Como entender o Sábado citado em Colossenses 2:16

sabado colossenses 2-16

A epístola aos Colossenses continha uma mensagem para uma igreja feita quase que totalmente de gentios convertidos, ali havia pelo menos 5 heresias buscando infiltração que Paulo combateu por meio de sua carta, eram elas:

1 Cerimonialismo: Que ensinava a guardar regras severas a respeito dos tipos permissíveis de comida e bebida, das festas religiosas (2:16,17) e da circuncisão (2:11 e 3:11)

2 Ascetismo: proibição de não provar, não tocar e não manusear determinadas coisas. (2:21,23)

3 Adoração a anjos. (2:18)

4 Depreciação de Cristo: Alguns procuravam negar a divindade de Jesus, por isso Paulo enfatizou tanto a explicação da origem eterna de Cristo nos capítulos 1 e 2.

5 Gnosticismo: Essa era a mãe da heresias introduzida por Simão, o mago, (At 8:9) na igreja primitiva. Que em sua forma inicial estava misturada com o judaísmo legalista. É interessante levar isso em conta quando formos entender as palavras de Paulo. 

É um erro aplicar a passagem de Colossenses 2:16 como argumento para abolir o Sábado dos 10 mandamentos tendo em vista que não era essa a questão teológica envolvida na igreja de Colossos, isso se deduz analisando o contexto histórico.

Hoje as igrejas evangélicas utilizam esse versículo para debater contra Adventistas que insistem na obediência ao Sábado, mas quando Paulo o escreveu ele não se referia a esse tipo de debate, e sim, estava a combater algum tipo de interpretação gnóstica das genealogias e festas judaicas que setavam sendo ensinadas aos colossenses.

Pedro é enfático ao dizer que Paulo:

"... ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles." (2 Pedro 3:16)

Vejamos a seguir, em 10 parágrafos, como o texto em análise não autoriza qualquer noção de fim do preceito do sábado ou do Decálogo como norma cristã, e como nem a abolição do princípio do sábado ou da validade da lei dos 10 Mandamentos como normativa aos cristãos sequer é o tema de Paulo nesta passagem.




10 DIFICULDADES NA INTERPRETAÇÃO DE COL. 2:14-16


1a. – Valer-se do condenável recurso de formar doutrina sobre um texto bíblico isolado, de sentido debatível em vários aspectos, o que não é a forma mais saudável de buscar entender o conteúdo bíblico.

- Obs.: Os católicos também se apegam a Mat. 16:18 para “provar” que Pedro foi o primeiro papa, os mórmons a 1a. Cor. 15:29 para defenderem o “batismo pelos mortos”, e as “testemunhas de Jeová” citam João 14:19 para negarem a vinda de Cristo gloriosa no futuro, todas essas sendo interpretações condenadas pelos evangélicos conservadores.

2a. – Não levar em consideração o contexto imediato da passagem, que ajuda a esclarecer o tema que o autor realmente tem em vista, que NÃO É abolição de leis, e sim do registro de culpa ('cheirographon', “escrito de dívidas”) que pesa contra um filho de Deus.

- Obs.: O exame deste texto deve começar do vs. 13, onde Paulo acentua que os crentes ali foram perdoados pelo que Cristo realizou em seu favor, não por ter abolido alguma parte da lei. A palavra “lei” jamais ocorre em toda a epístola, pois Paulo simplesmente não está querendo tratar de abolição de lei nenhuma, muito menos de uma parte da Lei Moral dos 10 Mandamentos. Ademais, as culpas não são desfeitas por abolir leis que as apontem.

3a. – Colocar Paulo desfazendo o próprio princípio de dedicar um dia ao Senhor, como se isso se tornasse contrário à fé, o que, inclusive, contraria as conclusões científicas dos benefícios físicos e mentais do princípio de ter essa pausa de um dia na semana. 

- Obs.: Em Mar. 2:27 Cristo diz que “o sábado foi feito por causa do homem-'anthropós', universal (não o mero homem judaico), o que a cristandade sempre reconheceu como significando que esse princípio é benéfico para o homem tanto física, quanto mental e espriritualmente. Paulo sabia de tais benefícios na fiel observância do sábado. Por que iria indispor-se contra isso?

4a. – Colocar Paulo contradizendo a Jesus Cristo, pois Este confirmou as origens edênicas do sábado em Mar. 2:27, o que faz a instituição ter caráter moral e universal.

- Obs.: Lutero, Calvino e, mais tarde, Wesley, bem como os mais representativos documentos confessionais protestantes/evangélicos, como a Confissão de Fé de Westminster, a Confissão de Fé Batista de 1689, comentaristas bíblicos clássicos, como Albert Barnes, John Gill, Adam Clarke, Matthew Henry, reconhecem tais origens edênicas para o sábado com base em Gên. 2:2, 3. Inclusive, mais modernamente, obras da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), como sua Biblia de Estudo Pentecostal e outras obras.

5a. – Ignorar que Paulo nunca diz que se deixe de observar o sábado para passar a observar, seja o domingo, seja adotar a filosofia mais “user friendly” e popular de dianenhumismo/diaqualquerismo/tododiaísmo.

- Obs.: O silêncio de Paulo quanto ao que ficaria no lugar do supostamente abolido princípio do sábado é, sem dúvida, um tremendo embaraço aos que utilizam Col. 2:16 como indicando o fim de tal mandamento, e sem saberem definir o que de melhor (ou igual) fica no lugar. 

6a. – Ignorar que Paulo não está falando de que quem observa o sábado não deve julgar os que não observam, num sentido forçado do texto, e sim que os crentes de Colossos não se deixassem influenciar pelos extremistas locais. Estes é que os julgavam e queriam impor-lhes regras quanto à forma de como praticar sua religião, seus hábitos alimentares e sua observância de dias sagrados.

- Obs.: O vs. 18, em boas traduções, declara: “Ninguém se ponha de árbitro contra vós”. Isso está em consonância com a preocupação expressa pelo Apóstolo no vs. 8, “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo”. Este tipo de linguagem jamais se aplicaria ao sábado, que nada tem a ver com “tradição dos homens” nem com “rudimentos do mundo”.

7a. – Ignorar que Paulo fala que só a Igreja--o corpo de Cristo--é que teria direito de fazer qualquer julgamento sobre a prática religiosa dos colossenses, não seus “árbitros” extremistas locais, os tais do “não toques, não proves, não manuseies” (vs. 21).

- Obs.: Na cláusula, “mas o corpo é de Cristo”, o é vem em itálico em traduções várias que se preocupam em demarcar os termos que não constam do original, mas os tradutores acrescentaram. O sentido real da sentença é--“mas o corpo de Cristo”, ou seja, a Igreja, é que teria condições de julgar os crentes de Colossos.

8a. – Insistir com uma palavra isolada, “sombras”, para deturpar o sentido das palavras paulinas, alegando que o sábado foi abolido por ser mera “sombra” do descanso da salvação em Cristo. Mas não há base bíblica para tal conceito quanto ao sábado. 

- Obs.: O texto mais usado para provar isso, Mat. 11:28,29, fala em “descanso para as vossas almas”. Confundir descanso espiritual com o princípio de descanso físico e mental é uma aberração não só teológica quanto de lógica. O fato é que os antissabatistas simplesmente não sabem como definir biblicamente de que o sábado seria sombra.

9a. – Ignorar que a interpretação tradicional de que os “sábados” seriam os cerimoniais, não o sábado da Lei Moral, não é só dos adventistas, mas de autoridades evangélicas ao longo dos séculos, como o metodista Adam Clarke, o presbiteriano Albert Barnes, e os batistas Jamieson, Fausset e Brown.

- Obs.: A interpretação alternativa de que o texto trata mesmo dos sábados semanais, como acentuado pelo Dr. Samuele Bacchiocchi, não complica nada, pois no campo teológico há margem para interpretações diferentes para um mesmo texto. Isso é até salutar, pois se buscam novas soluções para problemas exegéticos. Ademais, a intenção do Dr. Bacchiocchi é demonstrar que mesmo considerando-se os “sábados” como os semanais, o texto não prova sua anulação.

10a. – Não saber o que fazer com a questão sábado/domingo, pois se há mandamento a respeito de dedicar um dia ao Senhor, esse não pode ser transformado em mera “sugestão”, ou prática voluntária. 

O próprio termo “mandamento” implica o sentido de regra, preceito, lei, ordenança. Não existe “mandamento” como algo voluntário, que tanto faz ser cumprido como não.

- Obs.: A ambiguidade entre evangélicos a respeito é evidente, pois certas horas “provam” que o domingo tomou o lugar do sábado como “memorial da Ressurreição”, com textos que nada dizem sobre isso. Noutros momentos, alegam que não há mais dia nenhum obrigatório a se observar, o que revela um fato: a falta total de convicção de que o domingo realmente tomou o lugar do sábado bíblico por causa da Ressurreição.

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Baixe também esse artigo explicativo de Leandro Quadros sobre Col. 2:16

Fonte: Esse artigo é parte de um compêndio produzido pelo Prof. Azenilto Brito