ter pecado

NATUREZA HUMANA DE JESUS


Todavia, que tipo de natureza humana foi assumida por Ele? 

Pré-lapsariana, isto é, idêntica a de Adão antes da queda? ou Pós-lapsariana, isto é, idêntica à nossa?

Ambas as hipóteses contam com apoio bíblico. 

Pré-Lapsariana:


Hebreus 7:26 – “Sumo sacerdote santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores” 

João 14:30 – “Vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em Mim”

Pós-Lapsariana:


Hebreus 2:14 e 17 – Ele teve “participação comum de carne e sangue”  

Romanos 8:3 – Deus enviou Seu Filho “em semelhança de carne pecaminosa” 
Igualmente o Espírito de Profecia favorece a uma e outra hipótese. 

Determinadas referências contém um claro sentido pré-lapsariano, enquanto outras parecem indicar o contrário. 

As citações se harmonizam e fazem emergir um conceito cristológico equilibrado, condizente, antes de tudo, com as Escrituras. 

Demonstrá-lo é o propósito deste estudo.

As seguintes citações têm sabor pré-lapsariano. <Ênfase suprida>


“Cristo veio à Terra assumindo humanidade e colocando-Se como representante do homem para mostrar na controvérsia com Satanás que o homem como Deus o criou em comunhão com o Pai e o Filho, poderia obedecer cada requerimento divino.” (“Tempted in All Points Like as We Are,” Signs of the Times, 9 de junho de 1898.)

“Cristo é chamado o segundo Adão. Em pureza e santidade, unido com Deus e amado por Deus, Ele começou onde o primeiro Adão começou. Ele cruzou o chão onde Adão caiu, e redimiu o fracasso de Adão.” ( “The Second Adam,” Youth’s Instructor, 2 de junho de 1898.)

“Ele venceu Satanás na mesma natureza sobre a qual no Éden Satanás obteve a vitória.” (“After the Crucifixion,” Youth’s Instructor, 25 de abril de 1901.)

“Ele devia tomar Sua posição como cabeça de humanidade ao tomar a natureza, mas não a pecaminosidade do homem.” (“God’s Purpose for Us,” Signs of the Times, 29 de maio de 1901.)

“Sede cuidadosos, excessivamente cuidadosos quanto a como vos ocupais com a natureza humana de Cristo. Não o coloqueis diante do povo como um homem com as propensões do pecado. 

“Ele é o segundo Adão. O primeiro Adão foi criado puro, impecável, sem uma mancha de pecado sobre si; ele era a imagem de Deus... Jesus... poderia ter caído, mas nem por um momento existiu nEle uma propensão má... 

“Nunca, de forma alguma, deixe a mais leve impressão sobre as mentes humanas que uma mancha de corrupção, ou inclinação para a corrupção apegou-se a Cristo, ou que Ele de alguma forma cedeu à corrupção.

“Que cada ser humano seja advertido contra a ideia de tornar Cristo totalmente humano tal como um de nós; isto não pode ser.” (SDABC, V:1128, 1129.)

Destas citações infere-se que Cristo é o segundo Adão e como tal era diferente de nós, não possuindo a mácula do pecado, natural a nós desde que somos gerados (Salmo 51:5).

Ele era isento das tendências carnais e pecaminosas que marcam a nossa vida.

Para Ellen G. White, expressões como “pecaminosidade do homem,” “propensões para corrupção,” “mancha de corrupção,” “propensão má,” e “propensões do pecado,” são, nesse contexto, mais ou menos equivalentes. Nenhuma destas coisas se fez presente em Jesus.

Outras citações implicam a realidade pós-lapsariana. <Ênfase suprida>


“A natureza de Deus, cuja lei tinha sido transgredida, e a natureza de Adão, o transgressor, reuniram-se em Jesus – o Filho de Deus e o Filho do homem.” (SDABC, VII:926.)

“Cristo, que não conhecia o mínimo vestígio de pecado ou contaminação, tomou nossa natureza em seu estado deteriorado.” (Mensagens Escolhidas ,  I:253.)

“Ele tomou sobre Sua natureza impecável, nossa natureza pecaminosa.” (Medicina e Salvação, 81)

“Estava no plano de Deus que Cristo tomasse sobre Si a forma e natureza do homem caído.” (Spirit of Prophecy, II:39.)

Estas citações deixam claro que Cristo assumiu uma natureza humana desfigurada pelo pecado, portanto idêntica à nossa. 

Como harmonizar os dois grupos de citações?


Bem, Cristo não pode ter tido duas naturezas humanas, uma imaculada e outra corrompida. Se é isto que Ellen G. White está afirmando, então ela se contradiz. Mas seguramente não é este o caso. A questão é se entendemos corretamente o que está sendo declarado. 

Na verdade, os conceitos pré e pós lapsarianos, no contexto da Bíblia e do Espírito de Profecia, não se contradizem nem se excluem; eles se complementam. Caso contrário, não possuiriam, ambos, o aval da inspiração.

Tomemos como exemplo a penúltima declaração referida. A escritora não pode estar afirmando que Jesus tomou nossa natureza pecaminosa sobre Sua natureza impecável no sentido de que Ele passou a ter duas naturezas humanas, uma que já era Sua e outra que tomou de nós. 

Aliás, o sentido do verbo inglês to take (tomar), seguido da preposição upon (sobre), como aparece no original, é, segundo um dos mais credenciados dicionários deste idioma, “aceitar a responsabilidade por; aceitar como responsabilidade ou dever.” (“To take upon,” Webster’s Dictionary of the English Language, Encyclopedic Edition, 1972), II: 1859)

A ideia é que Cristo Se submeteu à situação do homem no pecado, para conhecer, por experiência, as lutas de um pecador, e por esse meio habilitar-Se a prestar-lhe uma ajuda eficaz. 

Na seqüência, a citação favorece tal pensamento: “Ele tomou sobre Sua natureza sem pecado a nossa pecaminosa natureza, para saber como socorrer os que são tentados.” (Medicina e Salvação, 181.)

O mesmo ocorre quanto à quarta citação: 

“Ao tomar a natureza humana, Cristo habilitou-Se a entender a natureza das provações humanas, e todas as tentações que assediam o homem. 

“Os anjos, que não estavam familiarizados com o pecado, não poderiam simpatizar-se com o homem em suas provações peculiares... 

“Estava no plano de Deus que Cristo tomasse sobre Si a forma e natureza do homem caído, para que pudesse Se aperfeiçoar através do sofrimento [o que não poderia acontecer com Adão antes da queda], e Ele mesmo suportasse a força das ardentes tentações de Satanás, a fim de que pudesse entender como socorrer aqueles que seriam tentados.” (Spirit of Prophecy, II:39.)

Cristo assim participou das conseqüências do pecado (às quais todos estamos sujeitos), inclusive das debilidades por ele causadas, mas não do próprio pecado. O escritor sagrado alude a esse fato e seu propósito, da seguinte forma:

“Pois naquilo que Ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados.” Hebreus 2:18

Então, num texto paralelo, ele acrescenta que, para tanto, Ele não precisou participar do pecado. 

“Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi Ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4:15).

A fórmula “sem pecado” é chave para a compreensão do que está sendo afirmado. Não nos é dito apenas que Jesus não pecou, mas que Ele foi, como nós, tentado em tudo, todavia “sem pecado”, isto é, sem jamais ter participação no pecado. 

Certamente Jesus nunca praticou o pecado, mas o que Lhe toca por realidade é mais que isso. O original grego reza chōrís hamartías, à parte do pecado, estranho ao pecado; Ele jamais foi, em essência, um pecador.

Chōrís hamartías, “sem pecado”, é o que o escritor sagrado registrou. Esta fórmula é nominal e deve ser vista em contraste com chōrís hamartánein, fórmula verbal que significa “sem pecar”.

Em outras palavras, isso é mais que afirmar que Jesus não cometeu pecado. O escritor de Hebreus está dizendo que Ele não possuía pecado!

Como diz B. F. C. Atikinson, em referência à Hebreus 4:15, “Sua [de Jesus] natureza imaculada não continha nada que correspondesse à tentação, como ocorre conosco.” (The Theology of Prepositions , 5.)

Ou, então, nos termos de Paulo: Ele “não conheceu o pecado” (II Cor 3:21). Repetindo, isso é mais que não pecar ; aponta para uma natureza humana moralmente imaculada.

Impecabilidade e Debilidade: Os Conceitos em Harmonia


Um terceiro grupo de citações esclarece definitivamente o assunto. <Ênfase suprida>

“Jesus aceitou a humanidade quando a raça havia sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado.” (O Desejado de Todas as Nações, 33.)

No mesmo parágrafo ela afirma que Cristo subordinou-Se à lei da hereditariedade. O conceito chave desta citação é humanidade enfraquecida.

“Separada da presença de Deus, a família humana, a cada geração sucessiva, estivera se afastando mais e mais, da pureza, sabedoria e conhecimentos originais, que Adão possuía no Éden. Cristo suportou os pecados e fraquezas da raça humana tais como existiam quando Ele veio à Terra para ajudar o homem. Em favor da raça, tendo sobre Si as fraquezas do homem caído, devia Ele resistir as tentações de Satanás em todos os pontos em que o homem seria tentado.” (Mensagens Escolhidas, I:267, 268.)

Aqui é afirmado que Jesus não veio no vigor de Adão antes da queda. Ele assumiu uma natureza humana enfraquecida física, mental e espiritualmente pelo pecado, e venceu o inimigo nesta condição. 

“É um irmão em nossas fraquezas, mas não em possuir idênticas paixões. Sendo sem pecado, Sua natureza recuava do mal.” (Testemunhos Seletos, I:220.)

Com estas palavras, são apresentados os dois lados da moeda. “...em nossas fraquezas” implica condição pós-lapsariana, enquanto “não em possuir idênticas paixões,” e “sem pecado” implicam condição pré-lapsariana. 

Cristo arcou com uma humanidade enfraquecida pelo pecado, mas moralmente era imaculado. João 14:30 afirma que o diabo não encontrava, em Jesus, eco para as suas tentações. 

Mais algumas citações realçam o necessário equilíbrio entre os dois aspectos:

“Ele era incontaminado pela corrupção, um estranho ao pecado [condição pré-lapsariana]; contudo orava, e freqüentemente com grande clamor e lágrimas. Orava por Seus discípulos e por Si mesmo, identificando-Se assim com nossas falhas que são tão comuns à humanidade [condição pós-lapsariana]. 

“Era um poderoso intercessor, não possuindo as paixões de nossa natureza humana caída [condição pré-lapsariana], mas rodeado das mês-ma fraquezas, tentado em tudo como nós [condição pós-lapsariana]. Jesus suportou a agonia que requeria ajuda e apoio de Seu Pai [condição pós-lapsariana].”

“Ao tomar sobre Si mesmo a natureza do homem em Sua condição caída [condição pós-lapsariana], Cristo não teve a mínima participação em seu pecado [condição pré-lapsariana]. Não deveríamos ter nenhuma dúvida com respeito à perfeita impecabilidade da natureza humana de Cristo [condição pré-lapsariana].”

“Vestido nas vestimentas da humanidade, o Filho de Deus desceu ao nível daqueles a quem Ele desejava salvar. Nele não hávia qualquer mancha ou pecaminosidade ; Ele foi sempre puro e imaculado [condição pré-lapsariana]; entretanto tomou sobre Si nossa natureza pecaminosa [condição pós-lapsariana].”

É evidente, nesta citação, que “tomar nossa natureza pecaminosa” não significa, para Ellen G. White, que Ele adquiriu pecaminosidade. Na citação anterior é feita alusão à perfeita impecabilidade da natureza humana de Jesus. 

“Ele nasceu sem uma mancha de pecado [condição pré-lapsariana], mas veio ao mundo em maneira igual a da família humana [condição pós-lapsariana].”

CONCLUSÃO


Na abertura deste estudo perguntou-se: Que tipo de natureza humana foi assumida por Jesus? Pré-lapsariana ou pós-lapsariana?

Segundo o que foi visto, a melhor resposta é: nem somente uma, nem somente outra. Mas ambas.

Ele era moralmente imaculado tal como Adão antes da queda. Fisicamente, porém, era semelhante a nós. A maneira como estas duas realidades coabitaram em Jesus, uma sem prejuízo da outra, não pode, a exemplo do que ocorre com qualquer particularidade da encarnação, ser inteiramente apreendida. 

Mas uma coisa é certa: este é mais um detalhe peculiar da singularidade de Jesus. Nenhum ser humano jamais foi, é, ou será exatamente como Ele. Todavia, Ele foi autenticamente humano como qualquer um de nós.

É óbvio que Ellen G. White afirma que Jesus Se subordinou às restrições impostas pelos efeitos do pecado na raça humana desde a queda, a partir da qual a natureza humana foi se tornando mais e mais debilitada. 

Tal natureza humana, assim afetada pelo pecado, foi assumida por Ele.

Mas ao mesmo tempo, Ele não herdou a mancha do pecado, a inclinação para o mal, que costumamos chamar de natureza carnal, pecaminosa, e que atinge a cada ser humano. Santidade plena e fragilidade de homem caído se fizeram presentes em Jesus Cristo. Esses dois aspectos de uma única natureza foram nEle combinados numa forma singular, para capacitá-lo a ser o Redentor.

Fosse apenas imaculado e não participasse de nossa experiência como vítimas do pecado, e não poderia ser nosso Substituto. 

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Baixe aqui os slides dessa palestra:

Participasse de nossas dores e não da imacularidade de Adão antes da queda, e não poderia ser o nosso Salvador; teria de padecer em função de Si mesmo.

Isaías 53 alude a este fato quando O chama de Justo ao tempo em que afirma ter Ele levado sobre Si as iniquidade de mundo! (v. 11)

“Não houve uma só gota de nossa amarga miséria que Ele não provasse, parte alguma de nossa maldição que não sofresse, a fim de que pudesse levar a Deus muitos filhos e filhas.” (Mensagens Escolhidas, I:253)

Fonte: Dr. José Carlos Ramos